D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda
Cultura, arte e cinema podem ajudar Igreja a transmitir evangelho
O novo bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, considera que a cultura, a arte e o cinema podem dar à Igreja «elementos para uma maior inculturação do evangelho», além de a ajudar a perceber que «outras leituras e perspetivas» podem chegar «à mesma verdade».
Em entrevista publicada esta segunda-feira no jornal “Público”, o mais recente membro do episcopado português falou da «estima especial» que tem por Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner e Miguel Torga, bem como pelo não crente italiano Erri De Luca e por Etty Hillesum, judia holandesa que morreu no campo de concentração de Auschwitz.
«Estes saem naturalmente, são fruto da leitura. Sempre aprendi que a nossa fonte é a leitura. Ler e aprender, venha de onde vier a verdade, porque as sementes do verbo estão para além da Igreja. Deus não é prisioneiro da Igreja nem dos sacramentos», refere D. José Cordeiro, que com 44 anos é o mais novo dos bispos de Portugal também em idade.
Miguel Torga escreveu «Andei toda a vida a negar Deus mas nunca o pude esquecer», frase que o bispo comenta assim: «Trata-se de ver quais são as sementes do evangelho que estão nos nossos autores, que são buscadores da verdade».
Em Roma, onde dirigiu o Colégio Pontifício Português, D. José Cordeiro ia ao cinema e tornou-se apreciador da cinematografia italiana: «Fui ver ‘Habemus Papam’, filme sobre a eleição papal realizado por Nanni Moretti, que preza.
«Gostei, ri-me. Ridicularizava a parte do conclave em si mas traz muitas interrogações», assinala, sublinhando que aprecia o «cinema de mais reflexão»: «Pasolini, Felini, são autores que provocam. Alguns pegaram mesmo em temáticas bíblicas e teológicas».
Na música elege os compositores Bach e Palestrina e os contemporâneos Marco Frisina e Arvo Pärt, e em relação a intérpretes portugueses fala de Kátia Guerreiro, Mafalda Arnauth e Teresa Salgueiro.
Rui Jorge Martins
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24.10.11
D. José Cordeiro