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Teatro

Ifigénia na Táurida: a razão também nasce da emoção

Goethe não era dado a abstracções. Crítico dos filósofos e teóricos do seu tempo, tinha uma vocação prática pouco habitual para um poeta da sua dimensão. No entanto, tantos anos depois de ter escrito Ifigénia na Táurida (1787) – que Luís Miguel Cintra agora encena numa recriação poética de Frederico Lourenço – é impossível ficar alheio à filosofia que impregna este texto. Talvez porque a filosofia também trilhou novos caminhos, e logo o reconhecimento que dela fazemos é agora outro.

Ifigénia na Táurida está cheia de máximas de vida, de princípios morais, de palavras qe se tornam valentia, grandeza e sobretudo transformação. Estas palavras poderosas, que alteram inequivocamente as acções dos homens, saem da boca de uma mulher – e essa é uma das razões porque é impossível não pensar em feminismo face a esta peça. Não é um feminismo que defende novos direitos civis para a mulher, mas aquele que lhe atribui o papel de agente de verdade, de mudança. Aqui ela é a potencial criadora de um mundo mais humanizado e afectivo.

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Sendo um texto claramente tentado pela vontade de criar uma nova moral universal, Ifigénia... é a heroína que inaugura um lugar em que o valor dos afectos não está em contradição com o dever. Um dos maiores prazeres que o encenador e actor (é Toas, Rei dos Tauros) tira deste texto é aliás esse lado feminino: “A valorização da fraqueza, transformando-a numa força, que é a do feminino (...) Toda a peça está repleta de choques emocionais. E é através deste confronto a nível emocional que surgem as conclusões mais racionais.”

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O subtexto é, por isso, denso, deixando aos actores uma tarefa difícil: encontrar o lugar da interpretação entre uma partitura muito definida e o sentido mais emocional das palavras.

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Nesta encenação, Luís Miguel Cintra e Beatriz Batarda (Ifigénia), Vítor d’Andrade (Pílades), Paulo Moura Lopes (Orestes) e José Manuel Mendes (Arcas) procuram não dizer as (incontáveis) máximas do texto como máximas que são ou poderiam soar – no cenário sacrificial de Cristina Reis – mas como algo que advém de um sentir, de um movimento na alma que abra portas à possibilidade de o Homem ter deuses mais humanizados.

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Ifigénia na Táurida está em cena no Teatro do Bairro Alto (Lisboa), até 1 de Novembro.

 

 

 

Cristina Margato
In Expresso (Actual), 19.09.2009
Fotografia: Luís Santos, Paulo Cintra
18.10.09

Cartaz

 

 

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