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Leitura: "Deus é o existirmos, e isto não ser tudo"

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Leitura: "Deus é o existirmos, e isto não ser tudo"

Os 50 anos do boletim "Igreja em diálogo", publicado pelo movimento Graal entre 1965 (ano da conclusão do Concílio Vaticano II) e 1977, vão ser assinalados com a edição do livro "Deus é o existirmos, e isto não ser tudo".

O volume, que a Paulinas Editora lança esta terça-feira, em Lisboa, apresenta «ensaios de doze teólogos e teólogas portugueses e estrangeiros, de participantes do Graal de fora e de dentro, que, ao contrário do então "Boletim", são maioritariamente leigas e mulheres», explica o texto de apresentação.

Neste "número único" do "Igreja em Diálogo" foi pedido a cada autor que tratasse de uma das questões a seu ver mais presentes e significativas no mundo atual, na sua própria área de reflexão, trazendo aos leitores algo desafiador para ser pensado e agido», acrescenta a nota.

Alguns dos textos são inéditos, enquanto outros já tinham sido publicados, caso em que foram recompostos pelos autores especialmente para esta obra, que reúne «teólogos, filósofos, cientistas sociais e culturais, padres, leigos e bispos, escolhidos – com ousadia e fidelidade à matriz cristã – por pensarem à frente do seu tempo» nos cinco continentes, lê-se na introdução, assinada por Maria Allegro de Magalhães.

O livro abre com a reflexão de Alison Healey (Sydney), "Para fora do Império", em que a autora, a partir do Antigo Testamento e de comentários de biblistas, coloca o leitor «perante a existência de duas atitudes religiosas»: «uma religião da Criação e uma outra do Império».

«Andrés Torres Queiruga (Santiago de Compostela) escreve sobre "o milagre da liberdade humana"», ao passo que Marian Ronan (Nova Iorque) faz uma recensão ao livro "Ask the beasts: Darwin and the God of love", de Elizabeth Johnson (2014), que expõe «os pontos de vista ecofeministas» da teóloga católica norte-americana e estabelece ligações com a encíclica "Laudato si'", do papa Francisco.

Por seu lado, Anita Saisi (Milão) retoma «um dos temas que "Igreja em Diálogo" assumira em 1975, pensando-o, agora, a partir da segunda década do século XXI: "De uma fé idealista a uma fé transformadora"».

A bússola volta-se seguidamente para o continente africano, com Anne Hope (Cidade do Cabo) «a narrar uma parte da história da gradual, mas rápida, expansão do trabalho de "formação para o desenvolvimento" que, em contexto Graal em África, levou a cabo com Sally Timmel, e que teve e continua a ter impacto em muitos outros países».

A inculturação do Evangelho, ou a sua ausência, em Moçambique é o tema pensado por Ida Alvarinho (Maputo), no texto "Evangelização num mosaico intercultural: percurso de um diálogo (des)conseguido?".

Teresa Toldy (Porto) reflete sobre o «escândalo de Lampedusa», causado pela tentativa de chegada de migrantes à ilha italiana, que tem provocado centenas de mortos em naufrágios no mar Mediterrâneo.

Em "A religião não é para mulheres" Fr. Bento Domingues «aborda a baixa intensidade da presença de mulheres na Igreja, tanto enquanto porta-vozes do pensamento eclesial como na orientação das celebrações litúrgicas», questionando essa situação «a partir dos Evangelhos».

Pearl Drego (Nova Deli) «elaborou uma leitura estimulante» de cada um dos três textos da Liturgia da Palavra de 8 de março de 2015, Dia Internacional da Mulher, enquanto Lucia Ramón Cardonell (Valência), com o texto "Eco-justiça e cuidado em verde e violeta", propõe uma «reflexão profunda e instigante sobre o futuro do planeta Terra, dado o desrespeito e o descuido para com a vida».

Lorna Bowman (Toronto) faz uma reflexão sobre as mulheres na Igreja inspirado na frase "o Espírito sopra onde [Ela] quer", e, por fim, Maria Carlos Ramos (Golegã-Holanda) medita sobre a presença «responsável dos leigos, homens e mulheres, na Igreja e no mundo», além de mencionar as «características singulares do Graal enquanto movimento de mulheres cristãs».

O propósito do "Igreja em Diálogo" era ampliar «o conhecimento das ideias e propostas conciliares, contribuindo assim – enquanto movimento de mulheres cristãs – para uma formação aprofundada e crítica de cristãos», mediante a «circulação de textos que tratavam matérias de teologia, liturgia, eclesiologia, compromisso social, envolvimento na vida da "pólis"».

No Portugal da ditadura «esses textos não tinham entrada livre, o que estimulava o interesse por conhecê-los. Esses boletins foram (e são ainda) um manancial de ideias e posicionamentos: eclesiais e societais, teológicos e espirituais, evangélicos e políticos» que permanecem atuais.

«No campo da reflexão teológica, figuram textos vindos de muitas das correntes das teologias desses anos, da Europa e de outras partes do mundo: desde a teologia das realidades terrestres, à da esperança, à teologia política, às teologias contextuais, como é o caso das teologias da libertação, sobretudo na América Latina, com o seu enorme potencial de mudança para um mundo mais habitável, mais justo e alegre para todos», assinala a introdução.

Na década de 1960 o contributo do Graal em Portugal «foi, antes de mais, o da formação de diferentes camadas da sociedade, em particular a de jovens – rapazes e raparigas, profissionais, outras pessoas de Portalegre, Coimbra, Lisboa, Porto e de aldeias nos seus arredores: trabalhadores urbanos, suburbanos e rurais».

«A formação levada a cabo pelo Graal envolvia uma aprendizagem de análise crítica da sociedade como das formas da vida eclesial, chamando, em especial, as mulheres, a agir o seu estar-no-mundo, enquanto pessoas autónomas, como cidadãs e cristãs responsáveis», sublinha Maria Allegro de Magalhães.

Naquela época, as mulheres do Graal eram «convidadas pela hierarquia da Igreja a fazer a formação quer de leigos quer do clero no País. Tanto nos seminários maiores de Lisboa, Coimbra, Porto, onde iam as responsáveis primeiras do Graal na altura (Maria de Lourdes Pintasilgo, Teresa Santa Clara Gomes, Jacqueline Devémy, Teresinha Tavares, entre outras mais), como nos seminários menores, por todo o País», sem esquecer a presença «em muitas paróquias urbanas e rurais».

A «triangular preocupação do Graal, que procurava um pleno desenvolvimento do ser das mulheres, uma sua posição crítica e ativa na sociedade, uma atitude interventiva e inventiva na Igreja pós-conciliar, terá sido o que possivelmente tornou singular a presença do Graal em Portugal».

"Deus é o existirmos, e isto não ser tudo - 50 anos do boletim 'Igreja em diálogo'" é apresentado pelo jornalista António Marujo no dia 16 de fevereiro, às 18h00, no Centro do Graal em Lisboa (Rua Luciano Cordeiro, 24 - 6.º A).

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 13.02.2016

 

Título: Deus é o existirmos, e isto não ser tudo - 50 anos do boletim "Igreja em diálogo"
Autor: Graal
Editora: Paulinas
Páginas: 184
ISBN: 978-989-673-503-6

 

 
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Os autores foram escolhidos «com ousadia e fidelidade à matriz cristã – por pensarem à frente do seu tempo» nos cinco continentes
O propósito do "Igreja em Diálogo" era ampliar «o conhecimento das ideias e propostas conciliares, contribuindo assim – enquanto movimento de mulheres cristãs – para uma formação aprofundada e crítica de cristãos», mediante a «circulação de textos que tratavam matérias de teologia, liturgia, eclesiologia, compromisso social, envolvimento na vida da "pólis"»
No Portugal da ditadura «esses textos não tinham entrada livre, o que estimulava o interesse por conhecê-los. Esses boletins foram (e são ainda) um manancial de ideias e posicionamentos: eclesiais e societais, teológicos e espirituais, evangélicos e políticos» que permanecem atuais
«A formação levada a cabo pelo Graal envolvia uma aprendizagem de análise crítica da sociedade como das formas da vida eclesial, chamando, em especial, as mulheres, a agir o seu estar-no-mundo, enquanto pessoas autónomas, como cidadãs e cristãs responsáveis»
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