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Exposição

As Árvores como os Rios correm para o Mar

A Galeria Municipal de Matosinhos recebe até 11 de abril obras de Alberto Carneiro, criador da escultura atribuída aos distinguidos pelo Prémio de Cultura Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes.

«As Árvores como os Rios correm para o Mar» é o título desta exposição, composta por desenhos e esculturas.

Breves excertos do texto escrito para o catálogo da exposição, da autoria de Paulo Pires do Vale:

No bosque líquido da sua obra, diz-nos Alberto Carneiro no título desta exposição, as árvores como os rios correm para o mar. Mas, acrescento eu, rio acima. Na segunda natureza, que é o campo lavrado da obra de arte, as leis são outras. O artifício é o seu reino e a obra cria as suas próprias chaves hermenêuticas. Aqui, o mar - a água no seu enraizado simbolismo maternal - é o da origem, a fonte, o princípio-fim. E é o “estranhamento” de um tronco que corre ao invés que, na verdade, lhe interessa. Como a verticalidade de uma árvore invertida que lança as suas raízes para o alto. É em direção à origem, sempre renovada e permanentemente atual - porque a origem não se declina em pretérito perfeito -, que estas obras nos orientam. Elas dobram-nos em direcção a essa dupla memória genesíaca: a dos arquétipos antropológicos e a da vivência pessoal. (...)

Alberto Carneiro

O trabalho continuado e persistente de Alberto Carneiro é eco de um estremecimento longínquo, um tremor que da terra nos toma o corpo. Ele não esconde a perplexidade, deixa-nos no aberto, na clareira de um bosque, dentro do que nos é infinitamente próximo e que estranhamos. Não nos oferece o conforto de uma lógica, de uma moldura, de uma distância de segurança: em espiral faz-nos percorrer o espaço da nossa própria memória e corpo, em direção a essa profunda identidade com a terra, a montanha, o rio e o bosque. A sua árvore soube criar raízes profundas no betão. “Sous le pavé, la plage!”, escrevia-se nas paredes parisienses, na mesma altura em que Carneiro maturava a sua obra em Londres. Nunca a árvore foi tão semente. Nunca um tronco foi tão vivo e vivificante. O escultor não obnubila o equilíbrio instável e mesmo a precariedade mais radical: a da vida que passa. Pelo contrário, propõe-nos escutar a palavra da água, perceber que a sua plasticidade, tensão entre dissolução e coesão, é sabedoria, e que o peso inflexível da nossa consciência “civilizada” nos tolda os sentidos e a alma, fragmenta-nos e arruma o mundo em gavetas, e não nos deixa experimentar a unidade essencial. Purificarmo-nos nesta água vegetal – que, a um tempo, reflete e é profunda - e deitarmo-nos mais perto da origem. “Quantas vezes adormeci entre as ervas?” A poesia, escreveu Bachelard, “coloca a linguagem em estado de emergência”. É nessa imprevisível liberdade que a obra de Alberto Carneiro nos lança. E por isso a sua obra é sempre começo.

Imagem da exposição

 

Paulo Pires do Vale
25.03.09

Trabalho de Alberto Carneiro
Arquivo SNPC

 

 

 

 

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