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«A poesia é a linguagem da reconciliação»: Entrevista a Amanda Gorman

Com a sua poesia, declararam meios de comunicação dos EUA, tirou o protagonismo ao presidente Joe Biden. Com apenas 22 anos, Amanda Gorman tornou-se a mais jovem poetisa a recitar na cerimónia de tomada de posse do presidente dos EUA.

Com “The hill will climb” (A montanha que subimos), a jovem afro-americana de fé católica soube emocionar a América e o mundo, ao indicar o sonho possível de uma humanidade “curada”, que encontra esperança na dor e não se resigna a ser testemunha passiva de conflitos e divisões.

Nesta entrevista aos meios de comunicação do Vaticano, Amanda centra-se na força da poesia como caminho de reconciliação num tempo marcado por polarizações, e sublinha a urgência de investir na educação para mudar o mundo e dar um futuro melhor às jovens gerações.

 

O papa Francisco, em muitas ocasiões, salientou como é importante construir pontes, dialogar e trabalhar corajosamente pela reconciliação. Pensa que a poesia pode ajudar a curar as feridas que dividem o nosso mundo?

Sim, absolutamente. A poesia é a linguagem da reconciliação. Muitas vezes recorda-nos a nossa maneira de sermos melhores e os nossos valores comuns. Foi esta a experiência em que me inspirei quando escrevia “The hill we climb”, perguntando-me, fundamentalmente: “O que pode fazer esta poesia, aqui e agora, que a prosa não pode?”. Há um poder especial na poesia de santificar, purificar e endireitar, mesmo no meio da discórdia.

 

A poesia é por vezes associada à elite intelectual, ou a algo para pessoas de uma certa idade. O que diria aos jovens que são inspirados pela sua poesia e estimam a sua jovem idade?

É uma pena que, muitas vezes, a poesia seja ensinada nas escolas como se fosse apenas apanágio de uma elite intelectual velha, defunta, branca e só para homens, quando na realidade a poesia é a língua do povo.
Diria aos jovens que a poesia é vibrante e está em constante mudança, e que a arte pertence a todos nós, não a um grupo selecionado. Diria que precisamos das vossas vozes, precisamos das vossas histórias, por isso não tenham medo de pegar numa caneta.

 

Malala, Greta Thunberg, agora Amanda Gorman: nos últimos anos visto muitas jovens mulheres emergir como líderes de movimentos que estão a desafiar os poderosos da Terra. Considera que isto sinalize uma mudança duradoura?

Penso que estamos a ver jovens mulheres líderes a ganhar um protagonismo mundial porque isso representa um fenómeno global mais amplo: os jovens, especialmente as mulheres jovens, em todo o mundo estão a levantar-se e estão a tomar o seu lugar na História. Por cada Amanda há incontáveis outras como eu. Posso ser única, mas não estou sozinha. O mundo será sacudido e mudado pela próxima geração, e está na hora de a escutar.

 

Quando era pequena tinha um defeito de pronúncia que ultrapassou, e hoje o mundo admira-a pela sua eloquência. Quanto é importante a educação para mudar o mundo?

A educação é tudo. Sou filha de um professor, por isso sempre tomei a sério a minha educação. Compreendi em jovem idade que o conhecimento é poder. Para as pessoas marginalizadas, pode ser um dos instrumentos mais importantes da nossa “caixa de ferramentas”.

Para mudar o mundo, temos de o colocar em discussão, temos de o interrogar; temos de considerar todo o arco da História e ver como se liga ao presente. Não tenho dúvidas de que muitos outros grandes movimentos sociais começarão numa sala de escola.


 

Alessandro Gisotti
In L'Osservatore Romano
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 13.02.2021 | Atualizado em 07.10.2023

 

 
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