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Onde está o teu irmão?

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Onde está o teu irmão?

Esta pergunta assalta-me de novo face a todas as notícias que ultimamente têm surgido sobre as Pessoas refugiadas. Há cerca de um ano estávamos todos (pelo menos muitos de nós) em estado de choque, ou em sobressalto, pelas notícias que nos davam conta da situação de milhares de pessoas refugiadas a tentar chegar à Europa em condições infra humanas e muitas delas a morrer nessa tentativa. Todos ficámos mais sensibilizados com a foto de uma criança morta numa praia e a história do seu pai, que apenas conseguiu salvar um dos filhos a todos nos deixou comovidos.

E o que tem acontecido até hoje?

Enredados em princípios ideológicos, em burocracias incompreensíveis e jogos políticos, os países europeus não conseguiram dar uma resposta humana e solidária a estas pessoas. Depois de múltiplas reuniões e negociações conseguiu acolher 4.400 pessoas mas a sua intenção era acolher 160.000, ou seja conseguiu realizar 2,75% do objetivo que estabeleceu para si própria. Claro que humanamente podemos dizer que salvar um vida tem um valor incalculável e como tal mais incalculável se torna o salvar 4.400 pessoas. Mas numa cultura em que tudo se mede é imprescindível denunciar o rotundo falhanço humanitário das estruturas (e das pessoas que fazem parte delas) europeias. Esta é a sua avaliação do desempenho!

 

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Legenda: a negro o número total de pedidos de asilo feitos por pessoas refugiadas. A vermelho o número de pedidos que a Comissão Europeia prometeu dar resposta. A azul o número de pessoas que obtiveram efetivamente resposta. Cada símbolo equivale a 1000 pessoas.

 

O que seria interessante comparar seria também o investimento financeiro que tem sido feito nos grandes muros de betão por relação ao que tem sido gasto no acolhimento efetivo das pessoas. Mas este dado se calhar é capaz de ser incómodo para as nossas consciências. Por isso talvez seja melhor não gastar tempo com essa análise.

Mas nem tudo têm sido más notícias, ou ausência de notícias.

Em Portugal mais uma vez demos o exemplo e em tempo record constituímos uma rede de acolhimento, fundamentalmente baseada na designada sociedade civil, numa estreita relação com muitas autarquias e em coordenação com as autoridades de âmbito nacional. Acolhemos já umas poucas dezenas de pessoas mas temos capacidade de acolher umas largas centenas. Para além disso, e prova que de facto somos um povo solidário, um estudo recente concluiu que 21% dos portugueses inquiridos são muito favoráveis e 46% bastante favoráveis ao acolhimento de pessoas refugiadas. Ou seja, temos uma cultura de acolhimento e temos estruturas organizadas para o fazer bem.

Que saibamos não só perguntar onde está mas também como está o nosso irmão e que que não esqueçamos que não fazê-lo é acima de tudo deshumanizar-mo-nos a nós próprios.

 

Henrique Joaquim
Presidente da Comunidade Vida e Paz, docente da Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Ciências Humanas
Publicado em 26.09.2016 | Atualizado em 20.04.2023

 

 
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