Espiritualidade
Monge cartuxo do Mosteiro Scala Coeli, Évora, revela espiritualidade da Quaresma
Um monge do Mosteiro Scala Coeli, em Évora, a única comunidade Cartuxa instalada em Portugal, partilha a partir de hoje com os leitores do site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura os traços fundamentais da vivência espiritual cartusiana da Quaresma.
«A oração mais intensa, a abnegação pessoal, o jejum corporal, as obras de piedade e uma intensa participação litúrgica serão os elementos monásticos que facilitarão a purificação e a disponibilidade do nosso espírito para viver em plenitude o mistério de Cristo na sua Paixão, Morte e Ressurreição», escreve o monge na primeira de seis secções que vão ser publicadas nos próximos dias.
«Se a santidade foi e é sempre incompatível com a satisfação dos sentidos e apetites, é evidente que a mortificação corporal e espiritual impõe-se a todo o aspirante à santidade. Pretender santificar-se doutro modo seria uma ilusão, uma quimera», sublinha o religioso, que de acordo com a tradição cartusiana mantém o anonimato, assinando «Um Cartuxo de Scala Coeli».
Dentro das paredes monacais a «especial» oração da Quaresma é composta diariamente pelos «sete Salmos Penitenciais com as Ladainhas dos Santos, e cada dia, menos aos domingos» recita-se o salmo 50, «eminentemente penitencial».
A Quaresma cartusiana «adquire uma esplêndida dimensão eclesial»: «Jejuamos em favor de toda a Igreja, de todos os homens, embora só Deus, e não aqueles, deve estar a par do que acontece no nosso espírito».
O texto destaca que «o cartuxo não vive a sua Quaresma como “tempo de tristeza”, mas sim de alegria e esperança porque, como filho de Deus, coloca n’Ele a origem e a fonte de toda a sua felicidade».
Foto: Blogue Escada do Céu
«O Mistério de Cristo vivido na Quaresma não é algo que esteja fora de nós; ele é o que somos e estamos chamados a ser em Cristo. O Seu drama é o nosso. Nossa cruz não é senão a de Jesus e é o Seu amor quem a leva em nós. Nossa verdadeira vida é a do Ressuscitado em nós.»
As meditações que os Cartuxos da Scala Coeli (Escada do Céu) oferecem aos leitores como fruto da sua espiritualidade estão integrados na página “Da Quaresma à Páscoa”, que o site da Pastoral da Cultura criou com o objetivo de contribuir para a preparação da celebração mais importante do ano.
A Ordem dos Cartuxos, fundada por S. Bruno (Colónia, c. 1035 – Squillace, Calábria, 1101), é composta atualmente por cerca de 370 monges e 75 monjas.
«A nossa ocupação principal e a nossa vocação é a de dedicar-nos ao silêncio e à solidão da cela.[ ...] Nela com frequência a alma se une ao Verbo de Deus, a esposa ao Esposo, a terra ao céu, o humano ao divino», referem os Estatutos da Ordem.
Primeiros votos. Foto: Blogue Escada do Céu
A Cartuxa eborense, a primeira em Portugal, foi fundada em 1587 por sete monges de Scala Dei, Tarragona, Espanha, que em memória da sua casa mãe deram a esta nova o nome de Scala Coeli.
Como quase todas as Cartuxas estão sob a avocação da Virgem Santíssima, o orago desta foi Santa Maria Scala Coeli, alusivo à Assunção de Nossa Senhora.
Em 1598 os Cartuxos instalaram-se também em Laveiras, concelho de Oeiras, a poucos km de Lisboa.
Os membros da Ordem foram expulsos dos dois mosteiros em 1834, como aconteceu com outras congregações religiosas em Portugal.
Hans Sterkendries
O imóvel de Évora, adquirido sucessivamente por vários proprietários, foi-se degradando até que Vasco Maria Eugénio de Almeida, Conde de Vilalva, empreendeu o seu restauro em 1948 e ofereceu-o à Ordem.
O Capítulo Geral cartusiano de 1955 aceitou a dádiva e o mosteiro eborense voltaria a receber monges em 1960.
O mosteiro é simples mas espaçoso: o claustro, com jardim de um hectare, é o maior de Portugal. Nele se encontram as celas onde os cartuxos se consagram a Deus numa vida de oração na solidão e no silêncio, com celebrações litúrgicas comunitárias ao longo do dia.
Rui Jorge Martins
© SNPC |
08.03.12
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