Em louvor do Porto
Sempre me senti muito atreito e preso da beleza do Porto durante a minha adolescência e juventude. Estas admiráveis etapas da minha vida passei-as no Porto, em casa do meu simpático padrinho. Não admira, pois, que sinta sempre uma alegria intensa ao ouvir dizer bem do Porto. O contrário também é verdadeiro. Sinto imensa tristeza quando oiço dizer mal do Porto. Não dizer nada desta cidade também gera no meu espírito uma sensação de tristeza. É uma atitude negativa que eu procuro digerir como posso. Confesso que, infelizmente, me habituei a conviver com o silêncio e apagamento daquilo que o Porto é e nos dá.
Todo este arrazoado foi escrito porque me centrei no que se está a passar na cidade do Porto sob o aspecto turístico. Aquilo que, até agora, não ultrapassava as muralhas do silêncio, de repente, é alcandorado aos lugares cimeiros do turismo português e da Europa, recentemente: “Porto eleito Melhor Destino Europeu 2014”.
O Porto passou a ser um dos lugares privilegiados que um turista pode desfrutar em Portugal, quer sob o aspecto paisagístico, monumental e até gastronómico. Os órgãos de informação atuais não se cansam de apontar o Porto como o melhor lugar turístico de Portugal, com um atrativo e uma beleza inexcedíveis. Ultimamente, a apologia do Porto quase que passou a ser um lugar comum.
Ao constatar o sistemático apreço e louvor pelo Porto, outrora tão esquecido, tão viuvinho de apreço e de louvor, fico encantado e muito contente. Finalmente faz-se justiça à beleza do Porto e às qualidades dos seus habitantes.
Assim o Porto foi alcandorado ao lugar cimeiro das terras mais belas de Portugal e ultrapassou as barreiras do futebol.
Recordei-me, nesta altura, dum facto de que fui testemunha presencial. Um dia fui encarregado de acompanhar dois cidadãos austríacos que se propunham visitar a Europa e fazer uma reportagem fotográfica e descritiva de tudo o que havia de mais belo no continente europeu.
Dados os laços de amizade que me unem à Áustria, país donde trouxemos 6.000 crianças no período pós-guerra, logo me prontifiquei, muito gostosamente, a percorrer os vários lugares de interesse do Porto. Os dois austríacos não esconderam o seu enorme contentamento pela minha disponibilidade para os acompanhar e, com uma sensação de prazer e alegria, começámos a nossa digressão turística pelo norte de Portugal.
Mostrei-lhes o Porto com o que tinha de melhor e mais artístico. Depois passei a Vila Nova de Gaia e, aqui, subi à Serra do Pilar. Quando os meus companheiros chegaram lá, ficaram deslumbrados e extasiados com o que viram na direção do Porto e Gaia. As palavras que lhes ouvi ficaram indelevelmente gravadas no meu espírito. Ei-las:
«Temos visto muitas coisas belas na Europa que estamos a percorrer, mas o panorama que estamos a contemplar no Porto e em Gaia é, de longe, o mais belo que temos visto nesta nossa digressão. Temos a impressão de que os portugueses não sabem apreciar devidamente a beleza do Porto com o seu casario, com o seu rio e as suas belas margens, as suas pontes, os seus monumentos, numa palavra, de toda a panóplia de coisas belas que o Criador espalhou entre vós.»
Penso que estas palavras laudatórias são, para nós, motivo de orgulho e alegria.
Finalmente, o Porto consegue vencer as barreiras dum cinzentismo antipático e injusto, que não deixava ver o que ele tinha de belo e bom.
Alexandrino Brochado
In Voz Portucalense, 26.2.2014
26.02.14
Foto: D.R.