Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura

Igreja católica em diálogo: «Não interessa se é de direita ou de esquerda», importa procurar «verdade do ser humano»

Imagem Cartaz (det.) | D.R.

Igreja católica em diálogo: «Não interessa se é de direita ou de esquerda», importa procurar «verdade do ser humano»

A arquidiocese de Braga, através da plataforma “Nova Ágora”, realiza hoje o primeiro de três colóquios inseridos no ciclo “Olhares sobre…”, que visa promover a discussão de questões fulcrais no presente e futuro de Portugal.

«A ideia é exatamente dizer que a Igreja se abre ao mundo e que quer dialogar com o mundo e que convida gente. Não interessa se é de direita ou de esquerda ou qual o partido», explicou o padre Eduardo Duque, de 41 anos, à Renascença.

Na génese do projeto, que decorre pelo segundo ano consecutivo, está a escuta de pessoas que reflitam «sobre as temáticas com seriedade e que o façam à procura da verdade do ser humano», acrescentou.

«Aquilo que pensamos foi escolher temas muito centrais da nossa sociedade para que, em conjunto, possamos conversar, pensar e no fundo apontar alguns caminhos por onde caminhar», sublinhou o sacerdote, que coordena a ação da arquidiocese de Braga no ensino superior e é capelão da Universidade Católica.

Em entrevista publicada hoje na página do jornal “Expresso”, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, sublinha que o evento «significa um novo modo de a Igreja acompanhar os problemas do momento. O projeto de Cristo é um projeto humanista, o que significa que tudo o que diz respeito à vida do homem interessa à Igreja».

“Olhares sobre o trabalho” é o tema da sessão de hoje, que a partir das 21h00 conta com a participação do Ministro da Economia, Caldeira Cabral, do ex-secretário-geral da central sindical CGTP, Carvalho da Silva, do vice-presidente do Centro Económico e Social Europeu, Gonçalo Lobo Xavier, e do comentador e ex-ministro Luís Marques Mendes, que modera o debate.

«Salários em atraso, condições de trabalho precárias, sobrecarga de horários na ânsia da produção» são algumas dos problemas apontados pelo prelado, responsável pela Pastoral Social da Igreja católica, que pede ao Governo para fazer «um esforço de trabalho para todos e com dignidade».

O arcebispo refere que «são muitos os que batem à porta da diocese à procura de emprego»: «São sobretudo jovens, mas também pessoas entre os 40 e os 50 anos, uma idade em que é cada vez mais difícil regressar ao mercado de trabalho. Sentimos uma grande limitação, não temos capacidade de resposta».

«A juventude vive muito desencantada, os pais preocupados de os ver em casa. Muitos têm deixado o país, até porque emigrar hoje não tem a carga de drama que teve no passado. Partem para o estrangeiro com otimismo, embora saibam que encontrarão dificuldades nos primeiros meses. Temos freguesias onde já se pode falar de desertificação», assinala D. Jorge Ortiga.

O Auditório Vita, em Braga, está com a lotação esgotada para o encontro de hoje, depois de ter sido atingido o número limite de 530 inscrições, pelo que a sessão pode ser seguida em direto através da página da Nova Ágora, refere uma nota de imprensa enviada ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Na próxima semana, a 4 de março, no grande auditório do Parque de Exposições de Braga, realiza-se uma reflexão sobre Educação, com António Guterres, ex-primeiro-ministro e candidato a secretário-geral das Nações Unidas, Laborinho Lúcio, ex-ministro da Justiça, e Eduardo Marçal Grilo, ex-ministro da Educação, com moderação da jornalista Fátima Campos Ferreira.

«A educação foi no passado e é no presente um grande problema, uma área de grande envolvimento da Igreja. A missão da Nova Ágora é que se faça uma reflexão demorada sobre os novos caminhos da educação, pois vejo com apreensão as mudanças contínuas no sistema de ensino», declara o arcebispo de Braga, arquidiocese que em 2012 acolheu o primeiro e único encontro em Portugal do Átrio dos Gentios, plataforma da Igreja católica para o diálogo entre crentes e não crentes.

D. Jorge Ortiga considera que «na educação é preciso convergir, mesmo que os partidos tenham visões diferentes»: «Estamos a lidar com crianças, e por vezes parece que estamos a brincar com “cobaias”».

Questionado sobre o motivo do convite a António Guterres, o prelado frisa que «a educação não é apenas académica, de ensino e transmissão de conhecimentos. Educação é desenvolvimento e adoção de valores. A experiência de António Guterres é muito rica, poderá dizer-nos, a nós, Igreja, e à sociedade como educar para a solidariedade, num apelo à consciência de que o mundo é uma casa comum».

O escultor Rui Chafes, Prémio Pessoa 2015, o escritor Mário Cláudio e o dramaturgista Pedro Sobrado são os convidados para a última sessão do ciclo, dedicada à arte em Portugal, que se realiza a 11 de março, com moderação da jornalista Maria João Costa.

O prelado recorda que «na missão da Igreja» são consideradas as dimensões da «verdade», do «bem» e do «belo», que nem sempre tiveram uma aproximação equilibrada: «Houve períodos em que nos fixámos demasiado na verdade, conceito de verdade que permitiu a não liberdade de opinião e pensamento. Isto hoje está ultrapassado no nosso país, enquanto o bem hoje é olhado com um certo relativismo».

«Lembro-me de uma frase que o papa Bento XVI deixou ficar no Centro Cultural de Belém, quando saudado por Manoel de Oliveira: “Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza.” Espero esta mensagem esteja presente no auditório Vita», afirmou D. Jorge Ortiga.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 29.02.2016

 

 

 
Imagem Cartaz (det.) | D.R.
«Salários em atraso, condições de trabalho precárias, sobrecarga de horários na ânsia da produção» são algumas dos problemas apontados pelo arcebispo de Braga, que pede ao Governo para fazer «um esforço de trabalho para todos e com dignidade»
«A educação foi no passado e é no presente um grande problema, uma área de grande envolvimento da Igreja. A missão da Nova Ágora é que se faça uma reflexão demorada sobre os novos caminhos da educação, pois vejo com apreensão as mudanças contínuas no sistema de ensino»
«Lembro-me de uma frase que o papa Bento XVI deixou ficar no Centro Cultural de Belém, quando saudado por Manoel de Oliveira: “Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza.” Espero esta mensagem esteja presente no auditório Vita»
Relacionados
Destaque
Pastoral da Cultura
Vemos, ouvimos e lemos
Perspetivas
Papa Francisco
Teologia e beleza
Impressão digital
Pedras angulares
Paisagens
Umbrais
Evangelho
Vídeos