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«Com Bento XVI reaprendi a ouvir e a reconhecer a voz da Igreja entre os pensadores e os artistas»

«Com Bento XVI reaprendi a ouvir e a reconhecer a voz da Igreja entre os pensadores contemporâneos e entre os artistas», diz o presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica, Joaquim Azevedo.

O também diretor do Secretariado da Pastoral da Cultura da diocese do Porto recorda que o papa defendeu que «a Igreja precisa dos artistas porque, como mestres, tornam acessível, compreensível e comovedor o mundo do espírito, do invisível, do inefável, de Deus».

Em depoimento enviado ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, Joaquim Azevedo sublinha que a voz da Igreja tem de fazer ouvir-se na «cultura hegemónica, que tem de ir muito para além do aniquilamento do ser humano, da sua dignidade e da beleza; na paz e na justiça, que tem de constituir a nova prioridade na globalização; e no diálogo intercultural e inter-religioso».

«Como eu entendo o sublime gesto de humildade e beleza de Bento XVI, ao comunicar-nos que a Igreja precisa de uma voz enérgica e vigorosa, que ele já não tem!», refere.

As perguntas e as respostas, na íntegra.

 

Como avalia o papel de Bento XVI no que diz respeito à relação que procurou manter com o mundo do pensamento e das artes, nomeadamente com artistas e tendências que se situam fora da Igreja Católica?

Com Bento XVI reaprendi a ouvir e a reconhecer a voz da Igreja entre os pensadores contemporâneos e entre os artistas. A Igreja, disse-o o Papa, precisa dos artistas porque, como mestres, tornam acessível, compreensível e comovedor o mundo do espírito, do invisível, do inefável, de Deus. E perguntava, já em 2009: o que pode dar entusiasmo e confiança, o que pode encorajar o ânimo humano, a elevar o olhar para o horizonte, a sonhar uma vida digna da sua vocação, a não ser a beleza?

Os pensadores e os artistas são chamados a interrogar os assuntos dados por fechados, a “transfigurar o real, a libertar a vida quotidiana da obscuridade,” introduzindo-lhe o “sobressalto da beleza” de que precisamos como de pão, ensinam-nos “a colher o tudo no fragmento, o infinito no finito”.

 

Quais devem ser as orientações e prioridades que o próximo papa deve assumir nesse mesmo campo do pensamento e das artes?

Não sei quem será o próximo Papa, nem faço qualquer esforço em o adivinhar. Mas conheço alguns dilemas do mundo atual face aos quais o próximo Papa pode representar uma voz cálida, inteligente, firme, profética, de esperança.

O mundo está sedento de esperança e de luz, tal é a escuridão em que nos deixamos mergulhar. Depois da morte de Deus, promovemos a morte do homem e agora investimos quase tudo na preparação do mundo pós-humano.

Só pode continuar a dar mau resultado esta deriva humanista sem seres humanos, de proliferação de humanismos sem eu nem tu, de promoção de uma vida sem morte, de endeusamento da tecnologia e da fantasia sem realidade,  de gigantesco cansaço de informação sem qualquer discernimento, de futuro sem presente.

Há um bloqueamento na cultura contemporânea hegemónica, demasiado dependente dos valores da economia de mercado, subordinada à eficácia, amiga do relativismo e do utilitarismo, enfeudada à moral do consumo, que “compra” a ética sobretudo como estratégia legitimadora, para rotular práticas e modelos a ela bastante estranhos.

A voz profética da Igreja de Cristo precisa de se proclamar em três temas: na cultura hegemónica, que tem de ir muito para além do aniquilamento do ser humano, da sua dignidade e da beleza; na paz e na justiça, que tem de constituir a nova prioridade na globalização; e no diálogo intercultural e inter-religioso, ajudando o mundo a escapar aos enredos dos fanatismos crescentes. A história está aberta!

A voz da Igreja Católica é, neste contexto, a voz mais reconhecida e autorizada para ajudar a desbloquear a cultura atual e coloca-la mais próxima do Deus criador e de Amor, pois sabemos que só Ele pode salvar verdadeiramente o homem.

Como eu entendo o sublime gesto de humildade e beleza de Bento XVI, ao comunicar-nos que a Igreja precisa de uma voz enérgica e vigorosa, que ele já não tem! Rezemos todos para que Deus nos dê essa voz! A nós e ao futuro papa!

FotoJoaquim Azevedo

 

Joaquim Azevedo
Presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, diretor do Secretariado da Pastoral da Cultura da diocese do Porto
© SNPC | 16.02.13

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