Por que deixam tantos as igrejas?
A Igreja sofre de uma constante hemorragia de católicos que a abandonam em bicos de pés e nem sequer batem com a porta em sinal de protesto para que os outros saibam da deserção.
Por que deixam tantos as igrejas e o seu estatuto de protestantes ou de católicos praticantes?
Com tantas consequências à vista no tecido roto das igrejas, é oportuno descobrir as causas profundas das fugas.
Os norte-americanos Tom e Joani Schultz são autores de um livro “Why nobody learns much of anything in church anymore” (Por que ninguém aprende alguma coisa na Igreja). Analisaram homilias e sermões em ambientes protestantes, para dizerem criticamente que «quase ninguém aprende nada nas igrejas». Voltaram à temática religiosa protestante e, por extensão, a análise serve para o campo católico, com o seu novo livro “Why nobody wants to go to church anymore” (Por que já ninguém quer ir à Igreja).
Apontam quatro causas sobre o abandono quer de protestantes quer de católicos da sua prática cristã.
A primeira confirma que muitos sentem que, nas igrejas, são julgados por outras pessoas. Não se sentem acolhidos nem aceites tais quais são, independentemente de os seus comportamentos terem ou não o acordo de Deus e da sua Igreja. Defendem que a Igreja deveria praticar uma “hospitalidade radical”.
Outros gostariam que, nas igrejas, lhes reconhecessem o direito a falar e de ser escutados. Lamentam que só falem os pastores. Hoje, como se sabe, as pessoas estão habituadas a ter opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Ao contrário, nas missas católicas ou nos cultos protestantes, não há momentos para que as pessoas falem e se façam ouvir. Se, no culto, isso não for possível, seria bom a criação de espaços para que as pessoas dialoguem, sendo escutadas com interesse e seriedade.
Há, também, os que se afastam porque lhes parece que os cristãos são hipócritas. Alguns dos arredios da Igreja podem ter a tentação, justa ou injusta, de acusar os outros, os praticantes, de incoerência. Os censores, quando não têm razões para criticar no presente, servem-se do passado para transferir a sua anemia religiosa para os males da Inquisição ou para as discordâncias, reais ou imaginárias, entre fé e razão. Custa-lhes aceitar que a Igreja não é uma casa de perfeitos, mas um hospital para doentes à espera de cura.
Finalmente, há os que não acreditam em Deus, como dizem, ou O sentem distante ou irrelevante; alguns, mesmo sem frequentar os cultos, dizem-se crentes em Deus, mas, com pouca ou nenhuma pertença à Igreja; Jesus, sim, mas Igreja, não é a sua divisa.
Cabe às igrejas, católicas ou evangélicas, proporcionar o encontro pessoal com Cristo, numa nova evangelização que seja realizada, como sugeria João Paulo II, com “novos métodos, nova linguagem e novo ardor”.
Cón. Rui Osório
In Voz Portucalense, 27.11.2013
© SNPC |
30.11.13