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«Por favor, paremos, paremos um pouco, e deixemo-nos reconciliar com Deus»: Papa Francisco no primeiro dia da Quaresma

Imagem O regresso do filho pródigo (det.) | Bartolome Esteban Murillo | 1670 | Museu do Prado, Madrid, Espanha | D.R.

«Por favor, paremos, paremos um pouco, e deixemo-nos reconciliar com Deus»: Papa Francisco no primeiro dia da Quaresma

O papa presidiu hoje à missa de Quarta-feira de Cinzas, que marca o início da Quaresma, na basílica de Santa Sabina, em Roma, onde apelou à interrupção da rotina para que favorecer o regresso a Deus.

«Nele [Cristo] nós podemos tornar-nos justos, nele podemos mudar, se acolhermos a graça de Deus e não deixarmos passar em vão esta ocasião favorável. Por favor, paremos, paremos um pouco, e deixemo-nos reconciliar com Deus», convidou Francisco, refere a Rádio Vaticano.

Na celebração, que começou com uma procissão penitencial iniciada na vizinha igreja de Santo Anselmo, o papa realçou a importância de pedir a Deus a graça do arrependimento autêntico, para que «à observância exterior corresponda uma profunda renovação do espírito».

«Far-nos-á bem a todos, mas especialmente a nós, sacerdotes, no início desta Quaresma, pedir o dom das lágrimas, para assim tornar a nossa oração e o nosso caminho de conversão cada vez mais autêntico e sem hipocrisia», apontou.

Francisco prosseguiu a homilia com uma proposta de meditação quaresmal: «Far-nos-á bem a todos perguntarmo-nos: "Eu choro? O papa chora» Os cardeais choram? Os bispos choram? Os consagrados choram? Os sacerdotes choram? O choro está nas nossas orações?».

Sem contrição e humildade, as obras de caridade que caracterizam a Quaresma tornam-se fingidas: «Os hipócritas não sabem chorar, esqueceram como se chora, não pedem o dom das lágrimas. Quando se realiza alguma coisa de bom, quase instintivamente nasce em nós o desejo de ser estimados e admirados por essa boa ação».

Jesus, por seu lado, convida a concretizar boas obras «sem qualquer ostentação, e a confiar unicamente na recompensa do Pai, que "vê no segredo", sublinhou.

Francisco centrou-se também na mudança pessoal de vida, a que se associa o sacramento da Reconciliação, porque cada pessoa está «sempre necessitada de penitência e de conversão», sendo esta a «verdade da existência humana».

«Quanto é importante ouvir e acolher esse chamamento no nosso tempo. O convite à conversão torna-se então um impulso a regressar, como fez o filho da parábola [do filho pródigo], aos braços de Deus, Pai terno e misericordioso, a chorar nesse abraço, a confiar nele e a confiar-se a Ele», observou.

O que quer dizer voltar a Deus? «[Significa] empreender o caminho de uma conversão não superficial e transitória, mas um itinerário espiritual que examina cuidadosamente o lugar mas íntimo da nossa pessoa».

Nesta viagem de regresso, não há que ter medo, porque a «misericórdia» divina «nunca» ter fim: «[Deus] convida-nos a voltar para Ele com um coração novo, purificado do mal, purificado pelas lágrimas, para tomar parte na sua alegria».

Após a homilia, o cardeal Jozef Tomko depôs cinzas sobre a cabeça do papa Francisco, ao mesmo tempo que proferia as palavras bíblicas «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás-de voltar».

A seguir, o papa repetiu o gesto em alguns dos participantes na missa, entre os quais cardeais, uma família com três filhos, monges beneditinos da igreja de Santo Anselmo e padres dominicanos da basílica de Santa Sabina.

Produto da combustão de algo consumido pelo fogo, a cinza adquiriu na Bíblia, já no Antigo Testamento, o sentido simbólico de morte e extinção, bem como, de humildade e penitência.

Na Quarta-feira de Cinzas, anterior ao primeiro domingo da Quaresma e dia que se segue ao Entrudo, realiza-se nas missas o gesto simbólico da imposição das cinzas na cabeça, fruto da cremação de palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior.

Além da frase proferida na missa presidida pelo papa, a liturgia prevê outra que pode ser usada aquando da imposição: «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

As cinzas lembram a necessidade de conversão, a caducidade do ser humano e a destruição do mal para dar lugar à vida em plenitude, que na Vigília Pascal são simbolizados pela luz e pela água do Batismo.

A Quaresma é um período de 40 dias, exceto os domingos, que começa na Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-feira Santa (este ano a 2 de abril).

A espiritualidade deste período, orientada para a celebração da morte e ressurreição de Jesus, concentrados no denominado Tríduo Pascal (de Quinta-feira Santa a Domingo de Páscoa), apela a maior intensidade na oração, jejum e partilha de bens.

Nas missas celebradas durante a Quaresma não se entoa o "Aleluia" nos cânticos, a ornamentação é marcada pela austeridade (sem flores nem música instrumental), e os paramentos são roxos, exceto no quarto domingo, "Lætare", em que se pode usar a cor rosa.


 

Rui Jorge Martins
Publicado em 18.02.2015 | Atualizado em 26.04.2023

 

 
Imagem O regresso do filho pródigo (det.) | Bartolome Esteban Murillo | 1670 | Museu do Prado, Madrid, Espanha | D.R.
Nesta viagem de regresso, não há que ter medo, porque a «misericórdia» divina «nunca» ter fim: «[Deus] convida-nos a voltar para Ele com um coração novo, purificado do mal, purificado pelas lágrimas, para tomar parte na sua alegria»
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