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Astronomia

Voyager chega ao espaço interestelar: como uma garrafa cósmica lançada ao oceano sideral

Saudações de Tucson, terra dos coiotes, papa-léguas e... astrónomos. A primeira página do jornal "The New York Times" de 13 de setembro apresentava uma imagem da Voyager 1, a sonda espacial da Nasa, agência espacial dos EUA, lançada em 1977. O aparelho chegara à periferia extrema do sistema solar, depois de ter percorrido 19 mil milhões de quilómetros, o equivalente a 125 vezes a distância entre a Terra e o Sol. Nada mal para uma máquina modelo '77 que viaja a 45 km por segundo!

A Voyager continuar a ser familiar no imaginário coletivo porque, como uma garrafa com uma mensagem cósmica, leva a bordo uma cópia do disco Voyager Golden Record. É menos recordada pelas imagens de Júpiter e Saturno que enviou para a Terra nos seus dias de máximo esplendor.

A imortalizá-la está também o primeiro filme "Star Trek", de 1979. Nele, a Terra está ameaçada por uma entidade alienígena desconhecida, chamada "V'Ger", que se dirige na sua direção à procura do seu criador. No final revela-se que o objeto inefável não é mais do que a nave espacial Voyager, lançada muitos anos antes. E assim, na ficção científica de "Star Trek", o explorador acaba por voltar para casa.

Imagem

As sondas "Pioneer" 10 e 11, precursoras do programa Voyager, já tinham a bordo pequenas placas metálicas, que indicavam a data e local de origem. Para a Voyager 1 e 2, a Nasa pensou numa mensagem mais ambiciosa: uma espécie de cápsula do tempo, destinado a comunicar a história do nosso mundo para eventuais extraterrestres. 

O famoso astrónomo Carl Sagan foi o presidente da comissão encarregue de selecionar o conteúdo do disco, que contém 115 imagens e uma variedade de sons naturais (como os produzidos por ondas, vento, trovões, pássaros, baleias e outros animais), seleções música de diferentes culturas e épocas, saudações faladas da Terra em 55 línguas, e mensagens do então presidente dos EUA, Jimmy Carter, e do secretário-geral da ONU, Kurt Waldheim.

FotoNeptuno visto pela Voyager

Apesar de ser considerado improvável que alguém do outro lado possa ler a mensagem da Voyager, penso que é muito útil aproveitar a ocasião para refletir sobre a entrada no espaço interestelar desta cápsula do tempo.

Começo com a tecnologia. Os computadores a bordo do Voyager têm uma capacidade de cálculo inferior à de um smartphone. Pergunto: como é possível que o progresso da tecnologia tenha sido tão persistente e, no entanto, não tenhamos sido capazes de manter o mesmo passo na exploração do espaço? Paramos de sonhar e contentámo-nos em desenvolver o poder de cálculo para termos jogos eletrónicos mais sofisticados? Ou pior ainda, para ter bombas mais «inteligentes»?

FotoJúpiter

Há alguns anos, tive a grande oportunidade de realizar o meu sonho de infância ao visitar o mítico Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral. Perto do imenso foguetão Saturn V, falei sobre as missões Apollo com um engenheiro aposentado. Agradeci-lhe porque com o seu trabalho inspirou muitas crianças como eu. E notei alguma nostalgia e tristeza quando ele admitiu que o entusiasmo pela exploração espacial da década de 70 tinha-se desvanecido. É certo que as considerações sobre as razões para esse facto são complexas e fogem à brevidade deste texto. Mas também eu partilho um pouco daquela nostalgia da idade de ouro da exploração espacial.

No entanto, um campo em que realizámos progressos consideráveis é a busca de planetas extrasolares. O primeiro exoplaneta foi individuado em 1992, enquanto que a descoberta do primeiro exoplaneta que orbita em torno da estrela 51 Pegasi, similar ao nosso Sol, remonta a 1995. 

FotoSaturno

Hoje, o número de sistemas planetários conhecidos continua a crescer. Existem 727 sistemas planetários, 146 sistemas múltiplos e 941 planetas. Aprendemos também que há uma grande variedade de mundos: há Júpiteres quente e Neptunos quente e frio, mas também super Terras e exoplanetas excêntricos ou compostos de carbono e diamantes, todos com a possibilidade de ter exoluas.

Omito a discussão sobre a possibilidade de encontrar vida, ainda mais de encontrar vida inteligente. Como se costuma dizer: já é difícil encontrar vida inteligente na Terra, e e muito menos noutras Terras! Mas a Voyager é certamente uma prova belíssima de que na Terra existem seres inteligentes capazes de sonhar em grande. Boa continuação da viagem para as estrelas!

 

José Funes
Diretor do Observatório do Vaticano
In L'Osservatore Romano, 18.9.2013
Fotos: Nasa
© SNPC (trad.) | 17.09.13

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Foto
Voyager Golden Record

 

 

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