A insuficiente promoção do turismo religioso
Em vésperas do 13 de Maio, o suplemento "Economia" do Público (09.05.2008) fez uma viagem ao turismo. Mais especificamente, ao turismo religioso. Ou à sua ausência. Editorial de Luís Villalobos.
"É certo que é difícil distinguir entre o que é turismo religioso e o que é turismo cultural, até porque muito do primeiro remete para a História, destacando-se a que é documentada pela arquitectura. Quando milhões de fiéis não sabiam ler, e as missas eram pomposamente proferidas em latim, a Igreja falava através das imagens. Percorrer os seus monumentos é como ler o passado. Acontece que em Portugal há templos religiosos que chegam a datar do século XII, e quase ninguém os conhece. Essencialmente, porque não são promovidos. Fala-se de preconceito, de falta de sensibilidade e de empenho por falta do Governo. Este, por sua vez, defende que o turismo religioso não deve ser encarado como um conceito em si mesmo. Seja. Mas é promovido de outra forma? Não me parece. Aqui, a culpa é repartida a nível nacional, ou seja, acaba por ser de ninguém e de todos. Começando pelas autoridades locais, regionais e nacionais, até grande parte da população, que não valoriza (talvez precisamente porque não conhece) suficientemente o que o rodeia.
A cidade de Braga, apesar do desordenamento urbanístico dos últimos anos, visível nos múltiplos viadutos, é uma cidade rica em religião, história, gastronomia, ficando a poucos minutos do Gerês. Alguém tem visto “ofertas” para lá ir? Pense-se num outro caso, o de Tomar, abandonada à sua sorte. Uma das mais notáveis obras arquitectónicas a nível mundial, o Convento de Cristo, está, no mínimo, mal aproveitada. Custava muito impulsionar aquela que é conhecida como a cidade dos templários, sede da Ordem de Cristo quando o Papa resolveu exterminar esta congregação? É certo que os caminhos do enredo do 'Código Da Vinci' não passaram por aqui, mas podia-se certamente apanhar a boleia. A oferta, principalmente quando é rica, com é o caso, estimula a procura. Infelizmente, tudo parece centrar-se em Fátima. Mas há muito mais para explorar, no bom sentido, junto dos turistas e viajantes, sejam eles estrangeiros ou nacionais. O património histórico e religioso, tal como a fé, é bem maior do que Fátima. E não devia ser preciso um milagre para nos lembrarmos disto."
Luís Villalobos
in Público (Economia), 09.05.2008
13.05.2008
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