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A beleza também salvará a Síria: Padre leva paz e reconciliação através da música

A beleza também salvará a Síria: Padre leva paz e reconciliação através da música

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O jogo de futebol disputado no fim de janeiro e vencido pela equipa do Al-Ittihad contra a de Hurriya distingue-se como símbolo de normalidade numa cidade devastada por quase cinco anos de guerra duríssima. Alepo, que já foi capital financeira da Síria, símbolo de beleza e fermento cultural, está reduzida a escombros. Templos maravilhosos danificados irremediavelmente - como a grande mesquita, que perdeu o histórico minarete do séc. XI -, doze igrejas destruídas, mais de metade das casas condenadas. Mas sobretudo dezenas de milhares de mortos e feridos, centenas de milhares obrigados à fuga. A zona oriental, feudo dos rebeldes anti-governamentais, onde 250 mil pessoas viveram durante anos sob ataque, é hoje uma cidade fantasma. Ainda que hoje esteja suspenso por apoios internacionais, pelo menos hoje, em quase toda a cidade, vive-se em paz. Os combates, para além de todas as considerações políticas, cessaram. E Alepo, entre mil dificuldades, torna a respirar.

«Não vai acreditar - sorri o P. Yeghiche Elias Janji, sacerdote armeno-católico de Alepo, responsável pela igreja da Santa Cruz, diretor de orquestra sinfónica e musicólogo que nos anos da guerra realizou concertos em várias cidades sírias -, mas a música representou para mim e para muitas pessoas um sinal de grande esperança, a certeza de que alguma coisa de superior, de espiritual, de profundamente belo existe sempre, para lá do horror. Para mim foi um tempo terrível mas também muito positivo: estive junto de muitas pessoas, partilhei com elas os sofrimentos, procurei consolar e encontrar sentido para algo de inexplicável e desenvolvi muitos relacionamentos verdadeiros».



«Será importante recrear as condições humanas, bem como estruturais, do nosso povo. Todos nós, ainda hoje, ao mínimo rumor saltamos convencidos de que é uma bomba. De noite despertamos de pesadelos. O apoio da Europa será fundamental, até para fazer compreender à nossa gente que os países europeus estão do lado do povo, da paz, para além dos alinhamentos políticos.»



Antes da guerra a maioria dos cristãos de Alepo vivia na zona oeste da cidade, a mesma em que reside o P. Elias. De 2012 em diante chegaram de outros bairros atacados ou bombardeados (mas a partir de certo momento também essa região foi pesadamente atingida), cidadãos de outras confissões e pertenças. Rapidamente a escassez ocasional de bens primários se transformou em carência crónica e continua a ser muito difícil. «Falta água em grande parte da cidade, a energia elétrica é pouca há mais de um ano e meio, agora é fornecida por empresas privadas e é cara, quem não pode permitir-se tê-la permanece ao escuro ou ao frio, o gasóleo está praticamente esgotado».

Ao observar os números oficiais, enquanto se esperam os resultados das cimeiras de Astana e Genebra, fica-se chocado. Os mortos são mais de 300 mil (mas o Syrian Center for Policy Research fala de 470 mil vítimas). Calcula-se que 11,5% da população da Síria tenha sido ferida, enquanto que 45% foi obrigada a fugir para o Líbano, Jordânia, Turquia, Europa. Mais de 117 mil pessoas foram detidas ou desapareceram. Mas há também uma boa notícia: segundo estimativas da ONU, cerca de 40 mil pessoas estão a organizar-se para regressar às suas casas, por muito destruídas ou inabitáveis que esteja. O número subirá nos próximos meses pelo impulso natural para reencontrar o ambiente de origem e um pouco de tranquilidade.

«Será importante recrear as condições humanas, bem como estruturais, do nosso povo. Todos nós, ainda hoje, ao mínimo rumor saltamos convencidos de que é uma bomba. De noite despertamos de pesadelos. O apoio da Europa será fundamental, até para fazer compreender à nossa gente que os países europeus estão do lado do povo, da paz, para além dos alinhamentos políticos.» Quanto ao resto, segundo o P. Elias, muito pode fazer a música. Depois de ter tocado o "Requiem", de Mozart, em Damasco, com a orquestra filarmónica de Alepo, diante de uma multidão composta por várias confissões - cristãos, sunitas, xiitas, drusos - e a "Grande Missa" na sua igreja em Alepo (tornada agora a principal, depois da destruição da catedral), prepara-se para andar em digressão pela Síria levando a sua mensagem de beleza e de paz.



 

Luca Attanasio
In "Vatican Insider"
Trad.: SNPC
Publicado em 29.03.2017 | Atualizado em 30.04.2023

 

 
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