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Rezar: Humildade, comunhão, amor

A primeira coisa necessária é admitir a nossa debilidade. Devemos comportarmo-nos como o publicano da parábola evangélica que reza como é na verdade, que se apresenta a Deus sem máscaras, mas reconhecendo a própria qualidade de pecador (Lucas 18, 13).

Não só as suas palavras («ó Deus, tem piedade de mim, o pecador») são um modelo para nós, mas é-o sobretudo a sua disposição interior: apenas quem é capaz de uma atitude humilde, pobre, mas realíssima, pode estar diante de Deus aceitando ser conhecido por Deus por aquilo que verdadeiramente é. De resto, nós conhecemo-nos de modo imperfeito, pelo que o que conta é sermos conhecidos por Deus (cf. 1 Coríntios 13, 12; Gálatas 4, 9).

Quem assim adere à realidade é capaz também de confessar: «Não sabemos que coisa pedir para rezar como deve de ser», não conhecemos plenamente nem sequer os nossos gemidos, «mas o Espírito intercede por nós» (Romanos 8, 26). Trata-se, então, de suplicar, de pedir o Espírito Santo: se há palavras que podemos balbuciar, são aquelas com as quais invocamos a descida do Espírito.

Pedir o Espírito Santo é a prece prioritária e absoluta, porque nela tudo está incluído; o próprio Jesus assegurou-nos que esta oração é sempre escutada pelo Pai: «Se vós que sois maus sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celeste dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem» (Lucas 11, 13; cf. Mateus 7, 11).

Até o ato elementar da fé não é possível sem o Espírito, porque «ninguém pode dizer “Jesus é o Senhor” se não no Espírito Santo» (1 Coríntios 12, 3). Só o Espírito, com efeito, pode fazer brotar em nós palavras que se tornam diálogo com Deus no louvor, no agradecimento, no pedido, na intercessão; é Ele que o sugere, guia, apoia como palavras capazes de chegar a Deus.

O Espírito Santo trabalha sempre, como trabalham o Pai e o Filho (cf. João 5, 17), e «vem em auxílio da nossa fraqueza» (Romanos 8, 26), depositando nos nossos corações a capacidade de nos reconhecermos filhos, de reconhecer tudo e todos como queridos, criados e amados por Deus. (…)

É daqui que nasce o nosso arrojo na oração: ela é confiança, audácia, liberdade no estar diante de Deus, no falar-lhe com franqueza, esperando a sua resposta, que é sempre, também, um juízo pronunciado sobre a nossa vida.

Eis, então, o diálogo, ou melhor ainda, o dueto, a comunhão… Não se trata de negar o peso do nosso pecado, de esconder a nossa miséria, mas de transcender o conhecimento que temos de nós mesmos, a favor do conhecimento que Deus tem de nós.

Quem reza desta maneira sabe que é egapeménos (cf. Colossensses 3, 12; 1 Tessalonicenses 1, 4; 2 Tessalonicenses 2, 13), amado por Deus; conhece a comunhão de quem o amou primeiro, de quem o perdoou enquanto ele era ainda pecador e inimigo (cf. Romanos 5, 6-11), de quem lhe oferece constantemente o seu amor.

E é precisamente na aceitação deste amor, no crer neste amor (cf. 1 João 4, 16), que a oração encontra o seu fim: a comunhão de Deus torna-se em nós amor por todos os homens, até ao amor pelos inimigos, torna-se compaixão, misericórdia.

Assim, a ordem de Jesus «rezai pelos vossos inimigos» (cf. Lucas 6, 27-28) não surge apenas como uma amplitude maior conferida à oração, mas é participação no próprio amor de Deus, que ama todos os seres humanos sem exclusão, que faz chover a sua bênção sobre justos e injustos (cf. Mateus 5, 45).

Chegados a este ponto, descobrimos que todas as formas de oração são relativas, e assim rejeitamos «o homem velho» (Romanos 6, 6; Efésios 4, 22; Colossensses 3, 9) que existe em nós, sempre tentado pelas suas ambições religiosas de trocar os meios e os esforços pelo fim.

Hoje, em particular, mestres excessivamente improvisados de espiritualidade e oração, em nome de uma conceção antropológica da própria oração, forjam iniciações inspiradas no ioga, no zen, na meditação transcendente ou noutros métodos; mas isto traduz-se frequentemente numa confusão entre a substância (a comunhão com o Senhor) e os acidentes (a experiência de estados interiores, psíquicos).

O mesmo se deve dizer a propósito de quantos, mais ancorados na tradição eclesial, sobrevalorizam ritos e sacramentos no que diz respeito ao fim da oração, que é o amor a Deus e aos homens.

 

Enzo Bianch
In Perché pregare, come pregare, ed. San Paolo
Trad.: SNPC/rjm
15.04.14

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