«Rajni Devi era um bebé quando os pais se aperceberam de que os seus pés não se estavam a desenvolver como o esperado. No centro de saúde da povoação os médicos disseram-lhe que ela tinha sido afetada pela poliomielite.

"Quanto se tem uma criança com deficiência em casa, a vida torna-se difícil. Eu não tinha dinheiro para a tratar e tudo o que eu fazia era rezar a Deus e buscar a sua ajuda para a minha filhinha", afirmou o pai de Devi, Sudhakar Mehar.»

O agricultor que vive na remota povoação de Bisnah no estado indiano mais a norte, Jammu e Caxemira, declarou que o seu rendimento diário "não era sequer suficiente para alimentar a família".

Mas a ajuda veio da Sociedade do Serviço Social Católico, que lançou um programa de reabilitação para crianças com deficiência no lugarejo, 12 anos depois de Devi ter sido diagnosticada.»

Estes são os quatro primeiros parágrafos da peça "A Igreja no Caxemira oferece esperança às pessoas com deficiência", publicada a 1 de fevereiro na página UCA News. O autor, o jornalista independente indiano Umar Manzoor Shah, foi distinguido a 7 de junho, em Bruxelas, com o prémio Lorenzo Natali, da Comissão Europeia.

«Em 2015, "eles [Serviço Social Católico] levaram-na ao médico para uma operação e forneceram assistência financeira. Agora ela consegue andar e brincar com as outras crianças", disse Meher sobre a filha, que tem hoje 16 anos e quer ser professora.

O P. Saiju Chacko, diretor do Serviço Social da diocese de Jammu-Sringar, que abrange todo o estado, afirmou que a instituição está a apoiar atualmente 72 crianças e tem planos para expandir o projeto», refere o artigo.

O estado de Jammu e Caxemira terá 361 mil pessoas com deficiência, de acordo com estatísticas oficiais, mas investigações independentes apontam para o dobro.

As deficiências ortopédicas, em particular, têm vindo a aumentar por causa dos conflitos que ocorrem na região, onde militantes islâmicos combatem forças governamentais para que o estado, o único de maioria muçulmana na Índia, seja integrado no Paquistão, país com que faz fronteira, assinala o texto premiado.

Sunny Ram é outro exemplo das crianças que têm sido ajudadas pela Igreja: Nascido com uma deficiência na perna, foi impedido de frequentar a escola pelos pais, receosos de que o filho fosse alvo de maus tratos.

«"Nós queríamos que ele estudasse mas não tínhamos dinheiro para o tratar. Mais tarde o Serviço Social da Igreja veio em nosso auxílio", explicou Ram Chandar, pai de Sunny.

O Serviço Social levou Sunny para a capital nacional, Nova Deli, onde foi operado. O rapaz que tem agora 10 anos vai à escola e a Igreja está a apoiar a sua educação», lê-se no artigo.

«O diretor adjunto da Sociedade de Serviço Social Católico, P. Prem Tigga, afirmou que os programas acentuam que as pessoas com deficiência não devem ser tratadas como um tabu e que, apesar das suas limitações, podem contribuir para a sociedade», conclui a peça.

Nascido em 1986 e licenciado em Jornalismo no ano de 2009, Umar Shah escreve para vários meios de comunicação sobretudo sobre temas relacionados com a guerra e conflitos, relata a página UCA News, ligada à Igreja católica.

«As suas históricas centram-se em dar voz a partes desfavorecidas da sociedade, como as doenças mentais entre as pessoas que vivem em regiões de conflito como o Caxemira, histórias relacionadas com mulheres pobres e crianças com deficiência e agricultores que lutam pela sobrevivência», salienta a agência de notícias.

O prémio Lorenzo Natali, que na edição de 2017 recebeu 500 candidaturas, declina-se numa distinção principal e em várias de âmbito regional, entre as quais se encontra o artigo de Umar Shah (categoria Amador). Todas privilegiam peças sobre desenvolvimento, erradicação da pobreza e liberdade religiosa.