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Habemus Papam! Cardeais elegem novo papa à quinta votação
Os 115 cardeais decidiram esta quarta-feira, 13 de março de 2013, pelas 18h00, o novo papa que vai suceder a Bento XVI. A decisão surgiu após o quinto escrutínio. Na praça de São Pedro, sob chuva ininterrupta, os sinos tocam e milhares de fiéis congratulam-se pela votação. As bandeiras de vários países agitam-se ao vento na noite de Roma.
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O primeiro dia do conclave em 15 imagens
Na missa ritual que antecipou o início do processo eleitoral, celebrada na basílica de São Pedro, entre cardeais, bispos, padres e leigos, o decano do Colégio Cardinalício, Angelo Sodano, frisou que «a atitude fundamental de todo o bom pastor é (…) dar a vida pelas suas ovelhas». «Isto vale, sobretudo, para o Sucessor de Pedro, Pastor da Igreja universal. Porque quanto mais alto e mais universal é o ofício pastoral, tanto maior deve ser a caridade do Pastor», sublinhou. Na parte da tarde os cardeais eleitores entraram em procissão na Capela Sistina, onde a votação se vai realizar, entoando um canto que pedia a assistência do Espírito Santo e a intercessão dos santos. A seguir cada cardeal jurou manter segredo de tudo o que diz respeito ao conclave e desempenhar a sua missão caso seja eleito papa e aceite a escolha. Depois do juramento foi dada ordem de saída a todos os que não podem estar no conclave e o mestre das celebrações litúrgicas pontifícias encerrou a porta da Capela Sistina.
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Nomes e rostos dos cardeais eleitores: o próximo papa será provavelmente um deles
É do grupo dos 115 cardeais que a partir desta terça-feira se reúne em conclave para eleger o sucessor de Bento XVI que, provavelmente, sairá o próximo papa. Os cardeais são escolhidos e criados pelo sumo pontífice, tornando-se seus conselheiros. Podem escolher o novo papa aqueles que não tenham completado 80 anos no dia de início da Sede Vacante, período entre a renúncia ou morte do papa e a eleição do sucessor. Conheça os nomes e os rostos dos cardeais que participam no conclave. No fim da lista descubra alguns dados gerais sobre o grupo de eleitores.
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Conclave: agenda dos cardeais e horário dos sinais de fumo
A missa que antecede o início do conclave para a eleição do novo Papa vai ser celebrada esta terça-feira às 9h00 (hora de Lisboa, mais uma no Vaticano). Às 14h45 deslocam-se para a Capela Paulina, no Palácio Apostólico do Vaticano. A procissão rumo à Capela Sistina, onde decorre a votação, tem início marcado para as 15h30, ao som do canto ‘Veni Creator’, para pedir a assistência do Espírito Santo. «Toda a Igreja, unida a nós na oração, invoca sem cessar a graça do Espírito Santo para que seja eleito por nós um Pastor digno de todo o rebanho de Cristo», lê-se na oração que acompanha a entrada na capela. A partir de quarta-feira o fumo que sairá da chaminé da Capela Sistina deve ser esperado às 11h00 (horas de Lisboa) e às 18h00. Se a eleição do novo papa ocorrer no primeiro escrutínio da manhã, o fumo branco deverá sair entre as 9h30 e as 10h00. Caso a escolha se realize na primeira votação da tarde, como aconteceu em 2005 com a eleição de Bento XVI, pode esperar-se fumo branco entre as 16h30 e as 17h00.

Santa Marta: a primeira casa do novo papa
A Casa de Santa Marta (Domus Sanctae Marthae), no Vaticano, começa a receber na manhã desta terça-feira os 115 cardeais eleitores que na tarde desse dia começam o conclave que vai eleger o sucessor de Bento XVI. O edifício, localizado perto da basílica de São Pedro, foi construído em 1996, sob o pontificado de João Paulo II. Uma das suas finalidades é hospedar os membros do Colégio Cardinalício habilitados a participar no conclave. Nos quatro pisos superiores há 106 suites (cama e estúdio) e 22 quartos "single", já sorteados pelos cardeais. Entre os quartos há um que se destaca: é aquele onde o novo papa ficará hospedado algumas semanas, dado que os apartamentos pontifícios foram selados após a renúncia de Bento XVI e precisam de algumas reformas.
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Vaticano: os lugares do conclave
Na primeira infografia apresentamos uma fotografia aérea da Cidade do Vaticano com os espaços relacionados com a eleição do papa, bem como alguns dos edifícios da Santa Sé, como o auditório Paulo VI, seviços administrativos, correios, estação de caminhos de ferro e a futura residência do papa emérito, Bento XVI. Referem-se também alguns dados sobre o território da Santa Sé. A Capela Sistina, os cardeais eleitores e dados sobre o conclave, as urnas usadas nas votações e o tempo que as últimas seis votações demoraram constituem o núcleo da segunda infografia.
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As etapas que se seguem até à eleição do sucessor de Bento XVI
Esta segunda-feira, 4 de março, às 8h30, hora de Lisboa, reúne-se a primeira congregação geral, nome dado às reuniões com todos os cardeais. Estão convocados os 207 membros que compõem o Colégio Cardinalício, presidido pelo cardeal decano, Angelo Sodano. No dia do início do conclave, processo eleitoral conducente à eleição do novo papa, os cardeais são esperados pela manhã na basílica de S. Pedro para a celebração da "Missa Pro Eligendo Romano Pontifice", eucaristia presidida pelo decano que antecede o escrutínio. Após a entrada na Capela Sistina o cardeal que preside ao conclave pronuncia um juramento, que contém, entre outros, o seguinte pronunciamento: «Prometemos, obrigamo-nos e juramos que quem quer de nós, que, por divina disposição, for eleito Romano Pontífice, comprometer-se-á a desempenhar fielmente o munus Petrinum de Pastor da Igreja universal e não cessará de afirmar e defender estrenuamente os direitos espirituais e temporais, assim como a liberdade da Santa Sé».
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Como se elege o papa
Após a renúncia de Bento XVI, com efeito a partir de 28 de fevereiro, segue-se a eleição do novo papa que, provavelmente, acontecerá em março. Apresentamos seguidamente as etapas principais do processo. A eleição ocorre durante o conclave, palavra que advém do latim "fechado à chave" para indicar a clausura a que os cardeais eleitores estão sujeitos para evitar o contacto com o exterior. Na Capela Sistina, onde decorre o escrutínio, o último Cardeal Diácono fecha a porta por dentro quando saem todos aqueles que não têm direito a participar na votação. A eleição do novo papa ocorre quando são obtidos dois terços dos votos dos eleitores presentes. A partir do 34.º escrutínio procede-se à votação entre os dois cardeais mais votados no último escrutínio, que deixam de poder exercer o direito de voto.
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Renúncia de Bento XVI: opinião

 

Vaticano seleciona 60 fotografias e frases que marcaram o pontificado de Bento XVI
«Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza.» A página da Santa Sé selecionou 60 fotografias e 59 frases de Bento XVI sobre espiritualidade, evangelização e temas da vida humana para ilustrar e homenagear o pontificado que começou a 19 de abril de 2005 e terminou às 19h00 de 28 de fevereiro. Veja, leia e partilhe no Facebook da Pastoral da Cultura a sua imagem e/ou frase favorita.

«Caminhemos juntos para o bem da Igreja e do mundo»: o último pedido do papa Bento XVI
«Queridos amigos, estou feliz por estar aqui convosco, rodeado pela beleza da Criação e a vossa simpatia que me faz tão bem. Obrigado pela vossa amizade e o vosso afeto. Sabeis que este é um dia diferente dos anteriores... Não serei mais o Supremo Pontífice da Igreja Católica a partir das 20h00 [19h00 em Lisboa]. Serei simplesmente um peregrino que inicia a última etapa da sua peregrinação nesta Terra.» As últimas palavras do papa Bento XVI aos fiéis reunidos em Castel Gandolfo.
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O adeus de Bento XVI: «Ele disse que vai subir ao monte e nós estamos a subir o monte com ele»
As mãos dos fiéis, muitas antes quietas e pousadas sobre o peito, puderam então aplaudir sem interrupções. Até a voz do Papa se voltar a ouvir, no Pai Nosso em latim, e a praça a rezar com ele, baixinho. Bento XVI sorriu e a praça aplaudiu de novo. Dois minutos durou o sorriso, um pouco mais os aplausos, os cardeais de pé, o resto da praça a gritar "Obrigado!" e "Viva o Papa!". "Foi um momento muito difícil para ele, cheio de amor e de dor", diz Pascal. "O que posso fazer faço, o que não posso não faço." Foi esta, para o frade de 36 anos, a lição de Ratzinger. Pascal vê-o "como um profeta vivo", mas despede-se com "tranquilidade" e cheio de "encorajamento". Agora, resta esperar pelo sucessor: "A Igreja é de Cristo, não é de Bento".

«O Senhor chama-me a subir ao monte, para me dedicar ainda mais à oração», diz Bento XVI
«O Senhor chama-me a subir ao monte, para me dedicar ainda mais à oração», afirmou este domingo Bento XVI na Praça de São Pedro, no Vaticano, perante milhares de pessoas reunidas para a última oração do Angelus presidida pelo papa alemão. A decisão de Bento XVI, que às 19h00 de Lisboa desta quinta-feira renuncia ao pontificado, «não significa o abandono da Igreja», sublinhou. «Se Deus me pede isso é apenas para que eu possa continuar a servir com a mesma dedicação e o mesmo amor com que eu tentei fazer até agora, mas de modo mais adequado para a minha idade e para mim», acrescentou. Quando Bento XVI apareceu à janela do seu apartamento fez-se ouvir um longo aplauso, seguido pela repetição do seu nome. O papa foi interrompido várias vezes pelos aplausos dos fiéis, muitos com bandeiras e faixas.
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Bento XVI: figura «ímpar» do pensamento que destruiu todos os preconceitos
Henrique Monteiro, antigo diretor do "Expresso" e colunista daquele semanário, escreve hoje que Bento XVI «deu cabo de todos os preconceitos daqueles que, à data da sua eleição, queriam vê-lo como um mero "pastor alemão"».«Eu não sou católico, mas aprendi a respeitar a coerência e a elevação onde quer que elas estejam, bem como a tolerância e a convivência como valores indispensáveis à compreensão mútua. E por ter lido e ouvido de viva voz o Papa, considero-o uma figura impar na nossa intelectualidade», observa no site do semanário. «Bento XVI surge-nos infinitamente melhor do que aquilo que dele dizem», aponta Henrique Monteiro, salientando que «a luta central» do papa «é contra a desregulação do ethos, da ética - a mesma desregulação que elevou a ganância e a especulação a deuses de pés de barro que se estatelaram no primeiro abanão».

Bento XVI: cronologia do pontificado
«Amados irmãos e irmãs, depois do grande papa João Paulo II, os senhores cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, recomendo-me às vossas orações. Na alegria do Senhor Ressuscitado, confiantes na sua ajuda permanente, vamos em frente. O Senhor ajudar-nos-á. Maria, sua Mãe Santíssima, está connosco. Obrigado!» Estas foram as primeiras palavras proferidas por Bento XVI a 19 de abril de 2005 aos milhares de fiéis reunidos na Praça de S. Pedro, no Vaticano, pouco depois da eleição para sucessor de João Paulo II. Desde então até hoje, 11 de fevereiro, Dia Mundial do Doente e memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, data escolhida por Bento XVI para anunciar a resignação, apresentamos alguns dos acontecimentos mais significativos de um pontificado em que proclamou 44 novos santos.

Bento XVI: na contramão de um catolicismo que prefere o poder ao serviço
As qualidades de Bento XVI, para além das vicissitudes humanas enfrentadas nas instituições todas, produzindo desafios relacionais e existenciais, traçaram para a Igreja horizontes que a capacitaram ainda mais no enfrentamento das questões fundamentais da fé no seu diálogo imprescindível com a razão. Um caminho exigente, na contramão de uma religiosidade entendida e vivida como mágica milagreira ou como lugar da conquista e de exercícios inadequados do poder que seduz, desfigura e distancia-se da condição de todos como servos da vinha do Senhor. Há de se recordar que Bento XVI, em 2005, dirigindo-se pela primeira vez à multidão presente na Praça de São Pedro, delineia a consciência clara de seu entendimento sobre a sua pessoa e sobre o seu ministério iniciante como sucessor de Pedro. Ele apresenta-se - como não pode deixar de ser a apresentação dos discípulos de Jesus, sejam quais forem as circunstâncias, cargos, ofícios e responsabilidades - como simples servo da vinha do Senhor, chamado naquele momento ao exigente serviço como Papa.

Ler Bento XVI e João Paulo II à luz das suas biografias
João Paulo II não ficou refém dos constrangimentos doutrinais que afetam o diálogo dos católicos com as outras religiões. Avançou na direção de uma aliança pública com as religiões, sinalizando o horizonte religioso das culturas. Para isso encorajou os gestos de reconciliação entre as grandes religiões – as imagens da "oração de Assis" permanecerão como um ícone do século XX. Bento XVI continuou boa parte destes gestos, na cena pública. No entanto, a sua biografia é diferente. O seu perfil intelectual não era tão favorável a estratégias de massificação. O discurso tomou o lugar da preponderância do gesto. Num tempo em que muitas das sensibilidades religiosas florescentes escolhem a via do acontecimento extraordinário ou da exacerbação emocional como formas privilegiadas de aceleração da possibilidade de adesão religiosa, Bento XVI emergiu, na cena pública, na figura do intelectual – essa condição permitiu o encontro com outros interlocutores.
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Humildade: a encíclica de Bento XVI na hora da despedida
Bento XVI não publicará a encíclica sobre a fé – embora em fase avançada – que devia apresentar na primavera.  Já não tem tempo. E nenhum sucessor é obrigado a retomar uma encíclica incompleta do próprio predecessor. Mas existe outra encíclica de Bento XVI, escondida no seu coração, uma encíclica não escrita. Ou melhor, escrita não pela sua pena mas pelo gesto do seu pontificado. Esta encíclica não é um texto, mas uma realidade: a humildade. Nada lhe foi poupado. Às violentas provações físicas do pontificado de João Paulo II, ao atentado e ao mal de Parkinson, parecem corresponder as provações morais de rara violência desta litania de contradições sofrida por Bento XVI. Ao renunciar, o Papa eclipsa-se. À própria imagem do seu pontificado. Mas só Deus conhece o poder e a fecundidade da humildade.

Bento XVI soube entrar, estar e sair
O presidente do Conselho Pontifício da Cultura, cardeal Gianfranco Ravasi - aí está, na minha opinião, um bom sucessor de Bento XVI – diz que a renúncia do Papa é um “ato teológico”. É, de fato, um sinal de grandeza e não uma fuga às responsabilidades. Traduz bem a etimologia da palavra “ministério”. Vem de “minus”, a significar “estar ao serviço de”, “ser menos”, “não ser dominador”. Assim se compreende que Bento XVI, como sublinha o cardeal Ravasi, tenha saído para deixar mais espaço a quem consiga realizar a missão de sucessor de Pedro de maneira mais plena. Bento XVI não é um desistente. Sai pela porta grande e com a dignidade dos homens de caráter. Deus queira que o novo Papa seja pedra fundamental de uma Igreja capaz de dialogar com o mundo como Jesus Cristo: com autoridade moral e com o testemunho do amor.

«O maior risco» do cristianismo é o da sua «exculturação»
O sociólogo Alfredo Teixeira considera que «o maior risco que o cristianismo corre, nas sociedades que com ele fizeram história, é o da sua exculturação». «A ilegibilidade da memória de Jesus naquilo que é âmago da experiência cultural, a incapacidade da proposta cristã reinventar os recursos necessários à sua permanente traduzibilidade, ou a perda das interfaces que permitem acolher as demandas que habitam a inquietude do nosso tempo constituem o abismo mais difícil de enfrentar», assinala. Em depoimento sobre o pontificado de Bento XVI e as perspetivas para o futuro da Igreja Católica, o diretor do Instituto Universitário de Ciências Religiosas da Faculdade de Teologia da Universidade Católica sustenta que o próximo papa «deveria fazer uma aposta clara na pastoral da cultura».

Diretor da Faculdade de Teologia elogia ação de Bento XVI na conciliação entre fé e razão e na abertura à arte e cultura
«Devemos a este papa um magistério muito bonito que procurou centrar-se na conciliação entre a fé e a razão, mostrando ao mesmo tempo que pode haver uma vivência da fé com uma forte expressão e dimensão cultural», sublinhou o padre João Lourenço em declarações ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. «O papa deu igualmente um grande impulso de qualidade e de abrangência àquilo que é a abertura da fé e da Igreja ao mundo da arte, da beleza e da cultura. Penso que esta é uma gratidão que todos lhe devemos», observou. «A marca que eu gostaria que o próximo papa desse ao seu magistério no domínio da cultura é que dê continuidade à herança de abertura que Bento XVI realizou», mantendo a sua «qualidade de reflexão e pensamento.»

Renúncia de Bento XVI: É «curioso» como «uma instituição em alegado declínio» merece as atenções do mundo
O fundador e diretor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, João Carlos Espada, destaca esta segunda-feira o «súbito contraste entre o impacto mundial» da resignação de Bento XVI e o «repetido anúncio do declínio da Igreja de Roma». «Não deixa de ser curioso que uma instituição em alegado declínio possa ter merecido as atenções de, literalmente, todo o planeta», sublinha o investigador em artigo de opinião publicado no jornal "Público". Por seu lado José Pacheco Pereira refletiu na revista "Sábado" sobre a diferença das opções tomadas pelos papas Bento XVI e João Paulo II quanto ao fim do pontificado, referindo que «ambos, fizeram, com as suas atitudes, bem à instituição à frente de que estão».

Lídia Jorge destaca «chamamento fraterno» que Bento XVI dirigiu «às pessoas da Cultura»
A escritora Lídia Jorge destaca o «chamamento fraterno» que Bento XVI «dirigiu às pessoas da Cultura para que se associassem no testemunho da criação como um reflexo da Criação, independentemente da sua fé». «A aproximação dos artistas e dos criadores à Igreja acontece não por que se chama, mas por que o exemplo atrai.» Lídia Jorge diz esperar «que o próximo Papa prossiga no gesto cristão de não anatemizar os que não têm a certeza de Deus, mas que fazem da busca da Beleza e da Harmonia a demanda das suas vidas». «Um sábio capaz de se associar ao grande movimento de mudança de que o Mundo necessita para sobreviver com mais verdade e mais justiça, agora que a transparência as reclama todos os dias. Estar à altura desta transformação, modificando por dentro a passividade da Igreja, é sem dúvida um desafio imenso, transformado, por via das circunstâncias, num imperativo de Cultura.»

Eduardo Lourenço: Bento XVI restituiu «o sentido e o esplendor da única eternidade que conta aos olhos de um cristão»
O ensaísta português Eduardo Lourenço considera que a resignação do «mais suave dos papas», Bento XVI, «não dilacera a túnica sem costura do Cristo (há tantos séculos dilacerada)». «Restitui-lhe [à túnica] o sentido e o esplendor da única eternidade que conta aos olhos de um cristão. E que não é a do ouro e seu peso de sangue, nem da glória e sua ilusão, mas a da consciência do seu nada no espelho do tempo mortal do nosso coração», sublinha em artigo publicado esta sexta-feira no jornal "Público". O gesto da resignação, anunciada segunda-feira e com efeitos a partir de 28 de fevereiro às 19h00 de Lisboa, «já é raro pelos tempos que correm», refere Eduardo Lourenço, acrescentando que constitui a maneira de Bento XVI «recusar a objetividade demoníaca do que é só porque é».

«Com Bento XVI reaprendi a ouvir e a reconhecer a voz da Igreja entre os pensadores e os artistas»
«Com Bento XVI reaprendi a ouvir e a reconhecer a voz da Igreja entre os pensadores contemporâneos e entre os artistas», diz o presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica, Joaquim Azevedo. O também diretor do Secretariado da Pastoral da Cultura da diocese do Porto sublinha que a voz da Igreja tem de fazer ouvir-se na «cultura hegemónica, que tem de ir muito para além do aniquilamento do ser humano, da sua dignidade e da beleza; na paz e na justiça, que tem de constituir a nova prioridade na globalização; e no diálogo intercultural e inter-religioso». «Como eu entendo o sublime gesto de humildade e beleza de Bento XVI, ao comunicar-nos que a Igreja precisa de uma voz enérgica e vigorosa, que ele já não tem», refere.

«Segredo» de Bento XVI para ser escutado fora da Igreja foi ter sabido dialogar e recorrer à razão sem se fechar nela, diz presidente da Comissão Episcopal da Cultura
O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Pio Alves, considera que o conhecimento teológico, a racionalidade e a predisposição para o diálogo contribuíram para que Bento XVI fosse ouvido fora dos círculos católicos. Em declarações ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura o bispo auxiliar do Porto afirmou que as «notas dominantes» das principais intervenções magisteriais do papa residiram no «amor, na verdade e na esperança», que surgem nos títulos das suas três encíclicas, bem como na «beleza» e na centralidade de Jesus Cristo.

Bento XVI e João Paulo II: decisões diferentes, a mesma fidelidade
O interessante, no meio de todo este acontecimento, é que os cristãos não se sentem defraudados. Mesmo aqueles que defenderam que João Paulo II devia permanecer na Cadeira de Pedro até morrer, sentem hoje uma paz grande - depois da perplexidade própria da surpresa - ao lerem o discurso de renúncia de Bento XVI. Porquê? É que a motivação que levou o Papa Wojtyla a manter-se até morrer e que conduz o Papa Ratzinger a resignar é uma e a mesma motivação. São tão-só dois modos antagónicos de viverem e exprimirem o amor inquestionável à Igreja e ao mundo. Para um, o testemunho de ficar até ao fim era, então, essencial para mostrar como "da cruz não se abdica"; para o outro, a necessidade que o mundo atual tem de uma Igreja que possa responder às "rápidas mudanças e às questões de grande relevância para a vida da fé", requer um Papa cujo vigor Bento XVI sente escapar-lhe.

Bento XVI abriu «novas perspetivas à relação do discurso católico com a modernidade», diz Francisco Assis
Francisco Assis, antigo líder parlamentar do Partido Socialista, considera que Bento XVI «apostou na importância do diálogo entre a razão e a fé, abrindo assim novas perspetivas à relação do discurso católico com a modernidade». «As nossas sociedades são felizmente suficientemente laicas e seculares para poderem acolher sem qualquer risco o contributo não despiciendo do mundo católico», sublinha em artigo publicado esta quinta-feira no jornal "Público". O ex-deputado europeu mostra-se convicto que Bento XVI, «homem profundamente culto», está consciente dos «desvarios a que um excesso de otimismo racionalista conduziu a humanidade no decurso do século XX».

Obras de Bento XVI são «património inestimável para crentes e não crentes», diz Zita Seabra
Zita Seabra considera que os livros de Bento XVI «são um património inestimável para crentes e não crentes». «Desde o Catecismo da Igreja Católica, até aos três volumes sobre a vida de Jesus, passando por numerosos trabalhos doutrinais ou textos de proclamação da Fé – fica uma obra rica, que marcará não só a vida da Igreja, mas o património cultural da humanidade», sublinha a editora em depoimento enviado ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. «Muito desse património vai viver connosco para além destes dias tristes, em que encaramos com surpresa o gesto racional da sua renúncia à cadeira de Pedro», assinala.

Bento XVI desbravou «novas dimensões de diálogo estético e ético» e acentuou importância da arte na relação com Deus
O escritor e professor universitário Mário Avelar considera que os caminhos abertos por Bento XVI «desbravaram novas dimensões de diálogo estético e, ético, e, também, de entendimento de quão relevante pode ser, hoje em dia, a arte na relação com Deus». A «abertura à alteridade significou uma disponibilidade para entender e acolher os discursos estéticos que têm emergido noutros horizontes culturais, ideológicos mesmo, e de neles identificar inquietações e sintomas que são passíveis de funcionar como, ainda que ténues e pouco perceptíveis, pontes de diálogo e compreensão mútua». Para Mário Avelar o percurso do papa ajuda a compreender que «a experiência contemplativa e meditativa do silêncio perante o inesperado» e o transcendente «pode constituir uma parte do processo de aprendizagem e da própria fruição estética».

«Qual a presença da Igreja no cinema? E na televisão? E nas fontes da cultura juvenil?», pergunta bispo auxiliar de Braga
D. Manuel Linda, um dos bispos auxiliares de Braga, considera que as instituições católicas estão «demasiadamente presas» a «jornais, prospetos, livros» e «revistas», quando é necessário «apostar em novas linguagens». «Qual a presença da Igreja no cinema? E na televisão? E nas fontes da cultura juvenil, como nos videojogos e nos vídeos musicais?», questiona em depoimento enviado ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura a propósito da relação de Bento XVI com o universo da arte e do pensamento. «Embora, muitas vezes, não possa afinar pelo diapasão que dá o tom geral, a Igreja não está no mundo para ser uma qualquer contracultura. Mas tem de conhecer bem a cultura dominante para lhe valorizar as suas potencialidades e pôr a nu as suas fraquezas», sublinha.

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