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D. Manuel Clemente: Novo patriarca de Lisboa deu última aula na Universidade Católica, após 40 anos de ensino

D. Manuel Clemente, novo patriarca de Lisboa, despediu-se de 40 anos de docência na Universidade Católica com uma intervenção sobre as prioridades que seguiu, sobretudo na disciplina de História da Igreja em Portugal, lecionada na Faculdade de Teologia.

«O que mais sublinho, pessoalmente falando, é o facto deste percurso docente se entrelaçar com a preocupação profunda de compreender o catolicismo português contemporâneo, para o poder protagonizar adequadamente no serviço eclesial que me tem sido cometido», afirmou a 11 de junho, no Porto.

Depois de frisar que a sua ação sempre lhe exigiu «estudo», o prelado vincou que «a realidade da Igreja e do mundo» lhe pedem «respeito pela respetiva verdade» e exigem  «verdade na resposta».

«Foi precisamente neste ponto que quarenta anos de discência e docência na Universidade Católica Portuguesa me proporcionaram, entre professores e alunos, um campo permanente de pesquisa e resposta, de didática exigente e convivência estimulante», referiu.

As palavras de D. Manuel Clemente, proferidas nas instalações da instituição, começaram por recordar que «quando frequentava o curso de História da Faculdade de Letras de Lisboa (1968-1973), participava intensamente na vida eclesial da altura, em especial no Escutismo e na paróquia».

«Vivendo o pós-Concílio, era grande o sentimento de que o catolicismo de João XXIII e Paulo VI coincidia com a expectativa humana mais essencial, para os crentes e para todos os homens de boa vontade. E digo “mais essencial”, porque me parecia que algumas propostas que convenciam outros, não ultrapassavam o plano político e social mais imediato, quanto a mim insuficiente para corresponder ao drama humano, de qualquer tempo e circunstância. Posso acrescentar que foi este tipo de sentimento e convicção que me levou depois a ingressar no Seminário dos Olivais» [Lisboa], recordou.

Nas aulas que frequentou, D. Manuel Clemente disse «estranhar a ausência do fator católico na generalidade das matérias históricas», em especial «na época moderna e contemporânea».

A este silêncio, o futuro magno chanceler da Universidade Católica, cargo que ocupará por ser patriarca de Lisboa, foi sensível à «herança da crítica oitocentista, na esteira das Causas da decadência dos povos peninsulares, como as apresentara Antero».

«Como se fosse incontestável uma síntese deste género: a) O catolicismo confundira-se com o Antigo Regime e até com alguns dos seus aspetos menos aceitáveis; b) Foi por isso cultural e institucionalmente combatido pelo liberalismo e pelo republicanismo, aos quais se opôs em permanente reação, enquistando-se no seu núcleo clerical e rural, perdendo sucessivamente a generalidade da burguesia e do operariado, isto é, os setores progressivos da sociedade; c) Seria assim inelutável a secundarização e finalmente a superação do catolicismo como realidade consistente da vida nacional e internacional.»

Estas perspetivas conduziram D. Manuel Clemente, já então a frequentar o curso de Teologia, a «privilegiar a História da Igreja como campo de estudo»: «O Professor António Montes Moreira – que me orientaria depois no doutoramento e foi bispo de Bragança-Miranda – confiou-me os temas portugueses da História da Igreja que nos lecionava, abrindo-me assim a carreira docente que hoje se encerra, quatro décadas depois».

«O ambiente cultural desses anos pedia apresentações mais sólidas da História da Igreja, para melhor nos compreendermos, crentes e não-crentes, do passado para o futuro. Foi em resposta ao pedido dos “professores de moral” que elaborei uma série de fichas temáticas com o título de A Igreja no tempo, cuja primeira edição é ainda dos anos setenta. Ao mesmo tempo que lecionava na Faculdade de Teologia, dava pequenos cursos sistemáticos de História da Igreja, especialmente a catequistas e formadores da fé, além de outras intervenções dispersas», assinalou.

Uma questão mantinha D. Manuel Clemente inquieto: «Fora puramente reativa a atitude cultural e prática do catolicismo nacional e internacional desde o surto do liberalismo? Porém e assim sendo, como se podiam compreender, não só a sua capacidade de resistir a tantos e tão drásticos desafios, mas também a potencialidade que mantinha para se recompor e mesmo para converter religiosamente e entusiasmar militantemente um número considerável de pessoas e em gerações sucessivas?».

A investigação académica conduziu-o à descoberta de protagonistas que desde os anos trinta do século XIX projetaram o Evangelho «numa sociedade crescentemente plural».

«Foi assim que, enquanto na lecionação de História da Igreja Contemporânea dei redobrada atenção a esta temática - seguindo, por exemplo, os debates internos do catolicismo oitocentista, sobretudo latino, em torno de católicos liberais e legitimistas -, na investigação pessoal e nalguns seminários comecei a acompanhar figuras e iniciativas que a pontualizaram entre nós e procuraram reafirmar a virtualidade católica para um Portugal “regenerado” ou “moderno”», prosseguiu.

O doutoramento, em 1992, e os estudos dedicados ao Movimento Católico em Portugal, reeditados 2012 na coletânea Igreja e sociedade portuguesa do liberalismo à república, permitiram a D. Manuel Clemente concluir que «a partir de 1843, houve sempre no catolicismo português quem compreendesse que a um mundo que se autonomizava em relação à Igreja tinha de responder uma reevangelização autonomizada em relação às opções políticas particulares; e que os meios laicizados requeriam uma militância mais repartida pelo conjunto dos crentes». 

 

Rui Jorge Martins
© SNPC | 17.06.13

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D. Manuel Clemente
Foto: SNPC

 

 

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