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"O futuro também é feminino?" inaugura coleção de livros sobre as mulheres no mundo e na Igreja

Imagem Capa (det.) | D.R.

"O futuro também é feminino?" inaugura coleção de livros sobre as mulheres no mundo e na Igreja

A Paulinas Editora anunciou hoje o lançamento de uma nova coleção, "Feminino Plural", «composta por obras que refletem a pluralidade do universo das mulheres», nela abrangendo «perfis e temáticas do passado e de hoje, da história e da cultura, da sociedade e da Igreja».

O primeiro livro da coletânea, "O Futuro Também É Feminino? - As mulheres na Igreja e na teologia", é coordenado pela italiana Lucetta Scaraffia, responsável pelo suplemento mensal do jornal do Vaticano, "L'Osservatore Romano", intitulado "Mulher, Igreja, Mundo", foi recentemente renovado graficamente e ampliado em número de páginas.

«É claro que o problema do lugar das mulheres na Igreja não é simplesmente uma questão de poder, de abrir lugares de prestígio às mulheres, para que a Igreja se adapte à sociedade laica ocidental, à modernidade, mas algo muito mais profundo, que toca no próprio coração da teologia cristã», lê-se na apresentação do volume, a que o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura teve acesso.

Lucetta Scaraffia sublinha que «desde o seu início, o Cristianismo mudou profundamente o papel das mulheres. Com efeito, Jesus manteve com as mulheres que encontrou relações revolucionárias e, por conseguinte – em coerência com os Evangelhos –, o Cristianismo propôs desde as origens mudanças decisivas em prol da paridade entre mulheres e homens».

Estas mudanças, todavia, «muitas vezes se mostraram pouco eficazes, porque as sociedades patriarcais em que o Cristianismo se difundiu e afirmou introduziram claramente um filtro a esta novidade explosiva, adaptando-a às suas tradições culturais e transformando o Cristianismo numa religião de predominante hegemonia masculina».

«Algo deste abanão inicial se manteve vivo, provocou transformações significativas e deu frutos nas culturas de tradição cristã. Hoje, quase dois mil anos depois, são visíveis os resultados: nos países de matriz cultural cristã concretizou-se, finalmente, a igualdade entre os géneros. Não é por acaso que a emancipação das mulheres só foi pensada e levada a cabo nestes países, e que, por outro lado, seja tão difícil exportá-la para âmbitos culturais não tocados pelo Cristianismo», escreve a teóloga.

Para Lucetta Scaraffia, «a Igreja não deve só aceitar este apelo e limitar-se a adaptar-se a um modelo que agora é proposto a partir de fora; pelo contrário, deve voltar às suas raízes, deve reencontrar, no seio da sua história, as origens desta nova conceção do papel feminino: interrogando-se, relendo com novos olhos a Bíblia e redescobrindo com atenção renovada as vidas e os textos das mulheres que foram protagonistas na sua história milenar».

«Deste modo, o Cristianismo voltará a fecundar as sociedades com novas ideias e novos projetos: saberá sugerir a si mesmo novas soluções, propondo modelos novos e mais vitais de relação entre homens e mulheres», sustenta a coordenadora do volume.

Os estudos presentes no livro «procuram focar algumas questões essenciais que necessitam de ser esclarecidas», tendo sempre presente que se está «perante uma enorme mudança que requer muito trabalho, mas que também é portadora de liberdade e esperança».

«Um tema muito referido nas intervenções aqui recolhidas é a complementaridade entre mulheres e homens, velho cavalo de batalha da cultura católica desde o tempo da "Mulieris dignitatem". Um modelo que pretende contrapor, à conflitualidade e competição que a emancipação feminina trouxe às relações sociais e familiares, uma colaboração harmoniosa que tenha por finalidade o bem comum», explica o texto introdutório, referindo-se à carta do papa S. João Paulo II sobre a dignidade e a vocação da mulher, publicada em 1988.

No entender de Lucetta Scaraffia, «a proposta de complementaridade de João Paulo II – que teve o mérito de indicar, deste modo, o caminho para uma resposta católica à ideologia feminista – não se resolve insistindo nos papéis sexuais tradicionais. A sociedade mudou, as mulheres trabalham e afirmam-se no plano profissional, são ciosas da sua própria liberdade: a complementaridade deve ser constantemente reinventada, a partir das situações vividas e, sobretudo, em colaboração com as mulheres, que já não aceitam aderir a papéis propostos por outros».

«Por isso – e não se trata de uma condição secundária – a Igreja deve dar bom exemplo, para ser credível nas suas propostas. Coisa que não aconteceu a seguir à "Mulieris dignitatem", pois tudo na Igreja continuou como estava. É necessário o exemplo concreto, não basta evocar o valor positivo da diferença, e também da colaboração, é preciso dar prova concreta de que sabe e quer valorizá-la. A hierarquia eclesiástica, completamente masculina, em vez de ser a primeira a praticar a complementaridade no seu seio, continua a relegar as mulheres para os trabalhos mais baixos e menos importantes e, sobretudo, continua a não ouvi-las, a considerá-las interlocutores pouco ou nada interessantes, e menos ainda necessárias», sublinha a autora.

A estudiosa sugere um caminho que «reconheça um facto inegável: em algumas áreas – ou melhor, em quase todas – as mulheres podem realizar o mesmo trabalho que os homens. Embora, tal vez, de uma forma ligeiramente diferente. E se esta forma fosse melhor? Fosse mais próxima do ideal evangélico?».

«As mulheres acolheram no coração a mensagem evangélica, a ideia da relação com os outros centrada no serviço, que inverte todas as hierarquias humanas, que está na base das bem-aventuranças. Devemos, porém, recordar que não está escrito em lado algum que a virtude da humildade deva ser só apanágio do feminino», acentua.

A professora de História Contemporânea defende que «as mulheres são um tesouro que mantém de pé a Igreja com o seu trabalho e dedicação, mas que tem de ser redescoberto para que a Igreja possa finalmente voltar a ser inteira, respirar com os dois pulmões: o feminino e o masculino».

«Há muita necessidade desta grande mudança, há necessidade deste novo ar para descobrirmos juntos o que a colaboração entre mulheres e homens pode fazer, para vermos como pode ser criativa uma complementaridade que não esteja embalsamada em papéis rígidos e ultrapassados», prossegue a jornalista.

No entender da autora, «o problema da mulher na Igreja está intimamente ligado à figura da mulher ausente ou mortificada: enquanto esta situação não mudar, será muito difícil melhorar a relação total entre mulheres e homens na vida da Igreja, será muito difícil alcançar este tesouro escondido. Precioso, porque a condição feminina na Igreja, isto é, a impossibilidade de "fazer carreira", conduz muitas vezes a uma condição de extraordinária liberdade e profundidade espiritual. Seria verdadeiramente lamentável prescindir dela».

"Um amadurecimento especial da semente evangélica" (Pierangelo Sequeri), "A diferente vocação da mulher" (Maria Voce), "Um papel ao serviço da Igreja" (Barbara Hallensleben), "Mais fantasia para a Igreja" (GianPaolo Salvini), "Relações redimidas entre os sexos" (Sara Butler) e "A mulher pensa por si própria" (Cristiana Dobner) constituem os títulos e autores dos primeiros textos.

A obra completa-se com os artigos "Compreender plenamente a transformação" (Robert Peter Imbelli), "As questões das mulheres" (Elzbieta Adamiak) e "Colaboradoras do Criador" (Catherine Aubin), seguindo-se a transcrição da mesa redonda "Para se fazer uma profunda teologia da mulher".

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 20.05.2016

 

Título: O futuro é também feminino? - As mulheres na Igreja e na teologia
Coordenação: Lucetta Scaraffia
Editora: Paulinas
Páginas: 130
Preço: 9,50 €
ISBN: 978-989-673-523-4

 

 
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A proposta de complementaridade de João Paulo II – que teve o mérito de indicar, deste modo, o caminho para uma resposta católica à ideologia feminista – não se resolve insistindo nos papéis sexuais tradicionais. A sociedade mudou, as mulheres trabalham e afirmam-se no plano profissional, são ciosas da sua própria liberdade
A Igreja deve dar bom exemplo, para ser credível nas suas propostas. Coisa que não aconteceu a seguir à "Mulieris dignitatem", pois tudo na Igreja continuou como estava. É necessário o exemplo concreto, não basta evocar o valor positivo da diferença, e também da colaboração, é preciso dar prova concreta de que sabe e quer valorizá-la
As mulheres acolheram no coração a mensagem evangélica, a ideia da relação com os outros centrada no serviço, que inverte todas as hierarquias humanas, que está na base das bem-aventuranças. Devemos, porém, recordar que não está escrito em lado algum que a virtude da humildade deva ser só apanágio do feminino
Há muita necessidade desta grande mudança, há necessidade deste novo ar para descobrirmos juntos o que a colaboração entre mulheres e homens pode fazer, para vermos como pode ser criativa uma complementaridade que não esteja embalsamada em papéis rígidos e ultrapassados
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