Jornada da Pastoral da Cultura dará mais razões para não desistir
Fará no próximo dia 08 de dezembro 49 anos (08.12.1965) que os padres conciliares do Concílio Vaticano II, aprovaram um dos seus documentos maiores: a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (sobre a Igreja no mundo contemporâneo).
No seu número 75 pode ler-se: «É plenamente conforme com a natureza do homem que se encontrem estruturas jurídico-políticas nas quais todos os cidadãos tenham a possibilidade efetiva de participar livre e ativamente, dum modo cada vez mais perfeito e sem qualquer discriminação, tanto no estabelecimento das bases jurídicas da comunidade política, como na gestão da coisa pública e na determinação do campo e fim das várias instituições e na escolha dos governantes». E recorda, a seguir, o direito e o dever que «todos os cidadãos (…) têm de fazer uso do seu voto livre em vista da promoção do bem comum».
Antes, contudo, no número 31, afirma que «mal poderá (…) o homem chegar a este sentido de responsabilidade, se as condições de vida lhe não permitirem tornar-se consciente da própria dignidade e responder à sua vocação, empenhando-se no serviço de Deus e dos outros homens. Ora a liberdade humana com frequência se debilita quando o homem cai em extrema miséria, e degrada-se quando ele, cedendo às demasiadas facilidades da vida, se fecha numa espécie de solidão dourada. Pelo contrário, ela robustece-se quando o homem aceita as inevitáveis dificuldades da vida social, assume as multiformes exigências da vida em comum e se empenha no serviço da comunidade humana».
Estes dois textos estabelecem um desejável quadro social, do qual derivam direitos e deveres. Recordam, também, circunstâncias, de diferente sentido, que afastam o homem da realização deste projeto.
Olhando para a realidade do nosso País, com sinais preocupantes e atuais de alheamento social, onde podem encontrar-se explicações? Nas perturbantes alterações das condições de vida? Na degradação consequente a um isolamento individualista?
Em saúde, a identificação da terapia adequada pressupõe um diagnóstico ajustado à realidade.
O texto sugere a leitura verdadeira da realidade social e pessoal e o compromisso comunitário.
Em nome da Comissão Episcopal e do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura agradeço a generosa participação dos nossos ilustres convidados que nos ajudarão a refletir sobre esta importante e urgente temática. Agradeço, igualmente, a vossa interessada participação, bem como o acolhimento da Domus Carmeli.
Os nossos convidados não procedem do mundo da Teologia, mas de variadas áreas de intervenção na vida do nosso País. Partilham todos o denominador comum de uma matriz cultural com as marcas dos valores cristãos. Estou certo de que a sua contribuição à nossa reflexão ajudará a verificar a atualidade das palavras do Papa Francisco na exortação apostólica A Alegria do Evangelho (EG 68): «Não convém ignorar a enorme importância que tem uma cultura marcada pela fé, porque, não obstante os seus limites, esta cultura evangelizada tem, contra os ataques do secularismo atual, muitos mais recursos do que a mera soma dos crentes. Uma cultura popular evangelizada contém valores de fé e solidariedade que podem provocar o desenvolvimento duma sociedade mais justa e crente».
A oportunidade desta Jornada de reflexão, assumidamente virada para a nossa Sociedade, dar-nos-á mais razões, para, especialmente em nome dos mais desfavorecidos, não desistir. «Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia, escreve o Papa Francisco (EG 85), é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre. Ninguém pode empreender uma luta, se de antemão não está plenamente confiado no triunfo. Quem começa sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os seus talentos».
A nossa reflexão vai desenvolver-se - assim o espero - tendo à vista este contexto cultural, social e pessoal.
Bom trabalho!
+Pio Alves
Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais
10.ª Jornada da Pastoral da Cultura, Fátima, 30.5.2014 (intervenção de abertura)
© SNPC |
30.05.14
D. Pio Alves
Fernando Ulrich afirma que «mercado» não chega para resolver desemprego, elogia portugueses e critica papa
«Uma das dificuldades da sociedade portuguesa é afirmar valores absolutos», diz João Lobo Antunes
10.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura