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Corpo não é um instrumento de prazer mas lugar do amor, «luxúria» é empobrecimento, afirma papa

Hoje gostaria de completar a catequese sobre a Sexta Palavra do Decálogo - «não cometer adultério» -, evidenciando que o amor fiel de Cristo é a luz para viver a beleza da afetividade humana. Com efeito, a nossa dimensão afetiva é um chamamento ao amor, que se manifesta na fidelidade, no acolhimento e na misericórdia. Isto é muito importante, como se manifesta o amor? Na fidelidade, no acolhimento e na misericórdia.

Não seja, porém, esquecido que este mandamento refere-se explicitamente à fidelidade matrimonial, e por isso é bom refletir mais profundamente sobre o seu significado esponsal.

Este excerto da Escritura [«maridos, amai as vossas mulheres, com Cristo amou a Igreja», Efésios 5, 25], da carta de S. Paulo, é revolucionário. Pensar com a antropologia daquele tempo que o marido deve amar a mulher como Cristo ama a Igreja é uma revolução, talvez a coisa mais revolucionária que foi dita sobre o matrimónio, sempre no caminho do amor. Podemos perguntar: este mandamento de fidelidade, a quem é destinado? Só aos esposos? Na realidade, este mandamento é para todos, é uma Palavra paterna de Deus dirigida a cada homem e mulher.



Para casar-se, não basta celebrar o matrimónio. É preciso fazer um caminho do eu ao nós. Do pensar sozinho ao pensar a dois, do viver sozinho ao viver a dois



Recordemo-nos de que o caminho do amadurecimento humano é o próprio percurso do amor que vai do receber cuidado à capacidade de oferecer cuidado, do receber a vida à capacidade de dar a vida. Tornar-se homens e mulheres adultos quer dizer chegar a viver a atitude esponsal e parental, que se manifesta nas várias situações da vida, como a capacidade de tomar sobre si o peso de alguém e amá-lo sem ambiguidade. É, portanto, uma atitude global da pessoa que sabe assumir a realidade e sabe entrar numa relação profunda com os outros.

Quem é, então, o adúltero, o luxurioso, o infiel? É uma pessoa imatura, que tem para si a sua vida e interpreta as situações com base no seu bem-estar e na sua gratificação. Por isso, para casar-se, não basta celebrar o matrimónio. É preciso fazer um caminho do eu ao nós. Do pensar sozinho ao pensar a dois, do viver sozinho ao viver a dois, é um belo caminho, um caminho belo.

Quando conseguimos descentrar-nos, então cada ato é esponsal: trabalhamos, falamos, decidimos, encontramos os outros com atitude acolhedora e oblativa. Podemos alargar a perspetiva e dizer que cada vocação cristã, neste sentido, é esponsal. O sacerdócio é-o porque é o chamamento, em Cristo e na Igreja, a servir a comunidade com todo o afeto, o cuidado concreto e a sabedoria que o Senhor dá.



Cada vocação cristã é esponsal, porque é fruto do laço de amor em que todos somos regenerados, o laço de amor com Cristo. A partir da sua fidelidade, da sua ternura, da sua generosidade, olhamos com fé para o matrimónio e para cada vocação, e compreendemos o sentido pleno da sexualidade



À Igreja não servem aspirantes ao papel de padres, não servem, é melhor que fiquem em casa, mas homens aos quais o Espírito Santo toca o coração com um amor sem reservas pela Esposa de Cristo. No sacerdócio ama-se o povo de Deus com toda a paternidade, a ternura e a força de um esposo e de um pai. Assim também a virgindade consagrada a Cristo vive-se com fidelidade e com alegria como relação esponsal e fecunda de maternidade e paternidade.

Repito: cada vocação cristã é esponsal, porque é fruto do laço de amor em que todos somos regenerados, o laço de amor com Cristo (…). A partir da sua fidelidade, da sua ternura, da sua generosidade, olhamos com fé para o matrimónio e para cada vocação, e compreendemos o sentido pleno da sexualidade.

A criatura humana, na sua incindível unidade de espírito e corpo, e na sua polaridade masculina e feminina, é uma realidade muito boa, destinada a amar e ser amada. O corpo humano não é um instrumento de prazer, mas o lugar do nosso chamamento ao amor, e no amor autêntico não há espaço para a luxúria e para a sua superficialidade. Os homens e as mulheres merecem mais do que isto.

Portanto, a Palavra «não cometer adultério», ainda que de forma negativa, orienta-nos para o nosso chamamento originário, isto é, para o amor esponsal pleno e fiel, que Jesus Cristo nos revelou e doou.


 

Papa Francisco
Audiência geral, 31.10.2018, Vaticano
Tradução: Rui Jorge Martins
Imagem: smolaw/Bigstock.com
Publicado em 31.10.2018

 

 
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