Papa Francisco e a pobreza: «Demasiadas palavras, mas não se faz nada. É um risco»
O papa Francisco recebeu hoje, no Vaticano, milhares de membros de Misericórdias de Itália e dadores de sangue, tendo afirmado que há excesso de debates sobre quem passa por dificuldades, em detrimento de medidas que erradiquem esses casos.
«Temos à disposição muitas informações e estatísticas sobre a pobreza e as tribulações humanas. Há o risco de sermos espetadores informadíssimos e desincarnados desta realidade, ou de fazer belos discursos que se concluem com soluções verbais e uma falta de compromisso quanto aos problemas reais», denunciou.
Demasiadas palavras, demasiadas palavras, demasiadas palavras, mas não se faz nada. É um risco», salientou o papa, que reproduziu o diálogo com «pessoas que conhecem as estatísticas».
«"Que barbárie, padre, que barbárie, que barbárie". "Mas que fazes tu por essa barbárie?". Nada, falo. E isto não resolve nada. Palavras, já ouvimos muitas. O que importa é agir», apontou.
As Misericórdias, que estão também radicadas em Portugal, comprometem-se «a testemunhar o Evangelho da caridade entre os doentes, os idosos, os deficientes, os menores, os imigrantes e os pobres», disse Francisco.
Depois de explicar que a palavra «misericórdia» significa, na sua origem latina, dar o coração a quem precisa e a quem sofre, o papa evocou a «gratuidade» do «amor» de Cristo pelos mais frágeis.
«Das narrativas evangélicas podemos colher a proximidade, a bondade, a ternura com que Deus se aproximava das pessoas em sofrimento e as consolava, dava-lhe o seu conforto e muitas vezes curava-as», exemplos a seguir pelos cristãos.
«É preciso que as nossas palavras, os nossos gestos, as nossas atitudes exprimam a solidariedade, a vontade de não permanecer estranho às dores dos outros, e isto com calor fraterno e sem cair em qualquer forma de paternalismo», apontou.
Francisco lembrou as sete obras de misericórdia corporal: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir os enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos.
AP Photo/Gregorio Borgia
Rui Jorge Martins
© SNPC |
14.06.14
Vaticano, 14.6.2014
AP Photo/Gregorio Borgia