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Arte: Uma “Natividade” original, entre descrença e luz

Arte: Uma “Natividade” original, entre descrença e luz

Imagem "A Natividade" (det.) | Robert Campin | 1420-1425 | Museu das Belas-Artes, Dijon. França

A pintura que apresentamos (1420-25), de Robert Campin, é extremamente original por incluir várias diferenças em relação a outras obras de arte sobre o mesmo tema. Entre as dissemelhanças está a representação de duas mulheres. Quem são?

Trata-se de Zelemi (de costas) e Salomé (de frente), personagens que aparecem nos evangelhos apócrifos. A sua identificação é possível graças aos pergaminhos que contêm os seus nomes. 

E porquê duas parteiras durante o nascimento de Jesus? Segundo os apócrifos, José, vendo que o parto estava iminente, partiu em busca de ajuda e encontrou Zelemi, a quem explica a situação e convence a acompanhá-lo; Salomé junta-se a eles mais tarde.

Segundo a Lenda de Jacques de Voragine, Zelemi reconhece que o nascimento de Jesus não alterou a virgindade de Maria, enquanto Salomé recusa acreditar até que tal lhe seja provado. O pergaminho em cima da sua cabeça contém a inscrição latina “Credam quin probavero”, só acreditarei quando for verificado. No mesmo instante a sua mão direita desseca-se.



Imagem "A Natividade" | Robert Campin | 1420-1425 | Museu das Belas-Artes, Dijon. França

A inquietude lê-se claramente no rosto de Salomé. O anjo que voa sobre ela traz outro pergaminho no qual está escrito: “Tange puerum et sanaveris”, toca o Menino e serás curada, o que ela faz, reencontrando então a utilização da mão.

A este episódio acrescenta-se o da adoração dos pastores, distinguindo-se três no centro do quadro, atrás de Maria.

Debaixo de uma construção de madeira em ruínas, a Virgem está de joelhos com as mãos erguidas, em sinal de adoração. Ela está revestida de uma túnica branca com um manto da mesma cor ornado de bordados dourados, o que rompe com as representações habituais, onde se vê Maria vestida de azul.

O Menino Jesus está deitado sobre a terra batida e o seu corpo está aureolado. Contrariamente ao que descreve o Evangelho segundo Lucas, Ele é representado aqui sem qualquer roupagem.

Esta representação evoca a história de Santa Brígida da Suécia, grande mística que recebeu perto do final da vida revelações sobrenaturais, nomeadamente sobre o nascimento de Jesus.



Os três anjos à esquerda estão vestidos de azul, verde e vermelho. As duas primeiras cores simbolizavam, na Idade Média, a esperança, e o vermelho e a caridade



Na sua narração ela diz que Maria tirou o seu grande manto branco, retirou o seu véu e deslaçou o seus cabelos louros. Depois de preparar os panos para o bebé, colocou-se de joelhos. Enquanto orava, de mãos levantadas, o Menino nasce subitamente, sem qualquer ajuda, rodeado de viva luz, tendo ficado nu sobre o solo.

A representação de Robert Campin é muito parecida à narração de Brígida da Suécia, ainda que tenha tomado a liberdade de representar as parteiras, que, se se segue a lógica da narrativa mística, não são úteis, tendo em conta o nascimento repentino e sem esforço do Menino.

Três anjos, em cima do estábulo, cantam o “Glória”, cujas palavras estão inscritas no seu pergaminho. Os três anjos à esquerda estão vestidos de azul, verde e vermelho. As duas primeiras cores simbolizavam, na Idade Média, a esperança, e o vermelho e a caridade. Uma combinação que simboliza diretamente a esperança da Salvação com a vinda de Jesus e o seu sacrifício por toda a humanidade.

José não foi aqui afastado para um canto da cena. Ele tem na mão uma vela, que protege do vento. Uma vela que lembra que Jesus nasceu na noite e que a obscuridade dá lugar à luz. Com efeito, ainda que o nascimento tenha decorrido de noite, a cena é representada na aurora, símbolo que faz do nascimento de Jesus a luz que apaga a escuridão das trevas.



 

Caroline Becker
In Narthex
Publicado em 27.12.2017

 

 
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