O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura reproduz, na quase totalidade, o 6.º concerto do ciclo "Do Natal aos Reis", interpretado pelo Coro Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa, dirigido por Erica Mandillo, na renovada Capela Imaculada, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga.

O concerto de música sacra, promovido pelo Auditório Vita e Arquidiocese de Braga, apresenta «pequenas obras-primas da música coral, a capella ou acompanhado ao piano», do Barroco ao século XX, passando pelo romantismo, a par de obras de culturas «em que a religiosidade bem patente se reveste de outras vestes para celebrar o divino», escreve Erica Mandillo nas notas ao programa.

Programa

- Echolied (Orlando di Lasso, c. 1532-1594)
- Com Che La lavaré (Cancioneiro de Upsala, 1556)
- Gayatri Mantra (Vedas) (Trad. Índia / Arr. M. Nascimento)
- Wolcum Yole! (“A Ceremony of Carols”) (Benjamin Britten, 1913-1976)
- There Is no Rose (“A Ceremony of Carols”) (Benjamin Britten)
- This Little Babe (“ A Ceremony of Carols”) (Benjamin Britten)
- Do Varão Nasceu a Vara (Fernando Lopes Graça, 1906-1994)
- O Menino nas Palhas (Fernando Lopes Graça)
- Acordai, Pastorinhas (Fernando Lopes Graça)
- Partidos são de Oriente (Fernando Lopes Graça)
- Estando a Virgem à Borda do Rio (Jorge Croner de Vasconcelos, 1910-1974)
- Ave Maria (Eurico Carrapatoso, n. 1962)
- José Embala o Menino (Eurico Carrapatoso)
- Duerme Negrito (Trad. Argentina/Arr. Atahualpa Yupanqui)
- Gute Nacht (“Jesu meine Freude”) (J. Sebastian Bach, 1685-1750)
- In Stiller Nacht (Johannes Brahms, 1833-1897)
- Hebe Deine Augen Auf (“ Elias” ) (Felix Mendelssohn, 1809-1847)
- La Charité (Gioacchino Rossini, 1792-1868)
- Ain´-a that Good News! (William Dawson, 1899-1990)
- Siyahamba (trad. Caminhamos na Luz do Senhor) (Trad. Zulu)

Concerto excecional
Luís da Silva Pereira
Professor da Faculdade de Filosofia, Braga, Universidade Católica Portuguesa
In "Diário do Minho", 20.01.2016

Tive o privilégio de ouvir … aqui em Braga um excecional concerto de música coral, que decorreu na renovada capela do seminário da Imaculada Conceição. Cantou o Coro Juvenil da Universidade de Lisboa, dirigido pela maestrina Erica Mandillo, e acompanhado ao piano, em algumas das peças interpretadas, pelo pianista João Lima, natural de Braga, e senhor, já, de um valioso currículo.

O concerto integrou-se nas festividades natalícias. Daí que o programa, na sua quase totalidade, incluísse obras cuja temática é o nascimento do Menino. Ouviram-se peças de Orlando di Lasso, J. Sebastian Bach, Brahms, Mendelssohn, Rossini, Fernando Lopes Graça, Jorge Croner de Vasconcelos, Eurico Carrapatoso, William Dawson, além de uma canção “Com Che la Lavaré” , do Cancioneiro de Upsala, de uma outra indiana “Gayatri Mantra”, com arranjo de  M. Nascimento, uma melodia tradicional argentina, arranjada por Atahualpa Yupanqui, e ainda um cântico Zulu, com título de “Siyahamba”.

Quem assistiu ao concerto pôde verificar a justeza do que afirmam alguns críticos da especialidade, como Rui Vieira Nery, atestando que este coro pode rivalizar com qualquer grupo internacional da mesma natureza. Com efeito, foi proporcionado a quem assistiu um espectáculo de altíssima qualidade artística. Pessoalmente, fiquei espantado com o nível que tão jovens cantores conseguiram atingir: uma limpidez vocal admirável, um equilíbrio perfeito dos naipes, uma expressividade interpretativa de grande maturidade, uma afinação irrepreensível, tanto mais de admirar quanto as harmonias de alguns dos cânticos , como os de Benjamin Britten, de William Dawson, de Lopes Graça ou de Eurico Carrapatoso soam aos nossos ouvidos como dissonantes. Estas Harmonizações foram, para mim, a parte mais agradável do concerto, aquela em que o grupo pôde exibir toda o seu virtuosismo técnico e interpretativo.

O coro transmitiu uma impressão de segurança absoluta, tanto mais evidente quanto mais os jovens cantaram, de cor, as 20 peças, sem qualquer partitura, ainda por cima deslocando-se pelo espaço da capela em coreografias sóbrias, mas adequadas ao conteúdo dos cânticos. Via-se que a maestrina tinha, perfeitamente, nas mãos todos os elementos do grupo e que eles reagiam, como lhe era pedido, ao mais pequeno gesto da directora. Fusão perfeita, portanto.

Numa palavra, espectáculo inolvidável, de altíssimo nível artístico, um espectáculo cheio de beleza musical e espiritual. Um grande Momento de cultura na cidade de Braga. Atrevo-me mesmo a dizer que foi o mais belo concerto de música vocal que tive a oportunidade de ouvir nos 43 anos de vida que levo na cidade.

Uma vez mais, a Arquidiocese de Braga, neste caso através do Auditório Vita, esteve à altura dos seus pergaminhos. Ela habituou-nos, desde há muito, a realizações, em diversos campos, do mais alto nível cultural e espiritual, colocando as suas capacidades ao serviço de Deus, dos homens e da comunidade. Também nestas áreas da actividade, e através dos múltiplos organismos que a integram, a Arquidiocese tem sido um verdadeiro dinamizador da mais elevada formação cultural e humana, ora aproveitando as potencialidades da própria cidade, ora chamando até nós agrupamentos que vêm enriquecer-nos com a sua atividade artística.