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Bragança

Ateliê de iconografia: Arte e espiritualidade

O traço é minucioso, exige-se exato, preciso, cirúrgico, mas por trás dos contornos dos desenhos dos ícones está a fé, algo bem diferente da racionalidade científica, porque é do domínio do coração e da crença em algo maior. «A comunhão permanente com Deus.» Os ícones são, para quem os labora, a palavra viva da presença de Deus.

É assim a arte de Tânia Pires, 33 anos,  a única iconógrafa da região [de Bragança], das poucas do país. A jovem brigantina, residente em São Pedro dos Sarracenos, dedica-se no século XXI a uma arte monástica que, há uns séculos, estaria enclausurada entre os muros de mosteiros, onde, pacientemente, monges dedicados à contemplação e à oração traduziam o amor a Deus na escrita do que chamam ícones.

Tânia há muito nutre uma paixão pela iconografia religiosa, mas só desde 2010 é que esta passou a fazer parte da sua vida, ao ponto de quase ter posto de parte outras linguagens artística e estéticas, como o desenho e a Land Art, que ainda faz, todavia «com menos intensidade», confessa. A arte religiosa ganhou terreno na sua vida.

 

Presença constante é a Bíblia

A Bíblia é presença constante na bancada de trabalho, ao lado dos pincéis e das tintas. O lado transcendente atraiu-a desde cedo. Explica esta sua devoção à escrita dos ícones pela «beleza, harmonia e paz» que estes lhe transmitem. «Enquanto escrevo um ícone vou orando, meditando a palavra, o Evangelho que representa, ou uma passagem do Evangelho”, revelou ao "Mensageiro". Escolhe os ícones que escreve pelo que pretende trabalhar em si mesma e conhecer de si própria.

Há um intenso trabalho interior. «Na Páscoa trabalhei o tema da Ressurreição, na Paixão de Cristo trabalho a crucificação, ou a transfiguração», acrescentou. As imagens sagradas já existem, o iconógrafo faz a sua interpretação tal como um músico interpreta uma partitura. Recria mas não foge ao cânone. «Não podemos fugir muito da estrutura dos ícones. Têm regras. Não fazemos cópias, mas sim a interpretação”, descreve.

FotoFoto: Mensageiro

 

Métodos ancestrais

A técnica da iconografia é antiga. Tânia Pires segue quase à risca as velhas técnicas dos iconógrafos cristãos. O método original. Utiliza uma emulsão, que é a têmpera, feita com gema de ovo junta com vinho; mais os pigmentos, cujas cores são feitas por ela; pinta sobre madeira, com uma preparação à base de tela e gesso. «É um processo demorado, extenso e paciente», conta.

Mais do que a comercialização dos trabalhos, que são belos e apelativos, move-a a busca interior, a reflexão que faz até chegar à escrita de ícones. «É um trabalho essencialmente interior, que depois também quero passar para fora, para dar a conhecer e para evangelizar», acrescentou. Já expôs as obras em Bragança, Miranda do Douro e Açores.

 

Tudo começou com um retiro

A iconografia apareceu-lhe pela frente num retiro religioso em França, onde lhe perguntaram se queria escrever um ícone. «Comecei assim», recordou. Antes de chegar onde está, há um percurso académico na área das artes. Licenciou-se em Educação Visual e Tecnológica (2001) e posteriormente em Artes Plásticas/Escultura pela Faculdade de Belas Artes do Porto (2009). Na mesma faculdade frequentou o 1º ano do Mestrado de Desenho (2009) e concluiu o Curso de Mestrado em Escultura em 2010. É docente no Agrupamento de Escolas Miguel Torga, em Bragança.

 

Atividade paralela, mas não um passatempo

A iconografia é uma atividade paralela, a que dedica «o máximo de tempo possível» e que não é de todo um hobby, tanto mais que é arte exigente. Além da escrita em si mesma, existe todo um trabalho de investigação e estudo da simbologia da iconografia. Muita reflexão e maturação. «É a necessidade que eu tenho de fazer isto. O meu interesse passa por interpretar a relação da simbologia na imagem em comunhão com Deus», admite.

Tânia Pires, escolheu ser iconógrafa, uma artista que exprime a religiosidade em imagens de rara beleza que não pinta, «mas escreve» em ícones. Rara é também já esta arte que segue os cânones e a tradição.

 

 

 

Glória Lopes
In Mensageiro, 8.5.2014 (c/ SNPC)
Vídeo: RTP
19.05.14

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FotoFoto: Mensageiro

 

 

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