«Uma das figuras mais prestigiadas no panorama cultural italiano internacional», «um ponto de referência cultural imprescindível e de absoluta excelência», «um precioso elo de conjunção entre a sociedade civil italiana e os âmbitos pontifícios e eclesiásticos» que permitiu «favorecer o diálogo e promover o estudo e o progresso das ciências humanas».
Estas foram algumas das motivações pronunciadas pelo embaixador italiano junto da Santa Sé, nesta quinta-feira, para justificar a atribuição da Grande Cruz da Ordem da Estrela de Itália, a mais prestigiada da República, ao presidente do Conselho Pontifício da Cultura, cardeal Gianfranco Ravasi.
O prelado italiano de 78 anos agradeceu e expressou «verdadeira emoção» pelo reconhecimento, considerado como «um selo conclusivo» da sua existência e percurso: «Cheguei ao crepúsculo das minhas atividades e das minhas funções», declarou.
«Considero esta condecoração que me é dada a conclusão simbólica da minha cidadania italiana, que continuará de outras formas», assinalou Ravasi no dia em passaram 39 anos da instituição, pelo papa S. João Paulo II, do Conselho Pontifício da Cultura, a 20 de maio de 1982, para «favorecer as relações entre a Santa Sé e o mundo da cultura».
A cerimónia de condecoração decorreu no contexto do encontro “Democracia. Valores e desafios futuros”, integrado no Átrio dos Gentios, projeto iniciado em 2011, por vontade de Bento XVI, para promover o diálogo entre crentes e não crentes.
A ministra da Justiça, Marta Cartabia, frisou a necessidade de buscar pontos de convergência na democracia, em relação à qual, sublinhou o cardeal Ravasi, é preciso interrogar sobre os valores comuns e a evolução no tempo nos países que a têm como regime político.
As crises recentes, da sanitária à económica, com as suas consequência no mundo do trabalho, a cultura digital com os seus limites e potencialidades, os fenómenos migratórios e o multiculturalismo contribuem para compreender que a democracia não é apenas uma questão política ou institucional, acentuou.
Referindo-se à obra “Górgias”, de Platão, o cardeal Ravasi sustentou que como o navegador precisa de um capitão que lhe indique a rota e o médico de um doente, assim para o filósofo o cidadão necessita do filósofo, entendido como pessoa competente que sabe escavar em profundidade.
Todavia, apontou o prelado, por vezes as pessoas preferem «ser deslumbradas pelo retórico e pelo sofista, que as envolvem e acariciam com as suas ilusões e promessas douradas».