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Sou padre há 63 anos. Celebrar missa nunca envelheceu

Sou padre há 63 anos. Celebrar missa nunca envelheceu

Imagem pmm.art/Bigstock.com

A jovem apanhada em adultério e arrastada para diante de Jesus poderia muito bem ter sido uma adolescente. Ela conhecia o castigo prescrito (imposto só às mulheres): morte por apedrejamento. Quão aterrorizada ela deve ter ficado. E quando, no fim desta terrível história, todos os seus acusadores se afastaram e ela ouve Jesus dizer «nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar», quão agradecida ela deve ter ficado (João 8, 11).

Os meus motivos pessoais de gratidão não são menores que os dela. Há 63 anos ajoelhei-me diante de um bispo para ser ordenado padre na Igreja católica. Foi o cumprimento de um sonho que eu tinha, sem uma única interrupção, desde os 12 anos. E não era só um sonho: eu escrevi-o. Quando na escola o professor de Inglês disse à turma para escrever um texto sobre «o que esperava estar a fazer dentro de 25 anos», eu escrevi sobre ser padre. Falei aos meus colegas da resposta, pelo que desde os 12 anos sou chamado «padre» - com diversas variações de seriedade. Entrei no seminário oito anos depois, não para "discernir uma vocação" (coisa de que não ouvi falar durante um quarto de século), mas porque me disseram que tinha de o fazer para ser ordenado.

Todos os meus 63 anos desde a ordenação foram felizes? Claro que não. Isso não acontece em vida nenhuma. Todos nós temos de percorrer, num ou noutro momento, o vale de trevas do salmista. Durante sete anos, de 1974 a 1981, estive sem missão e "desempregado". Vivendo em St. Louis, EUA, mas sujeito a um bispo na Alemanha, fiquei como um oficial do exército deslocado do seu regimento. O sistema clerical não sabia o que fazer comigo. Foram anos difíceis e terrivelmente solitários. Só sobrevivi com a oração.



A maior alegria é o privilégio, para além do que qualquer homem pode merecer, de estar no altar, dia a dia, para obedecer ao mandamento da Última Ceia: «Fazei isto em minha memória». Celebrar missa foi maravilhoso da primeira vez, há 63 anos. É, se possível, ainda mais maravilhoso hoje



Se todavia me perguntassem se eu alguma vez me arrependi da decisão pelo sacerdócio, eu responderia de imediato: «Nunca, nem um único dia». Direi com outras palavras. Se eu tivesse de viver novamente a minha vida, conhecendo antecipadamente todos os anos duros e difíceis que estariam à minha frente, ainda escolheria o sacerdócio? Sem pestanejar! Só mudaria uma coisa: tentaria ser mais fiel.

O sacerdócio trouxe-me dor e tristeza, é verdade. Mas também me trouxe alegrias que estão para além das palavras. Essas alegrias são as razões pelas quais eu digo a cada dia, mais vezes do que eu posso dizer ao leitor: «Senhor, Tu és tão bom para mim, e eu estou tão agradecido».

A maior alegria é o privilégio, para além do que qualquer homem pode merecer, de estar no altar, dia a dia, para obedecer ao mandamento da Última Ceia: «Fazei isto em minha memória». Celebrar missa foi maravilhoso da primeira vez, há 63 anos. É, se possível, ainda mais maravilhoso hoje. A minha oração hoje, que repito a cada dia desde o meu 75.º aniversário, há 14 anos, é dupla: que os anos que estão à minha frente possam pertencer cada vez mais completamente ao Senhor, e por uma morte santa e feliz.

Termino com uma oração composta pelo grande convertido do século XIX, Beato John Henry Newman, no termo da sua longa vida como cardeal, e que me foi sempre querida desde a infância:

«Sustenta-nos, Senhor, durante todo o dia; até as sombras se estenderem e a noite chegar, e o mundo afadigado se silenciar, e a febre da vida terminar, e o nosso trabalho estiver feito. Então, na tua misericórdia, concede-nos um alojamento seguro, e um descanso santo, e por fim a paz. Isto te pedimos por Cristo, nosso Senhor. Ámen».



 

P. John Jay Hughes
Arquidiocese de St. Louis, EUA
Fonte: "America Magazine"
Trad.: SNPC
Publicado em 01.05.2017

 

 
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