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Qual é o remédio para mudar um coração infeliz? Fazer-lhe sentir o amor, responde papa

Qual é o remédio para mudar um coração infeliz? Fazer-lhe sentir o amor, responde papa

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Nenhum de nós pode viver sem amor. E uma terrível escravidão em que podemos cair é acreditar que o amor deve ser merecido. Talvez boa parte da angústia do homem contemporâneo derive disto: acreditar que se não somos fortes, atraentes e belos, então ninguém se ocupará de nós. Muitas pessoas, hoje, procuram uma visibilidade apenas para preencher um vazio interior: como se fossem pessoas eternamente necessitadas de confirmação.

Imaginais um mundo onde todos mendigam motivos para suscitar a atenção de outros, e ninguém, ao contrário, está disposto a querer bem gratuitamente a uma outra pessoa? Imaginai um mundo assim, um mundo sem a gratuidade do querer bem. Parece um mundo humano, mas na realidade é um inferno. Muitos narcisismos do homem nascem de um sentimento de solidão, até de orfandade. Por trás de muitos comportamentos aparentemente inexplicáveis oculta-se uma pergunta: é possível que eu não mereça ser chamado pelo nome? Isto é, ser amado, porque o amor chama sempre pelo nome.



«Por amor o nosso Deus cumpriu um êxodo de si mesmo para vir encontrar-nos nesta terra onde era insensato que Ele passasse. Deus quis-nos bem mesmo quando estávamos errados»



Quando não se é amado, ou se sente que não se é, pode nascer a violência. Por trás de muitas formas de ódio social e de vandalismo está muitas vezes um coração que não foi reconhecido. Não existem crianças más, como não existem adolescentes totalmente maus, mas existem pessoas infelizes. E o que é que nos pode tornar felizes a não ser a experiência do amor dado e recebido? A vida do ser humano é uma troca de olhares: alguém que, ao olhar-nos, rasga o primeiro sorriso, e nós que, gratuitamente, sorrimos a quem está enclausurado na tristeza, e assim abrimos-lhe um caminho de saída. Troca de olhares, olhar nos olhos e abrem-se as portas do coração.

O primeiro passo que Deus realiza para nós é o de um amor antecipado e incondicional. Deus ama primeiro. Deus não nos ama porque em nós existe qualquer razão que suscita amor. Deus ama-nos porque Ele mesmo é amor, e o amor tende, pela sua natureza, a difundir-se, a doar-se. Deus não liga sequer a sua benevolência à nossa conversão: quanto muito esta é uma consequência do amor de Deus. S. Paulo di-lo de maneira perfeita: «Deus demonstra o seu amor para nós no facto de que, quanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós» (Romanos 5, 8). Enquanto éramos ainda pecadores. Um amor incondicional. Estávamos longe, como o filho pródigo da parábola: «Quando ainda estava longe, o seu pai viu-o, teve compaixão...». Por amor o nosso Deus cumpriu um êxodo de si mesmo para vir encontrar-nos nesta terra onde era insensato que Ele passasse. Deus quis-nos bem mesmo quando estávamos errados.



«É tempo de ressurreição para todos: tempo para reerguer os pobres do desencorajamento, sobretudo aqueles que jazem no sepulcro há muito mais tempo do que os três dias. Sopra aqui, sobre os nossos rostos, um vento de libertação. Germina aqui o dom da esperança»



Quem é que nos ama desta maneira a não ser quem é pai ou mãe? Uma mãe continua a querer bem ao seu filho mesmo quando ele está na prisão. Recordo muitas mães a fazer fila para entrar na prisão, na minha diocese, antes, muitas mães e não se envergonhavam, o filho estava na cadeia mas era o seu filho e sofriam muitas humilhações, mas eram filhos delas e apoiavam-nos; só este amor de mãe nos faz compreender o amor de Deus. Uma mãe não pede a eliminação da justiça humana porque cada erro exige uma redenção, mas uma mãe nunca para de sofrer pelo próprio filho. Ama-o mesmo quando é pecador.

Deus faz a mesma coisa connosco: somos os seus filhos amados! Pode acontecer que Deus tenha filhos que não ama? Não, todos somos amados por Deus. Não há qualquer maldição sobre a nossa vida, mas só uma benévola palavra de Deus, que tirou a nossa existência do nada. A verdade de tudo é essa relação de amor que liga o Pai ao Filho através do Espírito Santo, relação na qual nós somos acolhidos por graça. Nele, em Jesus Cristo, nós fomos queridos, amados, desejados. Há alguém que imprimiu em nós uma beleza primordial, que nenhum pecado, nenhuma escolha errada poderá alguma vez eliminar totalmente. Nós somos sempre, diante dos olhos de Deus, pequenos fontanários feitos para jorrar água boa. Disse-o Jesus à mulher samaritana: «Á água que Eu [te] darei tornar-se-á [em ti] uma fonte de água que jorra para a vida eterna»;.

Para mudar o coração de uma pessoa infeliz qual é o remédio? Qual é o remédio para mudar o coração de uma pessoa que não é feliz? É preciso, antes de tudo, abraçá-la. Fazer sentir-lhe que é desejada, que é importante, e deixará de estar triste. Amor chama amor de maneira mais forte de quanto o ódio chama a morte. Jesus não morreu e ressuscitou para si próprio, mas por nós, para que os nossos pecados sejam perdoados. Por isso é tempo de ressurreição para todos: tempo para reerguer os pobres do desencorajamento, sobretudo aqueles que jazem no sepulcro há muito mais tempo do que os três dias. Sopra aqui, sobre os nossos rostos, um vento de libertação. Germina aqui o dom da esperança. E a esperança é a de que Deus Pai nos ama como somos, ama-nos sempre, todos, bons e maus.»









 

Papa Francisco
Audiência geral, Vaticano, 15.6.2017
Trad.: SNPC
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Publicado em 14.06.2017 | Atualizado em 10.10.2023

 

 
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