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"Raízes do Presente - Estudos de História Contemporânea"

O antigo reitor da Universidade Católica Portuguesa, Manuel Braga da Cruz, assina a obra “Raízes do Presente – Estudos de História Contemporânea”, recentemente lançado pela editora Alêtheia, de que oferecemos a introdução.

«O presente não se compreende sem as suas raízes históricas, nomeadamente as mais recentes. O Portugal que somos hoje é devedor, muito particularmente, da forma como a modernidade foi instaurada entre nós, desde começos do séc. XIX, quando o país foi sacudido pelas invasões de exércitos estrangeiros e pela dominação externa, que levou à implantação do liberalismo. Essas invasões não sucederam sem uma profunda resistência popular e o liberalismo acabou imposto à força, depois de uma sangrenta guerra civil, que dividiu o país profundamente.

As relações que a modernidade estabeleceu com a tradição marcaram decisivamente não apenas os primórdios mas também o colapso do liberalismo. Outorgado a partir de cima e de fora, apesar dos apoios que inquestionavelmente tinha no interior, o regime cartista perdurou apoiado numa elite restrita, sem grande adesão popular, conflituando com as convicções, tradições e organizações da maioria da população, sem ser capaz de criar uma sociedade civil autónoma, vasta e influente, e de suscitar uma cidadania ativa e influente.

O atraso português – não só económico mas também cívico – perdurou ao longo das tentativas de modernização, não só a do liberalismo mas também a do republicanismo. Portugal continuou a ser um país maioritariamente rural e agrário, incipientemente industrializado, debilmente mobilizado política e socialmente, com comportamentos prescritivos largamente implantados e comportamentos eletivos restritos e débeis, até à década de 60 do séc. XX.

Ao contrário de outros países europeus, que conhecerem experiências autoritárias modernizadoras, no primeiro quartel do séc. XX, Portugal viu fracassar nova tentativa de modernização, de orientação republicana, levada a efeito por outra elite, respaldada sobretudo no povo urbano da capital, que não envolveu as massas rurais maioritárias do país.

O autoritarismo português seria uma resposta conservadora à falhada tentativa de modernização pela força, corporizada pela Primeira República. Não foi modernizador como em muitos outros países europeus. E resultou de um compromisso vasto, que integrou os setores mais conservadores do liberalismo, do republicanismo e do laicismo, diferenciando‑se de experiências congéneres que se seguiram a guerras ou lutas intestinas de grande violência. Não se propôs nenhuma estratégia de expansão agressiva, mas antes traduziu uma ideia de integração ultramarina, defendida também por correntes de opinião adversas. E no plano externo, o seu alinhamento com o mundo livre ocidental proporcionou uma aceitação que só seria perturbada com o desenvolvimento da descolonização mundial. Isso explica, em grande parte, a sua longevidade.

Seria a atração europeia e o seu processo de integração, iniciado na segunda metade do séc. XX, a minar os fundamentos em que assentava o salazarismo e a sua política ultramarina, e a provocar a sua queda. O horizonte europeu foi o catalisador de mobilizações que levaram à queda do regime autoritário, impediram o regresso a um autoritarismo de cunho contrário, consolidaram a democracia e promoveram a adesão ao processo de unificação do continente.

Os textos reunidos neste livro pretendem ser um modesto contributo para a compreensão das vicissitudes do processo de modernização e de europeização de Portugal. Incidem sobre as invasões militares sofridas pelo país, sobretudo as invasões francesas, que ficaram marcadas pela firme defesa popular da identidade e da independência nacionais; sobre as relações da Igreja com a sociedade e o Estado, desde os primórdios do liberalismo até ao séc. XX; e sobre o salazarismo, distinto dos demais autoritarismos europeus.

Muitos deles foram conferências proferidas no estrangeiro. Outros foram sendo publicados esparsamente, encontrando-se dispersos. Aqui se reúnem, para possibilitar uma melhor compreensão dos fios que conduziram ao presente.»

Licenciado em Filosofia e Sociologia, Manuel Braga da Cruz é doutorado em Sociologia Política. Foi investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, onde dirigiu a revista Análise Social. É professor catedrático na Universidade Católica Portuguesa, membro da Sociedade Científica da mesma instituição, assim como da Academia Portuguesa da História e da Academia das Ciências de Lisboa.

 

Manuel Braga da Cruz
In Raízes do Presente, ed. Alêtheia
16.05.13

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Capa

Raízes do Presente
Estudos de História Contemporânea

Autor
Manuel Braga da Cruz

Editora
Alêtheia

Ano
2013

Páginas
390

Preço
15,29 €

ISBN
978-989-622-531-5

 

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