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Política, cultura e espiritualidade cristã

Na linguagem habitual o termo político alude, quase sempre, a uma atividade especializada: a daqueles que, por profissão remunerada ou voluntária, se dedicam à gestão da coisa pública, sobretudo no campo legislativo ou administrativo, distinguindo-se de outros que exercem variadas atividades. Este uso do termo ‘político’ não é inadequado, contanto que encaminhe diretamente para os significados, as estratégias e a funcionalidade das estruturas que regem e coordenam a vida de um grupo social. Mas não é, de facto, exaustivo. Todos, com efeito, temos experiência da dificuldade de traçar a fronteira da realidade ‘política’.

A vida da polis é uma realidade mais ampla do que a dimensão institucional ou a atividade de legislação, de governo, de administração. Vida da cidade é tudo o que pertence ao tecido comum dos encontros e das experiências humanas, tudo o que no colóquio multiforme das relações quotidianas é comunicado, acolhido, rejeitado, modificado; o que cria sensibilidades, estilos de vida, juízos sobre o que vale ou não vale, é preferido ou evitado. Vida da cidade é tudo o que forma as consciências pessoais marcando a sua aperceção, as suas escolhas particulares e a sua global planificação da vida e, portanto, as condições objetivas de exercício da livre responsabilidade. (...)

Cada atividade e cada palavra, cada silêncio e cada omissão, cada decisão, cada gesto situam-se impreterivelmente num contexto relacional, em virtude do qual concorrem, de facto, positiva ou negativamente, para confirmar ou modificar as consciências, estruturando a com-vivência. O modo do viver social (político) pertence à cultura de um grupo humano e é sua expressão. Por isso, não há atividade humana que não seja política, inclusive a mais eminentemente espiritual: se forma consciências, se tem a ver com as consciências, também a presença do sacerdote no confessionário incide na vida pública, com o assentimento, sim, bastante mais profundo, diria Habermas, que deriva do exercício da “racionalidade comunicativa”. Tal não significa a pretensão de uma direta ação política “confessional” da Igreja. Não se tratará de reivindicar especificidades de governo ou de administração: pelo contrário, se o viver pessoal tem sempre uma dimensão pública, o que toca as consciências será algo que afeta igualmente o viver da cidade.

Política como vida da cidade, socialidade como comunicação entre consciências: a responsabilidade moral das pessoas é, pois, sempre exercida numa dimensão social e política. Não se diz com isto que a responsabilidade moral se identifique com o social e o político, nem que o gesto pessoal tenha o peso e a possibilidade de resultados iguais aos de uma estrutura consolidada. No entanto, há uma íntima conexão entre decisão pessoal e estruturas da convivência. A relação é análoga à que existe entre implícito e explícito, entre interior e exterior, transcendência e corporeidade. Por isso, também as estruturas sociopolíticas não são realidades que se criam ou subsistem por si sós, prescindindo da realidade espiritual que é a vida das consciências e a relação entre as consciências. Por outro lado, as próprias estruturas consolidadas contribuem para formar as consciências através da mediação “social” do viver partilhado. Sem dúvida, a aperceção do nexo que existe entre social-político-moral deveria justamente recordar a importância da instância moral como espírito e critério de verificação da autenticidade do viver social e relembrar que será sempre no lugar da socialidade que vivemos a nossa livre responsabilidade.

 

Sergio Bastaniel
In Moralidade pessoal na História, ed. Cáritas
11.04.13

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