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Fé e cultura

Cultivar a identidade cristã

Muito para além das formas de comportamento explicitamente religiosas e dos símbolos cristãos que nos rodeiam, o cristianismo na sua versão católica, inspirou e caracteriza atualmente a nossa cultura. Fá-lo ao estar associado a maneiras de encarar o mundo e a vida, de nos relacionarmos uns com os outros, de estabelecermos laços e de os rompermos.

Assim por exemplo, quando somos mais expressivos que austeros e contidos, estamos, a concretizar uma expressividade estimulada ainda há poucos séculos pelo Concílio de Trento, do mesmo modo que a convicção de que tudo se apaga com o perdão, por mais vingativos que posamos ser ou quando apreciamos a imagem de termos brandos costumes, esquecendo tanta violência pública e doméstica que praticamos, estamos a viver uma imagem ideal de harmonia e de fraternidade. A própria facilidade com que aceitamos que todas as pessoas são alguém, como apesar de tantos abusos acabamos por reconhecer a dignidade humana e em geral o direito à vida, ou a forma como alguém sem fé pede a ajuda de Deus em momentos de aflição, são princípios e atitudes não só semeadas mas cultivadas pelo cristianismo, embora por vezes reforçadas por outras influências.

Todavia o que mais notamos e do que mais se fala, será da quebra de laços conjugais, que por vezes nem chegam a estabelecer-se, será do modo como reduzimos o número de filhos, ou o cuidado com a sua educação, será da incapacidade de efetivar a prática cristã na vida corrente. Fala-se da corrupção, da mentira e do desamor que infetam a vida pública e privada.

Muitas das marcas explícitas e públicas do cristianismo apagam-se ou são tendenciosamente sufocadas no dia a dia. Muito da face pública da vida cristã é sistematicamente desfigurada, desde a ausência de factos religiosos e cristãos na comunicação social, ou do relevo dado à sua contestação, com a omissão da descrição do facto em si próprio, até às entidades que com suas campanhas constroem barreiras do politicamente correto, de tabus e de ironias que é preciso ter a coragem de vencer. Até a sardinha passou a competir com Santo António, eles que sempre tão bem se entenderam na sensibilidade popular.

Todos os princípios, capacidades e hábitos se perdem se não forem exercidos, explicados e renovados; sendo assim, é preciso saber assumir a luta pela sua continuidade pois nunca basta a inércia da tradição, nem a confiança nos automa-tismos das instituições.

Trocar a espiritualidade cristã por uma outra com transcendência, mas quase sem Deus, trocar o empenhamento cristão por princípios vagos, aceitar que se denomine como fanatismo qualquer prática explicitamente religiosa, fomentar a imagem da contradição entre ações honradas e responsáveis e atos piedosos, denunciando-os como beatos e hipócritas, incentivar o subjetivismo das intenções, pondo de lado a distinção possível entre o bem e o mal, são outras tantas maneiras de diluir a mensagem cristã. Hoje são por vezes cultivadas perspetivas idólatras da ecologia tocando as raias do animismo; a perda da fé no Deus único faz com que do Sol às águas regressem e se comercializem cultos de ídolos e de espíritos.

É preciso propor às novas gerações uma educação cristã explícita, esclarecida, clara, mostrando como somos e como queremos ser, realista mas cheia de projeto, sem fingimento mas com confiança e alegria, com Natal, esforço, cruz e ressurreição. A vida de Cristo é o símbolo por excelência, assinalando tempos diversificados da nossa vida, como a liturgia sempre o faz, assumindo a Sua realidade, a nossa realidade e o simbolismo que nos envolve e dá sentido à vida que vivemos e partilhamos. Apesar das novas ruralidades, a vida hoje é sobretudo urbana, mas também ela pode ser impregnada pela mesma água, luz e sal, pelo mesmo gosto e luz de Cristo que transformou a vida rural e urbana de outras épocas. (...)

Portugal ainda é hoje um país aberto, capaz de acolher pessoas muito diferentes, capaz de se unir e de cerrar fileiras, capaz de ter compaixão e solidariedade. Tudo somado é um país radicalmente cristão, bem capaz de amar. Tempos de crise são em todos os domínios tempos de ação, de esperança, de crescimento, de opção.

 

Fernando J. Micael Pereira
Professor da Universidade Católica Portuguesa, especialista em Ciências Sociais
In Agência Ecclesia
21.10.11

Foto
Camille Moirenc/Hemis/Corbis















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