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Músico Mazgani e chefe Kiko falam sobre "Deus e os sentidos"

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Músico Mazgani e chefe Kiko falam sobre "Deus e os sentidos"

O mais recente livro de José Tolentino Mendonça, "A mística do instante", é o pretexto para o encontro "Deus e os sentidos", que vai reunir o autor da obra com o músico Mazgani e o chefe Kiko Martins.

Nascido no Irão, o escritor de canções, cantor e guitarrista Shahryar Mazgani deixou o país de origem, com os pais, após a revolução de 1979, tendo-se estabelecido em Portugal.

Kiko Martins, com a mulher, viveu um ano em África, integrado num projeto dos Leigos para o Desenvolvimento, organismo ligado à Companhia de Jesus (Jesuítas) que atua preferencialmente na área da formação e educação.

A sessão, que decorre no dia 1 de dezembro, às 18h30, na loja Fnac do centro comercial Colombo, em Lisboa, é moderada pelo jornalista António Marujo.

No livro publicado pela Paulinas Editora, Tolentino Mendonça defende uma «espiritualidade que encare os sentidos como caminho que conduz e porta que nos abre ao encontro de Deus».

«Os sentidos do nosso corpo abrem-nos à presença de Deus no instante do mundo. Em boa saúde, temos ao nosso dispor cinco sentidos (tato, paladar, olfato, visão e audição), mas a verdade e que não os  aperfeiçoamos a todos devidamente, ou, pelo menos, não os temos desenvolvidos da mesma maneira», refere o autor.

Dois excertos do livro, sobre o sabor e a escuta:

«Na segunda anotação dos seus "Exercícios espirituais", Santo Inácio de Loyola explicava: "Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas sim sentir e saborear internamente todas as coisas". Estes dois verbos, "sentir" e "saborear" resumem muito da proposta de experiência de Deus que ele nos faz. É numa viagem interior que entramos, mas partindo dos nossos sentidos e das suas operações, dos sentimentos que investimos na vida e dos afetos que desenvolvemos. Só assim a experiência de Deus se pode tornar uma experiencia integral, que nos mobiliza efetivamente.

O paladar, por ele evocado, é um meio de conhecimento muito especial, pois permite-nos consciencializar das ressonâncias que um objeto ou um acontecimento exteriores têm quando transitam para o interior. O paladar não fala senão desta passagem. Nomeia os nossos registos de incorporação da vida e aquilo que aí privilegiamos: o prazer pelo prazer; o prazer afinado pela temperança; o prazer castrado, omitido. Importante é não ignorar estas ressonâncias, pois desconhecê-las é evitar o encontro consigo mesmo. O paladar é um elemento importante para toda a pedagogia mística.»

«A escuta talvez seja o sentido de verificação mais adequado para acolher a complexidade do que uma vida é. Contudo, escutamo-nos tão pouco e, dentre as competências que desenvolvemos, raramente está a arte de escutar.

Na Regra de São Bento há uma expressão essencial, se queremos perceber como se ativa uma escuta autêntica: "Abre o ouvido do teu coração". Quer dizer: a escuta não se faz apenas com o ouvido exterior, mas com o sentido do coração. A escuta não é apenas a recolha do discurso sonoro. Antes de tudo, é atitude, é inclinar-se para o outro, e disponibilidade para acolher o dito e o não dito, o entusiasmo da historia ou o seu avesso, a sua dor. (...)

E há também este paradoxo com o qual temos necessariamente de contar: a verdadeira escuta pede que nos tornemos surdos. Diz Evágrio Pôntico, mestre da vida interior: "Esforça-te por conservar o teu espírito surdo no tempo de oração e só assim poderás rezar". Que surdez é esta? É aquela que brota do abandono. Quando deixamos, deixamos, deixamos. A nossa escuta é permanentemente interrompida por urgências que se impõem, sobretudo falsas urgências, ficções que nos povoam e barram o abraçar do
instante. Sempre que a nossa escuta desiste de ir ate ao fim, ela desiste de si. Por isso Evágrio recomenda: "Torna-te surdo". A verdade é que se não formos capazes disso, não mergulharemos no silencioso oceano da escuta.»

 

Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 20.11.2014 | Atualizado em 22.04.2023

 

 
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O paladar nomeia os nossos registos de incorporação da vida e aquilo que aí privilegiamos: o prazer pelo prazer; o prazer afinado pela temperança; o prazer castrado, omitido
Há também este paradoxo com o qual temos necessariamente de contar: a verdadeira escuta pede que nos tornemos surdos
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