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Sociedade

Confrontarmo-nos com a realidade

Nos últimos meses ouvimos com frequência, a propósito da situação de Portugal e dos portugueses, palavras fortes como abismo, tragédia, definhamento ou mesmo final. E, no entanto, uma reflexão mais distante da espuma com que diariamente nos confrontamos permitirá, porventura, fazer emergir razões para algum otimismo. Os portugueses não têm tradições fortes de, precavidamente, planear o futuro da organização da sociedade e da economia, de se organizarem coletivamente com a disciplina e afinco características de outros povos. Se excetuarmos o consulado “estrangeirado” pombalino ou a, mais mítica do que real, planificação da era das descobertas, a nossa História fica sobretudo marcada pela conhecida infinita capacidade de adaptação às circunstâncias que nos são impostas. Nesses momentos, mostrando uma imaginação e serenidade que tanto encanta os estrangeiros, os portugueses superam-se. Este é, certamente, um momento de confrontação séria com a realidade, por mais dura que ela se afigure.

É sabido que hoje os economistas vivem algum desnorteio, confrontados até à exaustão, com a pergunta de quando e como Portugal sairá duma crise económica profunda. Como se a resposta a esta pergunta ansiosa respondesse e resolvesse todos os anseios humanos dos portugueses. As gerações mais novas aprenderam que o consumo per capita define o nível de felicidade dos povos. Mais recentemente, debate-se que a dívida per capita explica toda a gravidade dos problemas do nosso povo. Ora as privações e sacrifícios que os portugueses vão viver, com o sofrimento que lhe estará associado, podem constituir ocasião de crescimento humano e civilizacional. Será exigido aos portugueses realismo quanto aos recursos económicos disponíveis, que hoje sabemos serem muito inferiores aos que dispusemos nos últimos anos, através do endividamento. Mas poderemos aprender que realização e felicidade humana podem ser mais do que consumir “muito” e “já”, deixando aos nossos descendentes uma egoísta fatura a pagar.

A oportunidade está em conseguir, perante a evidência de que os meios são limitados, sabermos encontrar caminhos de esperança. A nossa vida não se esgota no nosso bem-estar individual. O Estado Social vai poder distribuir a riqueza que produzimos e não a dívida que acumulamos, na ilusão que os nossos descendentes a venham a pagar. A menos Estado Social os portugueses saberão responder recuperando hábitos seculares de relações de assistência ao próximo, ao vizinho, ao amigo, ao conhecido e ao desconhecido.

Portugal é um país viável e que deve ter ambições grandes para o seu futuro. Há países na Europa com condições e dimensão comparável a Portugal que nos podem servir de exemplo. Exemplo de trabalho, de cidadania, de responsabilidade pela causa pública, mas sobretudo de ambição de um crescimento económico indispensável para a inclusão dos mais desprotegidos. Sabemos hoje que teremos de mudar de vida. Que consumir e partilhar com os outros os recursos provenientes do endividamento é um modo de vida com fim à vista. A confrontação com a realidade, por mais dura que pareça, só pode representar um grande passo que a nossa História se encarregará de reconhecer.

 

Este texto integra a próxima edição (n.º 15) do "Observatório da Cultura", publicação semestral do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

 

Gonçalo Barata
Economista
© SNPC | 28.04.11

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