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“Adoramus”: Doces saberes e sabores monásticos

«Acreditamos que Nossa Senhora também devia fazer uns cozinhados muito bons para o Menino, especialmente os bolos de uva, que eram muito tradicionais»: a convicção é da Ir. Maria Helena, do mosteiro de Santa Beatriz, em Viseu, que acolhe monjas concecionistas (Ordem da Imaculada Conceição).

As religiosas estão entre as protagonistas da reportagem publicada este sábado na “Fugas”, suplemento semanal do jornal “Público”, que dedica seis páginas à loja “Adoramus”, junto ao tabuleiro superior da Ponte de D. Luís, no Porto, onde Filipe Ferreira divulga e promove produtos conventuais e, ao mesmo tempo, ajuda ao sustento das comunidades monásticas, contribuindo, ainda, para que continuem a apoiar pessoas carenciadas..

O mosteiro de Santa Beatriz produz uma extensa lista de doces, tão saborosos quanto criativos, a julgar pelos nomes, a que não falta a inspiração bíblica e hagiográfica: biscoitos de Santa Beatriz, delícias de coco, meias-luas, adormecidos, glórias de David, bolachas de Jericó, trancinhas de Caná, peixinhos de Santo António e broinhas de batata-doce e frutos secos – além do artesanato, paramentaria, bordados, trabalhos em cortiça, e mais.

A ideia do projeto “Adoramus” surge quando Filipe Ferreira começa a provar e comprar os produtos para ele, e depois a oferecer. Na paróquia, fez parte do grupo de jovens, foi acólito e catequista, mas desconhecia o mistério aos olhos do mundo que se oculta do outro lado das paredes conventuais.



«Sorriem», nas prateleiras da loja, «as bolachas beneditinas, as compotas, as marmeladas e as amêndoas torradas das monjas cistercienses de Rio Caldo, as bolachas do Carmelo do Crato, os biscoitos (canela, limão e chá) das clarissas do Mosteiro do Santíssimo Sacramento do Louriçal»



Antes do primeiro contacto com monjas contemplativas, as Carmelitas Descalças de Coimbra, pensou: «Coitadas. O que é que estão aqui fechadas a fazer? Não conseguem sequer sair!». Mas quando do lado de lá do locutório apareceu a madre Celina, o sentimento transformou-se: «Via-se que estava de bem com a vida e isso inquietou-me». E depois de conversar com outras religiosas, a inquietação mudou-se em conversão: «Fiquei fascinado com o bem-estar. Diziam-me “nós temos tudo aqui; a nossa função é outra, é rezar por ti!”».

A reportagem de Luís Octávio Costa (texto) e Nelson Garrido (fotos), intitulada “Os doces delas são feitos com oração e amor” – síntese certeira das imagens e testemunhos recolhidos –, oferece vislumbres da vida “ora et labora” das comunidades monásticas, constituída, precisamente, pela oração e pelo trabalho.

O itinerário dos jornalistas passou também pelo armazém, laboratório e destilaria de Singeverga, que produz o licor resultante do «preparado caseiro que combina amêndoa amarga, baunilha, açafrão, canela, noz-moscada, cravinho, cálamo e uma série de ervas aromáticas».

Entre as mais de 70 compotas e cerca de 35 variedades de outros doces confecionados por 36 comunidades religiosas em Portugal «que preservam e reinventam tradições monásticas ancestrais», «sorriem», nas prateleiras da loja, «as bolachas beneditinas, as compotas, as marmeladas e as amêndoas torradas das monjas cistercienses de Rio Caldo, as bolachas do Carmelo do Crato, os biscoitos (canela, limão e chá) das clarissas do Mosteiro do Santíssimo Sacramento do Louriçal».

Para quem esta variedade é escassa, também comparecem «os coquinhos e licores do mosteiro de Santa Clara e do Santíssimo Sacramento de Monte Real, as cerejas em vinho do Porto e as compotas e geleias do mosteiro de Bande (rosa, uvas com alecrim, pêssego com menta…) e uma série de sacos de biscoitos confecionados na Batalha, em Campo Maior e Santarém». «Achava eu que os produtos iam ser mais apreciados pelos católicos, sobretudo pelos praticantes. Curiosamente não.»

Lendo a reportagem, facilmente vem à mente a encíclica “Laudato si’”, do papa Francisco, sobre o cuidado da casa comum. É antiquíssima a relação que as comunidades religiosas cristãs mantiveram, logo que foram instituídas, nos primeiros séculos do cristianismo, com a abundância, variedade e sabores da natureza, respeitando os seus ciclos, investigando e aumentando o conhecimento sobre ela, contribuindo para o deleite de muitos (desde logo os próprios religiosos) e, acima de tudo, dando graças pela bondade divina que tão manifestamente nela se revela.


 

Rui Jorge Martins
Fonte: Público
Publicado em 25.11.2020 | Atualizado em 07.10.2023

 

 

 
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