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Lançamento do CD "Dieterich Buxtehude (1637-1707): Órgão da Sé Catedral de Faro"

O concerto de lançamento do CD "Dieterich Buxtehude (1637-1707): Órgão da Sé Catedral de Faro", pelo organista Rui Paiva, decorrerá no próximo dia 17 de Novembro, às 21h30, na Sé de Faro, assinalando o tricentenário da morte do compositor, figura maior do Barroco norte-alemão.

Trata-se de uma edição da Academia de Música de Santa Cecília de Lisboa, que conta com o apoio da Direcção Regional de Cultura do Algarve, da Caixa de Crédito Agrícola do Algarve e do Cabido da Sé.

Rui Paiva, organista e cravista, é professor de Órgão na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa e director da Academia de Música de Santa Cecília. Como intérprete, tem abordado sobretudo o repertório dos séculos XVI a XVIII, em concertos e recitais a solo, integrado em diversos grupos, e em numerosas edições discográficas.

O CD é acompanhado por um livro ilustrado, numa edição especial, com textos de João Pedro d'Alvarenga (Universidade de Évora) e fotografias de Telma Veríssimo.

A par do concerto de lançamento, no dia 17 de Novembro estará patente uma exposição fotográfica que vai permitir apreciar pormenores do Órgão.

 

O Órgão da Sé de Faro

Actualmente colocado em tribuna própria, sob o topo do arco adjacente ao coro alto do lado do Evangelho, de face para a nave, é um instrumento de concepção original tipicamente norte-alemã, das primeiras décadas do século XVIII, com a fachada dividida horizontalmente, correspondendo às secções independentes do grande órgão e do positivo de frente. A consola tem, respectivamente, dois teclados manuais, com os puxadores dos registos ordenados de ambos os lados.

O positivo possui portas de acesso sobre a consola. A metade superior da caixa, mais larga, mostra a canaria (recuada relativamente à posição original) disposta em três torres salientes de progressão triangular. A talha e a estatuária são ao estilo do barroco hamburguês e o douramento e a decoração em chinoiserie sobre fundo rubro é da autoria do tavirense Francisco Correia da Silva e datada
de 1751-52. As palhetas horizontais, dispostas em três leques na moldura média da fachada, o reduzido teclado-pedal de nove notas e os pisantes foram-lhe acrescentados na segunda metade do século XVIII.

O instrumento – juntamente com o órgão gémeo que, desde 1752, se encontra na Sé de Mariana, perto de Ouro Preto, no estado brasileiro de Minas Gerais – tem sido objecto de alguma controvérsia relativamente à sua origem, autoria e posteriores intervenções, carecendo de um completo e actualizado estudo histórico e organológico, que principiou a desenvolver-se na sequência da revisão geral empreendida pelo organeiro Dinarte Machado em 2006.

O instrumento foi construído em Lisboa entre os finais de 1715 e 1716, ficando depois colocado no coro-alto da Sé, cuja escada de acesso o Cabido mandou que fosse mudada «para acento do órgão».

Possivelmente por causa do sismo de 1722, violentamente sentido no Algarve e que originou a ruina do arco do coro (reconstruído em 1725), o instrumento foi então instalado na tribuna onde hoje se encontra. Há posteriormente registo de trabalhos no órgão, empreendidos por um artífice anónimo de Tavira entre 1743 e 1745.

Antes do Terramoto de 1755, o instrumento continuava em mau estado, de modo que em reunião do Cabido de Faro de Setembro desse ano, o Arcediago de Lagos propôs que se confiassem as reparações ao organeiro que temporariamente se encontrava a trabalhar em Monchique. Este organeiro era o genovês Pasquale Gaetano Oldovini, com residência e oficina em Évora. É possível que Oldovini tenha ido nesse ano a Faro reparar os foles do órgão, porque há registo de pagamentos no Livro das Despesas das Obras da Sé feitos ao «mestre Organeiro de Monxique» pelo «Concerto do Orgao», já depois do Terramoto. Oito anos mais tarde, em 30 de Julho de 1763, Oldovini foi de novo a Faro examinar o instrumento, concluindo que apenas a secção do positivo de frente funcionava, encontrando-se tudo o resto arruinado. Na ocasião, pediu 600.000 reais pela reparação e dez moedas de ouro para a construção de um pequeno instrumento que pudesse ser usado no exterior (possivelmente, o órgão datado de 1763 que hoje se encontra na Capela de Nossa Senhora da Conceição). O trabalho de reparação foi-lhe adjudicado em 10 de Junho de 1767. Pelos termos do contrato, firmado com o Cónego Garfias da Sé de Évora por procurador do Cabido de Faro, Oldovini recebeu os tubos velhos, obrigando-se a acrescentar ao órgão uma Oitava Real, uma Quinta Décima, uma Décima Sétima, um Cheio de dois por ponto, outro de três por ponto, uma Voz Humana, uma Corneta e um Clarim para a mão direita e uma Trombeta Real de 12 palmos para a mão esquerda.

A intervenção de Pasquale Gaetano Oldovini resultou, não só na ampliação do instrumento, mas na sua remodelação, aproximando-o das características tonais e funcionais dos órgãos italo-portugueses. Além da reconstrução do órgão principal, utilizando em grande número a canaria de Hulenkampf (cujas marcas são distintas das de Schnitger), e da adição dos jogos contratados, Oldovini partiu e redispôs os registos do positivo e dotou o instrumento de uma pequena pedaleira de nove teclas acoplada ao manual I, para o que aproveitou os tubos de 12 palmos da fachada original, fazendo-os soar no registo de 24 palmos da mão esquerda, como tapados. Provavelmente no curso dos trabalhos, ou em ocasião posterior, aplicou também a Trombeta de Marcha na fachada, para ajudar a compensar o relativo desequilíbrio na mão esquerda, criado pela
Trombeta Real e pelo Clarim da mão direita.

O restauro por D. A. Flentrop, nos anos de 1972-73, consistiu na reposição da presumível composição do instrumento ao tempo da intervenção de Oldovini, removendo elementos adicionados no século XIX e em reparações posteriores. As palhetas originais foram integralmente substituídas e o instrumento foi afinado com um temperamento tendencialmente igual.

Em 2006, o órgão encontrava-se muito sujo, com pó e pedra de caliça, a alimentação do vento era insuficiente, uma vez que o fole principal estava montado no fundo do coro-alto, a 12,7 metros do instrumento, a harmonização revelava-se desadequada e persistiam problemas de mecânica, quer dos teclados, quer da registação. A intervenção do organeiro Dinarte Machado consistiu, resumidamente, no seguinte: construção de dois foles, de tamanho idêntico aos originais, cujas medidas foram tiradas de um conjunto de pregas de um fole de cunha existente. Estes foles foram assentes numa estrutura de suporte colocada na parte posterior da tribuna por detrás do órgão, resolvendo definitivamente o problema do débito e da pressão do vento. Limpeza do instrumento, lavagem dos tubos, levantamento das tampas dos someiros para verificação do seu estado e correcção da mecânica. Afinação, mantendo o diapasão original, com um temperamento desigual semelhante ao proposto por Herbert Anton Kellner, e rearmonização geral.

 

Sé de Faro - Igreja de Santa Maria

Situada na Vila-Adentro, no Largo da Sé, a Igreja Matriz de Santa Maria foi mandada construir após a Reconquista Cristã (sécs. XIII-XIV), por D. João Viegas, Arcebispo de Braga, que, para o efeito, enviou para Faro os dominicanos Frei Paio e Frei Pedro. Algum tempo depois, foi entregue à Ordem Militar de São Tiago, que promoveu diversas intervenções, sendo as duas capelas góticas e o primeiro piso da torre fronteira à fachada principal, marcas do século XV.

No ano de 1577, tornou-se sede do assento episcopal, tendo o Bispo e o Cabido vindo de Silves. Em 1596, este templo foi arruinado, devido às invasões das tropas inglesas do Conde de Essex, que saquearam e incendiaram toda a cidade.

Reconstruíram-se as colunas e os respectivos arcos, tendo-se mantido diversas capelas, que foram remodeladas nos séculos XVII e XVIII. Os terramotos de 1722 e 1755 motivaram, igualmente, importantes campanhas de obras.
Os Bispos e o Cabido, assim como as Confrarias do Santíssimo, das Almas e de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, promoveram a ornamentação das próprias capelas.

Da construção original apenas ficaram o portal principal, a torre que domina a fachada principal e duas capelas do cruzeiro.

O interior é composto por três naves, com colunas de ordem toscana. Capela-mor com valioso retábulo, cadeiral e duas telas italianas. Capelas colaterais do Santíssimo Sacramento, com paredes e retábulo central revestidos a talha e quatro telas do séc. XVIII, e do Santo Lenho, com magnífica talha, um importante conjunto de relicários e o túmulo do bispo fundador (séc. XVIII), que constituem duas das melhores manifestações da talha barroca no Algarve. 

Entre as capelas laterais, merecem destaque as dedicadas a Nossa Senhora da Conceição e São Domingos, revestidas com azulejos e que mantiveram a estrutura gótica; a capela de Nossa Senhora dos Prazeres, pequena jóia da arte barroca na sua talha, mármores com embutidos, azulejos e pintura; e a capela de Nossa Senhora do Rosário, associada à Confraria que, desde o séc. XVI, agrupava os nativos africanos, com retábulo de talha dourada, painéis de azulejos figurativos do final do séc. XVII e dois curiosos e muito raros lampadários figurando negros (séc. XVIII).

Capela-mor e paredes laterais do templo revestidas com azulejos polícromos de tapete do séc. XVII.

Região Sul : notícia do lançamento do CD

João Pedro d'Alvarenga (Universidade de Évora) : texto sobre o Órgão da Sé de Faro

Freguesia da Sé-Faro / Portal de Turismo do Algarve : texto sobre a Sé

© SNPC - Publicado em 08.11.2007

 

 

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