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"Brotéria" dedica novo número à ciência e religiosidade, televisão, lusofonia e literatura

A mais recente edição da “Brotéria – Cristianismo e Cultura”, publicada ininterruptamente desde 1902 pelos Jesuítas em Portugal, continua a manter a abrangência nos conteúdos, propondo no número de abril artigos que se centram na relação entre Deus e a ciência, a importância da televisão, o projeto da Lusofonia e uma análise à riqueza linguística do escritor José Cardoso Pires.

«Com a publicação da “Origem das Espécies” de Charles Darwin em 1859, a questão da relação entre Ciência e Fé – que, até então, fora sempre tacitamente encarada de modo que a primeira desempenhasse o papel de mero suporte às imanentes verdades da segunda – sofreu uma brusca e inquietante alteração: a sólida racionalidade da teoria da evolução das espécies vivas parecia, agora, vir substituir-se às indiscutíveis verdades da Fé, desde sempre tomadas como eternas.»

Este é o ponto de partida do artigo do brasileiro A.L. Leite Videira, professor catedrático jubilado da Universidade de Évora, para quem a ciência pode «facilitar, e até mesmo apontar, o caminho para a Transcendência», embora a fé tem de situar-se «para além da Ciência».

O artigo intitulado “Se há ciência, para quê Deus” cita o físico britânico Fred Hoyle, que em 1982 defendeu que «uma interpretação sensata dos factos sugere que um intelecto superior tenha manipulado a Física, a Química e a Biologia, de modo a que não faça sentido falar na existência de forças cegas na Natureza», dado que «os números calculados a partir dos factos» asseguram, «quase que inquestionavelmente» essa conclusão.

“Televisão: um perigo para a Democracia?” é o questionamento proposto por Rui Marques, do Instituto P. António Vieira, que na introdução alude às «teses otimistas» que viam naquele média «uma revolução capaz de transformar o mundo, sublinhando a sua capacidade educativa das “massas”», a par das opiniões «catastrofistas» que o apontam «como causa de todos os males».

Depois de analisar o pensamento de Popper, Bourdieu e Ramonet, o autor constata que «a televisão é obrigada a ser um espelho» da sociedade e aponta algumas das «influências essenciais a que a «caixa que vai mudando com o mundo» está sujeita: «velocidade», «ciclos curtos», «Império do Novo», «abundância e diversidade», «prazer», «interatividade», «mobilidade» e «os novos anciãos».

A televisão «é também causa/origem», mas «apenas acessoriamente», sublinha Rui Marques, que acrescenta: «Ao invés dos pessimistas, acreditamos ser possível o desenvolvimentgo de mecanismos específicos – que podem e devem ser reforçados – para influenciar decisivamente os conteúdos e formatos televisivos, na sua dimensão de causa/origem, sem ter de abdicar de valores como a liberdade de expressão, a diversidade da oferta e a concorrência entre modelos distintos».

Em “Lusofonia e globalização: a possibilidade de refazer utopias”, José Eduardo Franco começa por realçar que «as línguas são organismos vivos e são, por excelência metamórficas»: «nascem, crescem, modelam-se e modelam, perduram… Muitas desaparecem ou, na maior parte, transmutam-se noutras línguas, sempre numa permanente demanda da “língua perfeita”».

«As línguas agarram-se à nossa pele, povoam o nosso sangue, fazem parte de nós, são da nossa carne. Por isso, é custosa a mudança que se queira fazer à língua que bebemos com o leite materno. Mudar a língua que aprendemos é como mudar o corpo. Arrancar letras ou acentos das palavras que fomos habituados a marcar com ternura ou com violência é como se nos arrancassem um membro», assinala o investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

O projeto da Lusofonia, conclui, não pode perder de vista convicção» de que ela, «mais tarde ou mais cedo há de dar lugar a outra coisa, a outra ou a outras línguas», consciência que é «importante para curar a tentação dos fundamentalismos» que ocorrem «sempre que de uma justa e justificada preservação da língua se trate».

Mariagrazia Russo, da Universidade da Tuscia de Viterbo, reflete sobre “José Cardoso Pires, ‘O Anjo Ancorado’ e o Portugal dos anos 50: uma viagem entre estruturas e registos linguísticos”, começando com uma citação do escritor português: «A primeira condição para escrever bem é saber gramática, a segunda é esquecê-la. Em tudo quanto se ama há o desejo de corromper. Corromper no bom sentido, de estragar descobrindo».

«Para Cardoso Pires, as palavras possuem (…) perfumes e sabores, tal como denotam um facto cultural e transparecem um conteúdo emocional. O autor não se limita a definir o nível de língua popular por oposição ao erudito, o formal e o informal: penetra mesmo nos respetivos ambientes sociais para transmitir a diversidade de cada um deles», assinala a docente.

O leitor, por seu lado, é chamado a participar nessa «oficina do conto, a interagir linguisticamente com o autor, o narrador e as personagens através de uma nova dimensão expressiva numa constante viagem de leituras e releituras do texto.»

Nas “Notas breves”, a escritora Teolinda Gersão comenta o livro “De Riba-Côa a Roma”, de Alcides Augusto Gouveia, obra que «surpreende de forma positiva», enquanto que na secção “Revisitando a Brotéria” é republicado o artigo “Repensar Portugal”, que o padre jesuíta Manuel Antunes escreveu em maio de 1974, menos de um mês após o 25 de Abril, revolução que instaurou o regime democrático.

 

Rui Jorge Martins
© SNPC | 21.05.14

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