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A vertigem de Belém: o Todo-Poderoso num recém-nascido

A vertigem de Belém: o Todo-Poderoso num recém-nascido

Imagem "A natividade" (det.) | Arthur Hughes | Museu e Galeria de Arte de Birmingham, Reino Unido | D.R.

José subiu (...) da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém (...), a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. (...)
Imediatamente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados». (Do Evangelho da missa da noite de Natal, Lucas 2, 1-14)

Este é para vós o sinal: encontrareis uma criança: «Todos querem crescer no mundo, cada criança quer ser homem. Cada homem quer ser rei. Cada rei quer ser "deus". Só Deus quer ser criança» (Leonardo Boff).

Deus na pequenez: é esta a força explosiva do Natal. O homem quer subir, comandar, tomar. Deus, ao contrário, quer descer, servir, dar. É o novo ordenamento das coisas e do coração.

Havia por lá alguns pastores. Uma nuvem de asas, de canto e de palavras felizes os envolve: não temais! Deus nunca deve fazer medo. Se faz medo, não é Deus aquele que bate à porta da tua vida. Deus desarma-se num recém-nascido. O Natal é o cortejamento de Deus que nos seduz com uma criança. Quem é Deus? «Deus é um beijo», caído na terra no Natal (Benedetto Calati).



É muito belo que Lucas anote esta visita única, um grupo de pastores, a cheirar a lã e a leite. É belo para todos os pobres, os últimos, os anónimos, os esquecidos. Deus recomeça por eles



Anuncio-vos uma grande alegria: a felicidade não é uma miragem, é possível e está próxima. E será para todo o povo: uma alegria possível a todos, mesmo a todos, mesmo para a pessoa mais ferida e cheia de defeitos, não só para os mais corajosos ou para os mais sérios.

E eis a chave e a fonte da felicidade: Hoje nasceu-vos um salvador. Deus veio trazer não tanto o perdão, mas muito mais: veio trazer-se a si próprio, luz na escuridão, lume no frio, amor dentro do desamor. Veio para trazer o cromossoma divino à respiração de cada homem e de cada mulher. A própria vida de Deus em mim. Síntese última do Natal. Vertigem.

E sobre a Terra paz aos homens: pode haver paz, melhor, haverá seguramente. Os violentos hão de destruí-la, mas a paz voltará, como uma primavera que não se deixa perturbar pelos invernos da história. Aos homens que Ele ama: todos, tal como somos, por aquilo que somos, bons e menos bons, amados para sempre; um a um, ternamente, sem arrependimentos.



Meus Deus, meu Deus menino, pobre como o amor, pequeno como um pequeno homem, humilde com a palha onde nasceste, meu pequeno Deus que aprendes a viver esta nossa mesma vida



É muito belo que Lucas anote esta visita única, um grupo de pastores, a cheirar a lã e a leite. É belo para todos os pobres, os últimos, os anónimos, os esquecidos. Deus recomeça por eles.

Natal é também uma festa dramática: para eles não havia lugar na hospedaria. Deus entra no mundo desde o mais baixo, a par com todos os excluídos. Como escreve o padre David Turoldo, Deus fez-se homem para aprender a chorar. Para navegar connosco neste rio de lágrimas, até que a sua e a nossa vida sejam um só rio. Jesus é o choro de Deus, feito carne. Por isso rezo:

Meus Deus, meu Deus menino, pobre como o amor, pequeno como um pequeno homem, humilde com a palha onde nasceste, meu pequeno Deus que aprendes a viver esta nossa mesma vida. Meu Deus incapaz de agredir e de fazer mal, ensina-me que não há outro sentido para nós, não há outro destino senão tornar-me como Tu.



 

Ermes Ronchi
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 24.12.2016

 

 
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