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«Uma meditação sobre a fragilidade que todos levamos no mais íntimo de nós mesmos. Fragilidade que Jesus assumiu plenamente, fazendo-se humano como nós.»
Esta é a proposta do novo livro "Jesus vulnerável", de Jean Vanier, que vive «há mais de cinquenta anos numa comunidade que acolhe pessoas com deficiências físicas e mentais, naturalmente frágeis e vulneráveis e, por isso, profundamente humanas».
O volume publicado pela Editorial A.O. baseia-se nas meditações do autor durante um retiro durante a Semana Santa de 2010.
«A incarnação, o lava-pés, a paixão, a ressurreição de Jesus constituem referências fundamentais para entender a fragilidade, a vulnerabilidade d’Ele e nossa, acolhendo amorosamente os que caminham connosco, tão frágeis e vulneráveis como nós», assinala a sinopse.
Jean Vanier inicia a comunidade A Arca em 1964, quando «dificilmente» se consideravam as pessoas que dela faziam parte «como seres humanos»; «e, em todo o caso, eram tidas como incapazes, desprovidas de valor e, com frequência, representavam uma vergonha para os seus pais. Eram mantidas, com frequência, encerradas em grandes instituições ou nas suas famílias».
«Encorajado pelo meu diretor espiritual, o Padre Thomas Philippe, acolhi dois homens portadores de deficiência mental – Raphaël Simi e Philippe Seux – que acabavam de sair de uma instituição penosa, onde a violência causava estragos. Começámos a viver juntos numa pequena casa em Trosly-Breuil, uma aldeia situada a 100 km a norte de Paris. Foi assim que teve início a comunidade da Arca e eu descobri como estes homens e estas mulheres são maravilhosos. Com alguma incapacidade no plano intelectual, sem dúvida, mas tão belos na sua capacidade de relação e de amor», escreve o autor na introdução.
A «fragilidade» e «vulnerabilidade» daqueles novos companheiros, «origem do seu clamor pela relação, por uma relação de confiança», converteram a existência de Jean Vanier: «Abriram o meu coração, amansaram-no e conduziram-me a viver o essencial do amor, que não está no "fazer por" mas no "viver com". Viver a comunhão e a presença ali onde Deus se encontra. Estas pessoas transformaram-me e deram-me uma nova visão que pode ajudar as nossas comunidades a tornarem-se mais humanas».
Por seu lado, as Comunidades Fé e Luz (Communautés Foi et Lumière), fundadas em 1971 pelo autor e por Marie-Hélène Mathieu, na sequência de uma peregrinação por eles organizada a Lourdes,«permitiram, também elas, fazer as mesmas descobertas acerca do valor e da importância das pessoas portadoras de deficiência. «A partir desta peregrinação, nasceram pequenas comunidades de encontro entre as pessoas portadoras de deficiência, os seus pais e os seus amigos. Fé e Luz está hoje presente em oitenta países, por todo o mundo.»
«Estes homens e estas mulheres portadores de deficiência, tão vulneráveis e, por vezes, tão frágeis, ajudaram-me a descobrir e amar a vulnerabilidade e a fragilidade de Jesus. Jesus tão humilde, tão pequeno, tão frágil, tão respeitador da nossa liberdade e, por vezes, mesmo silencioso, convida-nos a uma autêntica transformação dos nossos corações. Na Arca e em Fé e Luz descobrimos como estas pessoas portadoras de deficiência, tão vulneráveis, nos conduzem a Deus», sublinha Vanier.
«Amo este Jesus vulnerável que me acolhe como eu sou, com as minhas vulnerabilidades, e desejo que muitas outras pessoas o possam conhecer na sua pobreza e na sua humildade, e aprendam a viver uma relação profunda com Ele», aponta o autor a terminar a introdução.
"Deus não faz nada!", "Nós queremos ver Jesus!", "Preparar-se para o lava-pés", "Entrar em comunhão com os excluídos", "A discrição dos encontros", "Comovente Maria de Magdala" e "E a nós, hoje?" são algumas das reflexões propostas pelo autor nos cinco capítulos do livro.
«Ao contrário da “cultura de fazer melhor que os outros, de ganhar”, para a pessoa com deficiência o importante “é o encontro”, é estar feliz que o “outro exista, a alegria de seres», declarou Vanier à Agência Ecclesia, por ocasião dos 40 anos do Movimento Fé e Luz em Portugal, assinalados em 2016.