«No balanço surpreendente entre o peso da pedra, as suas proporções e a luz, a de Souto Moura atinge a perfeição»: é com estas palavras que Guta Moura Guedes, presidente da associação responsável pela ExperimentaDesign, se refere à capela do português que integra a presença do Vaticano na Bienal de Veneza de Arquitetura.
«Escrevo após ter regressado da semana inaugural, onde centenas de exposições, entre as representações nacionais, as das curadoras e os vários programas paralelos, foram apresentadas. De tudo isto, ocupa-me a memória uma aparentemente simples exposição: "Vatican Chapels", assinala no mais recente texto da sua coluna semanal no "Expresso".
A mostra da Santa Sé «não é uma exposição habitual, por vários motivos. Comissariada por Francesco Dal Co, foi encomendada pelo Vaticano. Sinal dos tempos, sim, mas a Igreja Católica sempre se relacionou com a cultura», escreve a especialista em design.
«Não é uma exposição de maquetas ou de desenhos, tão frequentes em arquitetura, formatos que marcaram fortemente esta edição [da Bienal]. Não, o que vem os, resultado do convite a dez estúdios que o curador endereçou, são pequenas capelas mas à escada real, arquitetura na sua própria escala», aponta.
Com esta formato naquela que é «a mais importante bienal cultural do mundo», sublinha Guta Moura Guedes, «o espaço experimenta-se, e a possibilidade de sentirmos o impacto do desenho construído no nosso corpo concretiza-se, sem nada que o mediatize».
«Poucos convites desafiam tanto um arquiteto como o de construir um local dirigido à procura da espiritualidade humana e à busca da existência de algo que nos transcende e que na verdade não conhecemos», observa.
Efetivamente, «os locais de fé são todos sagrados, seja qual for a fé religiosa que os marca. Não porque saibamos da existência concreta de algum deus - eu pelo menos não sei - mas porque celebram a possibilidade de querermos ir mais além, de sermos espírito e também bondade».