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“Bonecos de Estremoz”, com origem na espiritualidade cristã, são Património Imaterial da UNESCO

“Bonecos de Estremoz”, com origem na espiritualidade cristã, são Património Imaterial da UNESCO

Imagem Ricardo Fonseca, o mais jovem ceramista dos Bonecos de Estremoz | Foto: Rosário Silva/RR

A UNESCO classificou hoje como Património Cultural Imaterial da Humanidade a produção dos "Bonecos de Estremoz", em barro, arte popular com mais de três séculos que se acredita ter na origem a espiritualidade cristã.

Os bonecos, de que há referências desde os princípios do séc. XVIII, «tiveram certamente início na necessidade espiritual, ou seja, o povo queria ter em casa os santinhos da sua devoção», lê-se na página da Câmara Municipal de Estremoz.

«Comprá-los em talha era impossível, dadas as dificuldades do quotidiano, pelo que, supomos, uma mulher habituada a lidar com o barro se terá atrevido a modelar pela primeira vez um santinho da sua devoção particular e daqui terá nascido a tradição, numa terra onde o barro era abundante», refere a autarquia.

A produção das figuras foi-se consolidando, passando-se às cenas do nascimento de Jesus, concebidas segundo a influência «do gosto presepista Escola de Mafra de setecentos».

«Os presépios eruditos, observados nos Conventos e casas abastadas, depressa foram adaptados à mundividência popular das bonequeiras», daqui tendo nascido a Sagrada Família (Jesus, Maria e José), os magos, os ofertantes regionais «e um vasto reportório, como o “Pastor a comer”, o “Pastor a dormir”, a “Mulher das Galinhas”, o “Pastor com o cabrito às costas”, entre outros», que hoje “sobrevivem” fora do presépio.

De acordo com o município alentejano, modelam atualmente bonecos as Irmãs Flores, Fátima Estróia, Afonso e Matilde Ginja, Duarte Catela e Ricardo Fonseca (os homens começaram a envolver-se na arte a partir do séc. XIX).

Recorrendo às técnicas tradicionais, mas modelando com formas contemporâneas e locais, trabalham Isabel Pires, Jorge da Conceição e Célia Freitas/Miguel Gomes, refere a Câmara Municipal.

A classificação da "Produção de Figurado em Barro de Estremoz", vulgarmente conhecida como "Bonecos de Estremoz", foi decidida na 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) para Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorre na ilha Jeju, na Coreia do Sul, até sábado, assinala a agência Lusa.

Trata-se do «primeiro figurado do mundo a merecer a distinção de Património Cultural Imaterial da Humanidade», na sequência da candidatura apresentada pela edilidade, que teve como responsável técnico o diretor do Museu Municipal de Estremoz, Hugo Guerreiro.

«Com mais de uma centena de figuras diferentes inventariadas, a arte, a que se dedicam vários artesãos do concelho, consiste na modelação de uma figura em barro cozido, policromado e efetuada manualmente», indica a agência noticiosa.

 

Presépios em Estremoz e Lisboa

Além da cidade alentejana, onde as figuras podem ser vistas em permanência, Lisboa acolhe três presépios em barro de Estremoz, dos séculos XVIII, XIX e XX, patentes no Museu Antoniano, em Lisboa, ilustrando a relação «entre a representação da Natividade, com os tradicionais tronos de Santo António».

As peças para a exposição, que pode ser vista até 7 de janeiro junto à basílica de Santo António, foram cedidas pelo Museu Municipal Professor Joaquim Vermelho, que preparou a candidatura do figurado de barro de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade

A mostra apresenta um presépio do século XVIII, de autor desconhecido, outro do século XIX, também de autor desconhecido, e um último das décadas de 1970/1980, de autoria de José Moreira e Josefina Moreira.

Hugo Guerreiro está convicto de que a representação da Natividade no concelho «terá surgido primeiramente nos conventos», tendo a Ordem Franciscana desempenhado «um papel importante no seu desenvolvimento, dado que foram estes frades que propagaram a arte do presépio pela Europa, desde Itália, a partir do século XIII».

«Dos conventos passaram às casas nobres locais e daqui o gosto pela adoração do Deus Menino foi adotado pela burguesia e povo», acrescentou.

A tradição declinou no século XIX, devido ao «secularismo», mas ganhou novo impulso a partir de 1935, «sob influência do escultor José Maria Sá Lemos, diretor da Escola de Artes e Ofícios da cidade».

A partir da segunda metade do século XX, a cena da Natividade foi «adotada por todos os barristas em atividade e é hoje incontornável para qualquer um dos artesãos», explicou Hugo Guerreiro.



 

SNPC
Publicado em 07.12.2017

 

 

 
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