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Contemplar, ver com o olhar de Deus

No espaço da comunhão, quem reza chega pouco a pouco à contemplação. Ela não é visão de Deus - porque quem vê Deus morre, adverte o Antigo Testamento (cf. Êxodo 33, 20), de que faz eco o discípulo amado ao reafirmar «a Deus jamais alguém o viu - mas é um olhar novo sobre tudo e sobre todos.

«Caminhamos pela fé e não pela visão» (2 Coríntios 5, 7), afirma por seu lado o apóstolo Paulo; isto significa que na fé Deus não se faz ver a nós, e todavia Ele manifesta-se, segundo a promessa de Jesus: «Quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele» (João 14, 21).

Esta manifestação não ocorre, porém, através da visão, nem mediante um conhecimento teórico, mas numa comunicação interior do poder divino: Deus desvela o seu desígnio de salvação, a sua economia, na qual sustém a criação inteira e ama todas as criaturas, todos os seres humanos.

Eis, assim, a autêntica contemplação cristã: fixar o olhar no amor de Deus até ver, pela graça, toda a realidade com os seus olhos. Então Deus brilha nos nossos corações para fazer resplandecer «o conhecimento da sua glória que refulge no rosto de Cristo» (2 Coríntios 4, 6), e nós participamos do seu olhar sobre toda a história e sobre todas as criaturas.

O nosso olhar torna-se o dos querubins, um olhar contemplativo, pleno de amor e de misericórdia...

E assim nos é dada a makrothymía de Deus, o ver, o sentir, o pensar em grande cada coisa, cada criatura, mesmo a mais desgraçada, mesmo a mais marcada pelo pecado e mais ferida na sua semelhança com Deus: este é o verdadeiro discernimento, que tem como fruto o «apocalipse», a revelação de todas as coisas.

O orante torna-se capaz de ver em profundidade: ele vê que tudo é graça, tudo é dom de Deus, e faz-se misericórdia na misericórdia de Deus, mesmo diante do mal e do pecado que contradizem a comunhão. Assim se exprimia Isaac de Nínive, o grande padre da Igreja siríaca:

«O que é um coração misericordioso? É o incêndio do coração por cada criatura: por cada homem, pelas aves, pelas bestas, pelos demónios e por tudo o que existe. À sua recordação e à sua vista, os olhos [do cristão] derramam lágrimas, pela violência da misericórdia que aperta o seu coração por causa da grande compaixão.

O coração dissolve-se e não pode suportar ouvir ou ver um dano ou um pequeno sofrimento de qualquer criatura. E por isso ele oferece orações com lágrimas a todo o tempo, mesmo pelos seres que não são dotados de razão, e pelos inimigos da verdade e por aqueles que se lhe opõem, para que sejam cuidados e fortalecidos (...), por causa da sua grande misericórdia, que no seu coração brota sem medida, à imagem de Deus.»

Se a oração é autenticamente cristã, se brota da escuta de Deus, se se abre à sua presença e se torna comunhão até viver como Ele a relação de aliança, então o seu fruto é a caridade, é o amor por Deus, pelos seres humanos e por toda a criação.

A oração tende, assim, a fazer-se vida, permeia toda a existência do crente, que pode cantar com o salmista: «Eu sou oração» (Salmo 109, 4). Já não faz oração mas torna-se oração, como se escreveu de Francisco de Assis: «Já não rezava, tinha-se tornado oração».

 

Enzo Bianchi
In Perché pregare, come pregare, ed. San Paolo
16.04.14

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