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"Pequena Filocalia": Novo livro revela «amor da beleza» à «mística da oração interior»

"Pequena Filocalia": Novo livro revela «amor da beleza» à «mística da oração interior»

Imagem Capa | D.R.

Lançada há dias pela Paulinas Editora, a "Pequena Filocalia" contém um conjunto de textos cristãos, produzidos ao longo de mil anos, a partir da edição original da "Filocalia" grega, que apela aos cristãos para se aperfeiçoarem e procurarem a paz interior.

«São especialmente textos do vasto tesouro literário e espiritual da Ortodoxia, que apenas passaram a ter visibilidade a partir da sua publicação em 1782, e que incluem também os diversos métodos de oração seguidos e desenvolvidos por essas remotas comunidades monásticas», explica a editora.

Para o Fr. José Luís de Almeida Monteiro, os textos apresentados neste volume «serão para muitos um encontro», permitido pela tradução de Dimas de Almeida, aprimorada «ao longo de vários anos».

«Os textos tradicionalmente reunidos sob o vocábulo de Filocalia, que agora saem à luz em português, são um convite para ir mais longe no conhecimento do Oriente cristão assim como também do mundo ortodoxo. A publicação destes textos pertencentes à grande tradição cristã é também em si um acontecimento ecuménico», acentua.

O religioso dominicano sublinha, no prefácio, que «só o conhecimento do outro no seu enraizamento espiritual» possibilita «medir a profundidade e a riqueza dos dois pulmões do Cristianismo», convidando o leitor «a beber nas duas fontes milenares da tradição: a do Oriente e a do Ocidente».



«No nosso tempo necessitamos mais do que nunca de um itinerário de maturidade cristã que possa conduzir a uma resposta exigente mediante um trabalho pessoal sobre si mesmo. Ao longo deste universo que é a "Filocalia" isso é-no-lo revelado profundamente»



«Mas o que é a "Filocalia"? Este termo significa o "amor da beleza", mas uma beleza não apenas estética mas antes a beleza divina e humana proveniente e criadora duma escola mística da oração interior. Trata-se como o dirá Olivier Clément de "sugerir a ação e a contemplação cujo objetivo é de descobrir o reino de Deus em si mesmo, o tesouro escondido no campo do coração", fazendo alusão à parábola evangélica descrevendo um homem, que tendo encontrado um tesouro num campo, vende tudo o que possui para adquirir esse tesouro», aponta o texto introdutório.

Originalmente, a "Filocalia" é constituída «por uma coleção de textos ascéticos e místicos reunidos no século XVII, por Macário de Corinto, que selecionou os textos, e Nicodemos, o Hagiorita», coletânea que foi publicada pela primeira vez em Veneza, em 1782.

«Nestes textos podemos mergulhar nas origens da Igreja indivisa, ou seja, antes das grandes divisões cristãs, sendo um convite dirigido a todos os cristãos para se alimentarem e beberem destas fontes. Os textos escolhidos permitem-nos descobrir este imenso edifício espiritual. No nosso tempo necessitamos mais do que nunca de um itinerário de maturidade cristã que possa conduzir a uma resposta exigente mediante um trabalho pessoal sobre si mesmo. Ao longo deste universo que é a "Filocalia" isso é-no-lo revelado profundamente», escreve o Fr. José Luís de Almeida Monteiro.



«Quando a vida espiritual se enraíza de forma decisiva, a graça age eficazmente e as virtudes libertam e transfiguram a energia bloqueada pelas paixões. Este crescimento conduz à aquisição da humildade sem a qual não se pode progredir no caminho para Deus. Esta introduz-nos na paciência para esperar a hora de Deus e para nos estabelecermos numa certa impassibilidade, para vivermos no único necessário»



Os textos vincam que «a fé constitui o primeiro e o último pilar da vida espiritual», tornando-se um «encontro» e «colaboração entre o Espírito de Deus e a liberdade humana», num caminho que para o cristão «exige uma prática e um combate espiritual».

«No seio deste encontro surge a crise que deve conduzir à metanoia ou conversão à vontade de Deus, e à tomada de consciência da morte espiritual na qual vivemos mergulhados. Quando a vida espiritual se enraíza de forma decisiva, a graça age eficazmente e as virtudes libertam e transfiguram a energia bloqueada pelas paixões. Este crescimento conduz à aquisição da humildade sem a qual não se pode progredir no caminho para Deus. Esta introduz-nos na paciência para esperar a hora de Deus e para nos estabelecermos numa certa impassibilidade, para vivermos no único necessário», assinala o prefácio.

Disseminada ao longo de vários textos, emerge a «"oração de Jesus", método que tem a sua origem nos primeiros tempos do monaquismo, através da repetição da expressão: "Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador"», a qual se transformará numa fórmula de súplica que se tornará clássica durante a Idade Média, nos mosteiros ortodoxos do monte Atos, e que chegou aos nossos dias: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo, tem piedade de nós».

«Para além deste método que é a «oração de Jesus», o único método de oração proposto pela "Filocalia" é a meditação da Sagrada Escritura e em particular dos Salmos. Estes são o alimento dos monges em todas as igrejas cristãs e tornam-se o grito e o êxtase de todos aqueles que os frequentam e os saboreiam», explica o religioso.



«Defrontei-me, pois, com textos ascéticos e místicos que atravessam dez séculos, toda uma cadeia textual que liga os Padres do Deserto do século IV aos monges do século XIV. Um milénio textual tornado alimento de todos os que procuram Deus, independentemente da confissão a que possam pertencer»



Dimas de Almeida caracteriza os monges do deserto como «fisicamente fortes na sua mística», «preciosos vagabundos de um encontro consigo mesmos, peregrinos da busca do essencial». «Com efeito, deles, da fecundidade do silêncio emerge a "oração de Jesus", essa oração do coração, pessoal, íntima, mistério em que o espiritual é carnal, explicitamente dirigida ao Verbo feito carne: nela, a memória do Nome ocupa o lugar essencial. Que é preciso mais?».

«Os seus textos são arrancados às profundezas do mistério que cada um deles era, que cada um de nós é. Tal é o tesouro da "Philokalia", palavra que, tenhamos isso presente, é o "amor do que é belo". Ofereceu-se-me assim, no meu trabalho de tradução, um vasto campo textual marcado, profundamente marcado, por uma espiritualidade onde a evasão do mundo, mesmo quando era negação deste, era-o não verdadeiramente do mundo mas do imundo. Defrontei-me, pois, com textos ascéticos e místicos que atravessam dez séculos, toda uma cadeia textual que liga os Padres do Deserto do século IV aos monges do século XIV. Um milénio textual tornado alimento de todos os que procuram Deus, independentemente da confissão a que possam pertencer», acrescenta.

Dimas de Almeida destaca «o valor religioso-cultural» da "Pequena Filocalia" e salienta que a Paulinas Editora, no empenho posto na sua publicação, «está a proporcionar a todas as pessoas interessadas a leitura de textos cuja relevância existencial nos atinge a todos, leitores de hoje». Porque entrar na leitura da "Philokalia" é entrar «num universo simbólico que é protesto contra todo o diabólico promotor do nada. Dostoievsky, seu assíduo leitor, compreendeu isso muito bem!».

Ao longo das 800 páginas encontram-se centenas de meditações de Santo Antão, Santo Evrágio, S. João Cassiano, S. Marcos, S. Hesíquio de Batos, S. Máximo, S. João Damasceno, S. Macário, S. Simeão, S. Nicéforo, S. Gregório e S. Gregório de Palamas. Em breve apresentaremos na página da Pastoral da Cultura alguns excertos do volume.



 

SNPC
Publicado em 20.04.2017

 

Título: Pequena Filocalia
Autores: AA.VV.
Editora: Paulinas
Páginas: 800
Preço: 32,40 €
ISBN: 978-989-673-578-4

 

 
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