Observatório da Cultura
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Igreja e Cultura

Uma obra pode não ser religiosa à primeira vista mas, «pela sua carga espiritual, tornar-se naturalmente cristã»

O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?

Vimos de um tempo em que havia literatura, editoras e imprensa expressamente católicas, que foram desaparecendo com a progressiva laicização e secularização da sociedade e da cultura. Mas nem sempre o que tinha rótulo “católico” era na verdade católico, isto é, universal. Uma literatura piedosa e um jornalismo de sacristia não era o melhor cartão de visita para entrar no mundo da cultura. Nesse mundo há quem procure e encontre, como Pascal, e quem, como Unamuno, se debata sempre em dramática, agónica dúvida.

Comentando o romance Deus nasceu no exílio do seu compatriota Vintila Horia, observa com finura Nicolae Steinhardt que “no livro, Cristo e o cristianismo não se mencionam; não se diz nada; tudo se sugere e se pressente; é virtual e iminente”. Assim deve ser numa literatura mais espiritual que devota.

O diálogo com os não-crentes é um caminho para chegar a consensos em matérias tão delicadas como o bem supremo da liberdade, a dignidade da pessoa, o respeito pela vida.

Aqui a Igreja tem dado passos decisivos ao repensar a cultura, não como um espaço fechado, mas aberto ao diálogo intercultural que não quer impor unilateral e dogmaticamente apenas a sua visão, sem abdicar de, ela própria, se centrar no essencial.

Em contrapartida, quem rasga as vestes na praça pública para discutir livros e autores que se movem pela ânsia de escândalo e lucro, torna-se aliado objetivo desses mesmos autores e seus produtos ou subprodutos.

Num mundo dessacralizado e mesmo militantemente ateu, impõe-se prestar a melhor atenção aos artistas que, à contracorrente, exercitam os seus dons e logram, na sua obra, conciliar estética e ética.

Uma obra pode não ser, prima facie, religiosa, mas, pela sua carga espiritual, tornar-se naturalmente cristã (vide o filme Águas Agitadas do norueguês Erik Poppe). A natureza-morta - neste momento objeto de uma grande exposição na Gulbenkian - não é arte sacra. Mas, por exemplo, em Morandi, as coisas - garrafas, jarros, copos - são como que transfiguradas e diremos mesmo humanizadas. Como disse alguém, esses objetos de distraído uso quotidiano aparecem numa ascética atmosfera metafísica. Dir-se-ia que retomam a lição franciscana de reverenciar todas as coisas criadas.

 

Este depoimento integra a edição de novembro de 2011 do "Observatório da Cultura" (n.º 16). Leia mais respostas à pergunta.

 

João Bigotte Chorão
Escritor
© SNPC | 10.11.11

Foto
Capela Árvore da Vida
Foto: Nelson Garrido

 

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