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Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu. (Do Evangelho do Domingo XXIII, Mt 18-15-20)
O perdão não consiste numa emoção, mas numa decisão. Não nasce como acontecimento imprevisto, mas como um percurso.
O alcance escandaloso do perdão, que vai contra todos os nossos instintos, está no facto de que é a vítima que se deve converter, não aquele que ofendeu, mas aquele que sofreu a ofensa.
É difícil, e todavia o Evangelho assegura que há uma possibilidade oferecida ao homem para um futuro restaurado. «O perdão é a "des-criação" do mal» (R. Panikkar). Porque repara incessantemente o tecido continuamente ferido das nossas relações.
Jesus indica um percurso em cinco passos. O primeiro é o mais exigente: tu podes intervir na vida de um outro e tocar-lhe no íntimo, não em nome de um papel ou de uma suposta verdade, mas apenas se tomou carne e sangue dentro de ti a palavra irmão, como afirma Jesus: se o teu irmão peca...
Só a fraternidade real legitima o diálogo. O verdadeiro; não o político, no qual se medem as forças, mas no evangélico, em que se mede a sinceridade.
O segundo momento: depois de teres interrogado o coração, vai e fala, dá tu o primeiro passo, não te feches num silêncio hostil, não cometas ofensas, mas sê tu a relançar a relação. No coração da vida, tudo começa do tijolo elementar de toda a realidade, a relação eu-tu.
Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Verbo sublime: ganhar um irmão. O irmão é um ganho, um tesouro para ti e para o mundo. Investir em fraternidade é a única política económica que produz verdadeiro crescimento.
Depois os outros passos: toma contigo uma ou duas pessoas, a seguir fala à comunidade. E se não te escuta, seja para ti como o pagão e o publicano. Um excluído, um descartado? Não. Com ele comportar-te-ás como fez Jesus, que se senta à mesa com os publicanos para anunciar a bela notícia da ternura de um Deus que se inclina sobre cada um dos seus filhos.
Tudo aquilo que ligares ou desligares na Terra, o será também no Céu. Jesus não fala como um jurista, nunca o faz. O poder de perdoar o mal (...) é o poder conferido a todos os irmãos de se tornarem presença que "des-cria" o mal, com gestos que vêm de Deus: perdoar os inimigos, transfigurar a dor, identificar-se no próximo: é a eternidade que se insinua no instante.