«Sempre houve juízes corruptos no mundo. Ainda hoje existem em todas as partes do mundo», sublinhou hoje o papa na homilia da missa a que presidiu, no Vaticano, em que acentuou a gravidade da corrupção e a distinguiu do pecado.
A meditação de Francisco baseou-se no Evangelho proclamado nas missas desta segunda-feira (João 8, 1-11), em que, perante uma mulher surpreendida em adultério, Jesus contrapõe uma resposta inesperada aos escribas e fariseus que, de acordo com a lei religiosa, a queriam apedrejar: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra».
O pecado, assinalou o papa, acontece quando quem o comete tem noção da infidelidade a Deus e procura não o repetir, ou procura a reconciliação ou, pelo menos, sabe que o gesto não foi correto, ao passo que na corrupção estas atitudes já deixaram de estar presentes.
«A corrupção é quando o pecado entra, entra, entra, entra na tua consciência e não te deixa lugar sequer para o ar», vincou Francisco, que ao comentar a atitude dos judeus que lhe apresentaram a mulher, afirmou que faziam uma interpretação da lei «tão rígida que não deixava espaço ao Espírito Santo».
Neste caso, prosseguiu Francisco, trata-se de uma «corrupção de legalidade, de legalismo, contra a graça», porque os juízes «perverteram o coração» ou decidiam sentenças que «oprimiam os inocentes e absolviam os malvados».
«Jesus diz poucas coisas, poucas coisas», mas ao dizer à mulher que não a condena, pedindo-lhe para não voltar a pecar, testemunha «a plenitude da lei», que não está nos escribas e fariseus «que tinham corrompido a sua mente fazendo muitas leis, muitas leis, sem dar espaço à misericórdia».
A 17 de março de 2013, poucos dias depois de ter sido eleito papa, Francisco comentou a mesma passagem bíblica na missa do quinto domingo da Quaresma, tendo incidido nas palavras que Jesus dirigiu à mulher: «Também Eu não te condeno! Vai, e doravante não tornes a pecar».
«Este é o único conselho que te dá. Passado um mês, estamos nas mesmas condições... Voltemos ao Senhor! O Senhor nunca Se cansa de perdoar, nunca! Somos nós que nos cansamos de Lhe pedir perdão. Peçamos a graça de não nos cansarmos de pedir perdão, porque Ele jamais Se cansa de perdoar. Peçamos esta graça!», convidou então o papa.
E em abril do ano seguinte, também numa missa matutina, Francisco acentuou que Jesus não pergunta à mulher «que fizeste, quando o fizeste, como o fizeste e com quem o fizeste?, mas pede-lhe para não repetir o pecado: «É grande a misericórdia de Deus, é grande a misericórdia de Jesus: perdoar-nos, acariciando-nos».