As obras de Pierre de La Rue (c. 1452-1518), nascido possivelmente em Tournai, na atual Bélgica, são um prodígio de polifonia e contraponto.
La Rue liderou a escola de Borgonha durante a época dourada franco-flamenga, sendo considerado o grande expoente da estética musical do seu tempo.
As suas obras são enriquecidas com grande subtileza e várias inovações formais que circulavam na sua época. Com ele, terminou o estilo medieval na composição polifónica que dirigiu rumo ao Renascimento.
Chegaram até hoje mais de 30 missas e cerca de 45 motetes, além de 32 peças seculares.
A peça que apresentamos é o motete "Salve Regina", a quatro vozes, um dos seis criados pelo autor.
Enquanto que nas outras obras similares de Pierre De la Rue o cantochão alterna com a polifonia, neste caso alteram-se as vozes em grupos de duas, especialmente no princípio.
A sobriedade, característica do compositor, está presente em toda a peça. A interpretação é do conjunto Pro Cantione Antiqua, dirigido por Bruno Turner.
«Salve, Regina, mater misericordiae;/ vita, dulcedo et spes nostra, salve./ Ad te clamamus exsules filii Hevae./ Ad te suspiramus gementes et flentes/ in hac lacrimarum valle./ Eia ergo, advocata nostra,/ illos tuos misericordes oculos ad nos converte./ Et Iesum, benedictum fructum ventris tui,/ nobis post hoc exsilium ostende./ O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria.»
Tradução tradicional em português europeu: «Salve Rainha, Mãe de Misericórdia,/ vida, doçura e esperança nossa, salve!/ A vós bradamos, os degredados filhos de Eva./ A vós suspiramos, gemendo e chorando/ neste vale de lágrimas./ Eia, pois, advogada nossa,/ esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,/ E depois desse desterro/ nos mostrai Jesus,/ bendito fruto do vosso ventre./ Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria.»
Jose Gallardo Alberni