Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura

Jornadas da "Escola de Música da Sé de Évora" estudam e interpretam obra de Frei Manuel Cardoso

Imagem Sé de Évora | rjm | D.R.

Jornadas da "Escola de Música da Sé de Évora" estudam e interpretam obra de Frei Manuel Cardoso

A Associação Eborae Mvsica promove, no convento dos Remédios e na catedral, em Évora, de 30 de setembro a 2 de outubro, as 19.ªs Jornadas Internacionais "Escola de Música da Sé de Évora", com inscrições abertas até 20 de setembro.

O programa integra a realização de concertos na catedral, a 1 de outubro, às 19h00, pelo Officium – Ensemble Vocal, e dia 2, às 17h00, pelo Coro Polifónico ”Eborae Mvsica”, seguido pelo Coro dos Participantes nas jornadas.

A iniciativa, que este ano estudará e interpretará obras do organista e compositor Frei Manuel Cardoso, tem como objetivo divulgar o espólio da Escola de Música da Sé de Évora, que nos séculos XVI e XVII integrou autores como Duarte Lobo, Diogo Dias Melgaz, Estêvão Lopes Morago, entre outros.

As jornadas, que incluem uma conferência e ateliês, visam também dar a conhecer formas de abordagem diferentes daquele reportório, aprofundar técnicas vocais de interpretação, criar intercâmbios de saberes, vivências e culturas e abrir-se à participação da comunidade.

A 30 de setembro, pelas 14h00, decorre uma visita guiada ao Museu de Arte Sacra (antigo Colégio dos Moços da Sé de Évora, instituição criada em 1552 e onde Frei Manuel Cardoso iniciou os estudos musicais) e a obras dos Arquivos da Sé de Évora.

A Associação “Eborae Mvsica”, que remonta a 1987, tem como finalidade primordial «a divulgação dos grandes Mestres polifonistas da Escola de Música da Sé de Évora».

 

Frei Manuel Cardoso

De raiz alentejana, Frei Manuel Cardoso nasceu na vila de Fronteira nos primeiros dias do mês de dezembro de 1566, tendo sido conduzido à pia batismal da Matriz no dia 11 do mesmo mês. Foram seus pais Francisco Vaz e Isabel Cardosa, modestos proprietários do agro alentejano.

Partindo do princípio de que o pequeno Manuel Cardoso entrou no Colégio com 9 anos de idade, portanto em 1575, teria terminado os oito anos que lhe davam os Estatutos em 1583, quando contava 17 anos. Vê-se que não perdeu o tempo e que tanto no estudo da Gramática como no da arte da música «se applicou tanto, que em pouco tempo se fez destro nella, e depois estudou contraponto, e se grangeou os applausos de excellente Compositor, e a honra de fazer o compasso na Cathedral da dita Cidade» de Évora. Desta afirmação do cronista da Ordem do Carmo concluímos duas coisas: em primeiro lugar a convicção de Frei Manuel de Sá de que toda a formação artística e humanística de Manuel Cardoso decorreu em Évora; e, em segundo lugar que, se era uma honra para alguém fazer o compasso na Catedral eborense, é porque o seu prestígio artístico era muito grande.

Manuel Cardoso tomou o hábito no Convento do Carmo, em Lisboa, no dia primeiro de julho de 1588, professando em 5 do mesmo mês do ano seguinte. Viveu nesse convento o longo espaço de 62 anos, uma vida. Isto não quer dizer que ali tenha permanecido sem ver o mundo por fora das paredes conventuais, porque sabemos que saiu várias vezes, chegando mesmo a deslocar-se à Corte de Madrid. Mas foi no Carmo que teve a sua cela e no Carmo escreveu toda a sua vasta obra musical. Esta permanência implica uma fidelidade exemplar à Regra Carmelitana que assentava na oração, no silêncio, na prática austera do jejum e noutros preceitos conducentes à finalidade própria dos carmelitas para os quais a devoção a Nossa Senhora era um dever imposto ao coração.

Por outro lado, o Carmo de Lisboa gozava de um prestígio singular, avolumado pelo tempo e pelas circunstâncias, qual era o de ter sido fundado pelo Condestável D. Nuno Álvares Pereira, figura histórica carismática e sombra tutelar das gerações de frades carmelitas que por ali passavam, fossem simples donatos, como o Fundador, coristas ou padres.

Quando em 1613 publicou o primeiro livro de composições, dedicou-o, não a um personagem vivo e influente, mas exatamente ao Condestável D. Nuno Álvares Pereira, a quem se refere em termos repassados de admiração a um tempo religiosa e patriótica.

Das suas virtudes como carmelita cumpridor dos rigores da Regra, fala o cronista nestes termos: «No comer foi muito parco, na modéstia singular, na guarda do silencio vigilantissimo, nos votos essenciais observantissimo, na pobreza tão pontual, que nunca teve cousa própria... ».

Frei Manuel Cardoso usufruiu de oportunidades excecionais para se sentir envaidecido através das relações que muito cedo se estabeleceram entre ele e o Duque de Barcelos, depois Duque de Bragança e finalmente, Rei de Portugal, D. João. Não sabemos quando terão começado essas relações artísticas, mas sabemos que se deslocou (sem dúvida, a pedido de D. João) a Vila Viçosa mais do que uma vez.

A admiração e a estima de D. João IV pelo frade do Carmo foi tal que lhe mandou fazer o retrato para enriquecer a sua Livraria de Música, dando-lhe o primeiro lugar entre outros mestres insignes cujas efígies ornamentavam os espaços livres das estantes recheadas de músicas, impressas e manuscritas, no Paço da Ribeira.

Além de Mestre da Capela durante quase toda a sua vida, Frei Manuel Cardoso foi eleito Superior, cargo que exerceu muitos anos; e «a dita ocupação exercitou com tanta perfeição, que ainda há vivas memórias na tradição de uns a outros do zelo, que teve no mesmo emprego; assim na observância das cerimónias, como também na pausa, e devoção, com que fazia celebrar os Oficias Divinos no coro, e em fazer assistir a ele os Religiosos moços, que estavam debaixo da sua jurisdição». Mais: «Por ser tão ilustre Varão, no Capítulo que se celebrou neste Convento aos treze de maio de 1628, o fizeram terceiro Definidor; o que tornou a ser no Capitulo do ano de mil e seis centos e quarenta e quatro.» E quando o Padre Mestre Frei João Coelho foi eleito Provincial pela segunda vez, escolheu, para seu Vigário, Frei Manuel Cardoso, apesar da avançada idade, que já andava pelos 81 anos.

A caminhada já era longa; mas ainda lhe deu ensejo de ver, aos 82 anos, sair da Oficina que lhe imprimira todos os livros, o último, datado de 1648. Morreu a 24 de novembro de 1650, aos 84 anos.

Frei Manuel Cardoso é o compositor português com maior número de livros impressos em vida. Muitas das suas obras terão desaparecido na sequência do sismo de 1 de novembro de 1755. Algumas das composições que se mantiveram intactas foram gravadas por maestros e agrupamentos portugueses e estrangeiros.

 

Biografia de Frei Manuel Cardoso: José Augusto Alegria (in "Frei Manuel Cardoso compositor português (1566-1650)", Instituto de Cultura e Língua Portuguesa Ministério da Educação e Cultura, 1983)
Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 24.08.2016

 

 

 
Imagem Sé de Évora | rjm | D.R.
Manuel Cardoso tomou o hábito no Convento do Carmo, em Lisboa, no dia primeiro de julho de 1588, professando em 5 do mesmo mês do ano seguinte. Viveu nesse convento o longo espaço de 62 anos, uma vida. Isto não quer dizer que ali tenha permanecido sem ver o mundo por fora das paredes conventuais, porque sabemos que saiu várias vezes
Quando em 1613 publicou o primeiro livro de composições, dedicou-o, não a um personagem vivo e influente, mas exatamente ao Condestável D. Nuno Álvares Pereira, a quem se refere em termos repassados de admiração a um tempo religiosa e patriótica
A admiração e a estima de D. João IV pelo frade do Carmo foi tal que lhe mandou fazer o retrato para enriquecer a sua Livraria de Música, dando-lhe o primeiro lugar entre outros mestres insignes cujas efígies ornamentavam os espaços livres das estantes recheadas de músicas, impressas e manuscritas, no Paço da Ribeira
«Por ser tão ilustre Varão, no Capítulo que se celebrou neste Convento aos treze de maio de 1628, o fizeram terceiro Definidor; o que tornou a ser no Capitulo do ano de mil e seis centos e quarenta e quatro.» E quando o Padre Mestre Frei João Coelho foi eleito Provincial pela segunda vez, escolheu, para seu Vigário, Frei Manuel Cardoso, apesar da avançada idade, que já andava pelos 81 anos
Relacionados
Destaque
Pastoral da Cultura
Vemos, ouvimos e lemos
Perspetivas
Papa Francisco
Teologia e beleza
Impressão digital
Pedras angulares
Paisagens
Umbrais
Evangelho
Vídeos