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Afirmação do cristianismo não passa pela «inibição cultural» nem pela «sobranceria judicativa»

Afirmação do cristianismo não passa pela «inibição cultural» nem pela «sobranceria judicativa»

Imagem Alvaro German Vilela/Bigstock.com

O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) considera que a pertinência do cristianismo não passa nem pela «inibição cultural» nem pela «sobranceria judicativa».

«O caminho há de ser o da atenção esclarecida, o da responsabilidade de discernimento em contexto de relatividade das convenções, o do diálogo compreensivo entre a autenticidade e a fundamentação dos valores», declara José Carlos Seabra Pereira ao "Correio de Coimbra".

Estas orientações requerem, dentro da Igreja, «mais formação de leigos e consagrados, mais iniciativas de afirmação e questionação, mais condições para assumir a iniciativa no debate de ideias e na descoberta da renovação estética», sublinha, em entrevista escrita, ao semanário da diocese coimbrã.

Na véspera da 13.ª Jornada da Pastoral da Cultura, que decorre este sábado, em Fátima, sobre o tema "Out of the box - A relação dos jovens com a Cultura", o responsável salienta que «a vertente da comunicação estará no centro dos debates, como coração das relações interpessoais e condição primeira de vivência partilhada da criatividade no pensar e no fazer artístico».

No encontro «vão-se cruzar e aferir» a visão «dos jovens de hoje com a perspetiva que representantes desses mesmos jovens têm do que é hoje a sua forma de estar no mundo e a sua experiência cultural».



O cristianismo «tem sido perene e atual razão de demanda de novas formas de interrogação fundamental sobre o sentido transcendente da vida, sobre o alcance da dor e da ternura, da dúvida e da conquista de um princípio de verdade», e «permanece uma inesgotável fonte de energias amorosas que fulguram no pensamento e nas artes»



Questionado sobre o relacionamento da Igreja com a Cultura, o investigador e docente da Universidade de Coimbra recorda que o catolicismo católica tem sido um espaço vivo de cultivo do saber e da escrita que, por integração superadora, do Humanismo clássico, tornam o Homem mais humano, mais consciente do processo histórico de aperfeiçoamento da Consciência em ordem à plenitude da Verdade, da Bondade e da Beleza», além de ter sido «promotora da criatividade artística, por entre os equívocos de idolatria e os assomos de iconoclastia».

«Mas devemos reconhecer também que, sobretudo com o advento da Modernidade e a expansão dos seus fenómenos de autonomia das esferas de saberes e de valores, tal como com a progressiva relativização dos critérios de discernimento e dos cânones artísticos, a Igreja católica (que neste campo como nos demais não forma um todo de homogénea reação e atuação…) manifesta muitas vezes dificuldades em relacionar-se de forma lúcida e eficaz com os domínios efervescentes da Cultura», acrescenta.

Apesar destes obstáculos, subsistiram sempre «vínculos fecundos da identidade aberta e da vida plural das comunidades católicas com o Conhecimento e a Arte coevas», e nas décadas mais recentes está a renovar-se «o diálogo compreensivo com essas áreas – consideradas até como áreas de fronteira das potencialidades humanas e domínios privilegiados de evangelização do valor divino do humano».

Para José Carlos Seabra Pereira, o cristianismo «tem sido perene e atual razão de demanda de novas formas de interrogação fundamental sobre o sentido transcendente da vida, sobre o alcance da dor e da ternura, da dúvida e da conquista de um princípio de verdade», ao mesmo tempo que «permanece uma inesgotável fonte de energias amorosas que fulguram no pensamento e nas artes».  



Seabra Pereira está a ultimar o "Roteiro de estudos pessoanos", o volume de ensaios "Prismas identitários", sobre representações de Portugal na literatura moderna e contemporânea, e um livro sobre "Presença do cristianismo" na literatura contemporânea



Referindo-se à atividade do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o diretor destaca que «participa em múltiplas atividades promovidas por outras entidades da sociedade civil ou da Igreja».

«O próprio SNPC promove ou comparticipa na realização de vários eventos culturais, tais como, na área do cinema por exemplo, o Indie Lisboa, nalguns casos instituindo Prémios que distinguem experiências inéditas de criação artística. Por outro lado, no respeito pela dinâmica peculiar de cada diocese, o SNPC procura contribuir para a emergência e a  articulação de atividades culturais através do país; e, nesse sentido, realiza reuniões periódicas com os chamados “Referentes culturais” mandatados pelos Senhores Bispos», assinala.

Definindo-se como «homem de convicções e de causas», de «fé e de cultura», Seabra Pereira diz ser «um homem de família (numerosa) e de imperfeita, mas persistente, "milícia prestante" (como dizia Camões) na fraterna partilha dos dons que Deus» lhe faculta.

Depois de ter concluído a coordenação, em parceria, de "Portugal católico - A Beleza na diversidade", volume que nas suas 800 páginas reuniu a colaboração de 190 autores, o professor de Teoria Literária e Literatura Portuguesa Moderna está a ultimar o "Roteiro de estudos pessoanos", o volume de ensaios "Prismas identitários", sobre representações de Portugal na literatura moderna e contemporânea, e um livro sobre "Presença do cristianismo" na literatura contemporânea.

Também no domínio da investigação, Seabra Pereira realça que ter recebido o Prémio de ensaio “Jacinto do Prado Coelho” (Associação Internacional de Críticos Literários), em 2015, por "Aquilino – a escrita vital", e em 2016 o Prémio de ensaio “Eduardo Prado Coelho” (Associação Portuguesa de Escritores), pelo livro "O delta literário de Macau", constitui «razão inestimável de contentamento e de acrescida motivação».



 

SNPC
Fonte: "Correio de Coimbra"
Publicado em 04.06.2017

 

 
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