Vaticano
A Cultura e o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização
A palavra “cultura” ou termos que nela têm origem são citados 58 vezes na tradução portuguesa do documento que serve de base aos trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre o tema “A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã”, que o papa Bento XVI abriu este domingo no Vaticano.
Com o intuito de facilitar a preparação específica da assembleia, que se prolonga até 28 de outubro, foram elaborados os Lineamenta. Aos Lineamenta e aos questionários responderam as Conferências Episcopais, os Sínodos dos Bispos das Igrejas Católicas Orientais, os Dicastérios da Cúria Romana e da União dos Superiores Gerais. Acrescem também as observações de Bispos, sacerdotes, membros de institutos de vida consagrada, leigos, associações e movimentos eclesiais. A síntese foi reunida no denominado Instrumentum Laboris (instrumento de trabalho).
«Ter a coragem de trazer a questão de Deus para este mundo; ter a coragem de dar novamente qualidade e motivos à fé de muitas das nossas Igrejas de antiga fundação, é esta a tarefa específica da nova evangelização», lê-se num dos números da síntese, de que apresentamos algumas passagens.
A presença portuguesa no sínodo é assegurada pelo bispo do Porto e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, e pelo bispo de Lamego e presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, D. António Couto.
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O Sínodo dos Bispos, instância de aconselhamento do papa, é constituído por prelados de diversas regiões do globo (estavam 262 esta segunda-feira), na maioria eleitos pelas Conferências Episcopais, a que se juntam peritos.
Pertence ao papa convocá-lo, suspendê-lo ou dissolvê-lo, presidir por si ou por delegado, determinar a sua composição e propor os temas a tratar.
A agenda do sínodo prevê intervenções livres dos bispos e o pronunciamento sobre a redação das proposições, que são entregues ao papa. Este, por sua vez, depois de terminada a assembleia, redige uma “exortação apostólica pós-sinodal” com a ajuda de colaboradores.
Cultura e desafios à Igreja: excertos do documento de trabalho do Sínodo dos Bispos sobre "A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã"
A missão recebida dos Apóstolos de ir e fazer discípulos em todos os povos, batizando-os e formando-os para o testemunho (cf. Mt 28, 19-20); a missão que a Igreja cumpriu e à qual permaneceu fiel ao longo dos séculos, é chamada hoje a confrontar-se com as transformações sociais e culturais que estão a modificar profundamente a perceção que o homem tem de si e do mundo, gerando repercussões também sobre o seu modo de acreditar em Deus. (6)
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O resultado de todas estas transformações é a difusão de uma desorientação que se traduz em formas de desconfiança relativamente a tudo quanto nos foi transmitido acerca do sentido da vida e numa relutância para aderir total e incondicionalmente àquilo que nos foi dado como revelação da verdade profunda do nosso ser. É o fenómeno do distanciamento da fé que progressivamente se manifesta nas sociedades e nas culturas que desde há muito apareciam impregnadas pelo Evangelho.
Considerada cada vez mais como um elemento da esfera íntima e individual das pessoas, a fé tornou-se também uma condição para muitos cristãos que continuaram a preocupar-se com as justas consequências sociais, culturais e políticas da pregação do Evangelho, mas que não foram suficientemente trabalhados para manter viva a sua fé e das suas comunidades; fé que, como uma chama invisível com a sua caridade, alimentava e dava força a todas as outras ações da vida. Assim procedendo, o risco de uma fé enfraquecida, e com ela o perigo de se esmorecer a capacidade de dar testemunho do Evangelho, tornou-se infelizmente uma realidade em muitas nações onde a fé cristã contribuiu ao longo dos séculos para a edificação da cultura e da sociedade. (7)
Para Jesus, a evangelização assume a missão de atrair os homens para a sua íntima relação com o Pai e o Espírito. É este o sentido último da sua pregação e dos seus milagres: o anúncio de uma salvação que manifestando-se, através de ações concretas de cura, não pode coincidir com uma vontade de transformação social ou cultural, mas é a experiência profunda concedida a todo homem de se sentir amado por Deus e de aprender a reconhecê-Lo no rosto de um Pai amoroso e cheio de compaixão (cf. Lc 15). (23)
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O Concílio Vaticano II recorda que «as comunidades em que a Igreja vive, não raras vezes e por variadas causas mudam radicalmente, de maneira a poderem daí advir condições de todo novas». Com olhar clarividente, os Padres conciliares viram no horizonte a mudança cultural que hoje facilmente se constata. Precisamente esta mudança de situação, que criou uma condição inesperada para os crentes, exige uma particular atenção ao anúncio do Evangelho, para dar razão da nossa fé numa situação que, relativamente ao passado, apresenta muitos traços de novidade e de problematicidade. (42)
As transformações sociais a que temos assistido nos últimos decénios têm causas complexas, com raízes profundas desde há muito tempo e que modificaram profundamente a perceção do nosso mundo. O lado positivo destas transformações está à vista de todos, valorizado como um bem inestimável, que permitiu o desenvolvimento da cultura e o crescimento do homem em muitos campos do saber. Todavia, estas transformações desencadearam processos de revisão e de crítica dos valores e de alguns fundamentos do viver comum que têm afetado profundamente a fé das pessoas. (43)
É necessário que as comunidades cristãs, marcadas pelos influxos que as atuais fortes mudanças sociais e culturais estão a exercer nelas, encontrem as energias e os caminhos para se voltarem a ancorar de modo sólido na presença do Ressuscitado que as anima a partir de dentro. (46)
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Após o confluir de fatores sociais e culturais – que convencionalmente se designam com o termo “globalização” –, tiveram início processos de enfraquecimento das tradições e das instituições. Eles eliminaram rapidamente os laços sociais e culturais, a sua capacidade de comunicar valores e de dar respostas às perguntas do sentido e da verdade. O resultado é uma notável perda de unidade da cultura e da sua capacidade de aderir à fé e de viver com os valores por ela inspirados. (47)
Os sinais deste contexto sobre a experiência de fé e sobre as formas de vida eclesial foram descritos em modo muito semelhante em todas as respostas: debilidade da vida de fé das comunidades cristãs, redução do reconhecimento da autoridade do magistério, privatização da pertença à Igreja, diminuição da prática religiosa, desempenho na transmissão da própria fé às novas gerações. Estes sinais, redigidos em modo quase unânime pelos vários episcopados, mostram que é toda a Igreja que se deve avaliar neste ambiente cultural. (48)
Neste quadro, a nova evangelização quer ressoar como um apelo, como uma pergunta da Igreja a si mesma, para que concentre as próprias energias espirituais e se empenhe neste novo ambiente cultural para ser propositiva: reconhecendo também o bem que existe dentro destes novos cenários, dando nova vitalidade à própria fé e ao seu empenho evangelizador.
O adjetivo “nova” refere-se à transformação do contexto cultural e remete para a necessidade da Igreja recuperar as energias, a vontade, a frescura e o engenho no seu modo de viver a fé e de a transmitir.
As respostas recebidas mostraram que este apelo foi recebido de diferentes modos nas várias realidades eclesiais, mas o sentimento geral é de preocupação. Elas dão a impressão que muitas comunidades cristãs ainda não perceberam plenamente o alcance do desafio e a natureza da crise gerado por este ambiente cultural também no interior da Igreja.
A este respeito, espera-se que o debate sinodal ajude a tomar consciência de modo maduro e aprofundado da seriedade deste desafio com que nos estamos a avaliar. Mais profundamente se espera que continue a reflexão sinodal sobre o fenómeno da secularização, sobre os influxos positivos e negativos exercidos sobre o cristianismo, sobre os desafios que coloca à fé cristã. (49)
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Sinal de esperança e dom do Espírito Santo é para muitas Igrejas a presença de forças de renovamento. Trata-se de comunidades cristãs, mais especificamente de grupos religiosos e de movimentos, em muitos casos de instituições teológicas e culturais, que mostram com a sua ação a possibilidade real de viver a fé cristã com o seu anúncio também no interior desta cultura. Para estas experiências, aos tantos jovens que as animam com a sua frescura e o seu entusiasmo, as Igrejas particulares olham com reconhecimento e com atenção. (50)
Radicada de modo particular no mundo ocidental, a secularização é fruto de episódios e movimentos sociais e de pensamento que marcaram em profundidade a história e a identidade. Ela apresenta-se hoje nas nossas culturas através da imagem positiva da libertação, da possibilidade de imaginar a vida do mundo e da humanidade sem referência à transcendência. Nos últimos anos não se verifica tanto a forma pública dos discursos diretos e agressivos contra Deus, a religião e o cristianismo, embora, em alguns momentos, esta tonalidade anticristã, antirreligiosa e anticlerical também se tenha feito sentir recentemente. Como testemunham muitas respostas, ela assumiu um tom bem mais débil que permitiu a esta forma cultural de invadir a vida quotidiana das pessoas e de desenvolver uma mentalidade em que Deus está verdadeiramente ausente, em tudo ou em parte, e a sua própria existência depende da consciência humana. (52)
Este tom de demissão, e por isso mais atrativo e sedutor, permitiu à secularização entrar também nada vida dos cristãos e das comunidades eclesiais, tornando-se não apenas um perigo externo para os crentes mas um terreno de confronto quotidiano. As características do modo secularizado de entender a vida confirmam o comportamento habitual de muitos cristãos. A “morte de Deus” anunciada nos decénios passados por tantos intelectuais deu lugar a uma estéril mentalidade hedonista e consumista, que conduz a formas muito superficiais de afrontar a vida e as responsabilidades. O risco de perder também os elementos fundamentais da fé é real. O influxo deste clima secularizado no quotidiano torna sempre mais difícil a afirmação da existência de uma verdade. Assiste-se a uma recusa prática da questão de Deus nas perguntas que o ser humano se coloca. As respostas à necessidade religiosa assumem formas de espiritualidade individualista ou formas de neopaganismo, ao ponto de se impor um ambiente geral de relativismo. (53)
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Este risco não deve, porém, fazer perder de vista aquilo que de positivo o cristianismo aprendeu do confronto com a secularização. O seculum em que convivem crentes e não crentes apresenta qualquer coisa que os une: o humano. Precisamente este elemento do humano, que é a referência natural da fé, pode tornar-se o lugar privilegiado da evangelização. É na humanidade plena de Jesus de Nazaret que habita a plenitude da divindade (Cf. Col 2,9). Purificando o humano a partir da humanidade de Jesus de Nazaret os cristãos podem encontrar-se com os homens secularizados mas que, todavia, continuam a interrogar-se sobre aquilo que é humanamente sério e verdadeiro. O confronto com estes que procuram a verdade ajuda os cristãos a purificar e a maturar a sua fé. A luta interior destas pessoas que procuram a verdade, embora não tendo ainda o dom de acreditar, é seguramente um estímulo para que nos empenhemos no testemunho e na vida de fé, a fim de que a verdadeira imagem de Deus se torne acessível a todo o homem. A este respeito emerge das respostas o grande interesse suscitado pelo “Átrio dos gentios”. (54)
A par deste primeiro cenário cultural, foi indicado um segundo, mais social: o grande fenómeno migratório que leva cada vez mais as pessoas a deixar os seus países de origem e a viver em contextos urbanizados. Daí deriva um encontro e uma mistura de culturas. Estão a surgir formas de erosão das referências fundamentais da vida, dos valores e das próprias relações através dos quais os indivíduos estruturam as suas identidades e acedem ao sentido da vida. Ligada à difusão da secularização, o êxito cultural destes processos é um clima de estrema mobilidade, dentro do qual diminui o espaço para as grandes tradições, inclusive religiosas. A este cenário social está ligado o chamado fenómeno da globalização, realidade de não fácil explicação, que exige aos cristãos um enorme trabalho de discernimento. Pode ser lida como um fenómeno negativo, se desta realidade prevalece uma interpretação determinística, ligada somente à dimensão económica e produtiva. Pode, porém, ser lida como um momento de crescimento, em que a humanidade aprende a desenvolver novas formas solidárias e novas vias para partilhar o crescimento de todos no bem. (55)
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As respostas referem a convicção generalizada que as novas tecnologias digitais deram origem a um verdadeiro e próprio espaço social, cujos laços são capazes de influir sobre a sociedade e sobre a cultura. Atuando na vida das pessoas, os processos mediáticos tornados possíveis por estas tecnologias chegam a transformar a própria realidade. Intervêm de modo incisivo na experiência das pessoas e permitem um alargamento das potencialidades humanas. Da influência que eles exercem depende a perceção de nós mesmos, dos outros e do mundo. Estas tecnologias e o espaço comunicativo por elas desenvolvido são, por isso, valorizados positivamente, sem preconceitos, como meios, embora com um olhar crítico e um uso sábio e responsável. (60)
[O recurso aos novos meios de comunicação] acarreta, de facto, consigo indubitáveis benefícios: maior acesso às informações, maior possibilidade de conhecimento, de troca, de novas formas de solidariedade, de capacidade promover uma cultura cada vez mais à escala mundial, tornando os valores e os melhores desenvolvimentos do pensamento e da atividade humana um património de todos.
Estas potencialidades não eliminam, porém, os riscos que a difusão excessiva de uma semelhante cultura já está a gerar. Manifesta-se uma profunda atenção egocêntrica às necessidades individuais. Afirma-se uma exaltação emotiva das relações e dos laços sociais. Assiste-se ao debilitamento e à perda do valor objetivo das experiências profundamente humanas, tais como a reflexão e o silêncio; observa-se uma excessiva afirmação do pensamento individual. Reduz-se progressivamente a ética e a política a instrumentos de espetáculo. A situação extrema a que podem conduzir estes riscos é à chamada cultura do efémero, do imediato, da aparência, ou uma sociedade privada de memória e de futuro. Num semelhante contexto, é pedido aos cristãos a audácia de frequentar estes “novos areópagos”, aprendendo a dar uma valorização evangélica, encontrando os instrumentos e os métodos para tornar audível também nestes lugares hodiernos o património educativo e de sapiência conservado pela tradição cristã. (62)
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As repostas (...) [permitem] também compreender de modo mais profundo o retorno do sentido religioso e a exigência multiforme de espiritualidade que marca muitas culturas e em particular as gerações mais jovens. De facto, se é verdade que o presente processo secularizador gera consequentemente em muitas pessoas uma atrofia espiritual e um vazio do coração, também é possível observar em muitas regiões do mundo os sinais de um consistente renascimento religioso. A própria Igreja católica é afetada por este fenómeno, que oferece recursos e ocasiões de evangelização inesperadas desde há alguns decénios. (63)
Vemos que o espaço geográfico onde se desenvolve a nova evangelização refere-se primariamente, sem ser exclusivo, ao Ocidente cristão. Do mesmo modo, os destinatários da nova evangelização estão suficientemente identificados: trata-se daqueles batizados das nossas comunidades que vivem uma nova situação existencial e cultural, na qual a sua fé e o seu testemunho estão comprometidos. A nova evangelização consiste em imaginar situações, espaços de vida, ações pastorais que permitam a estas pessoas saírem do “deserto interior”, imagem utilizada pelo Papa Bento XVI para representar a atual condição humana, refém de um mundo que praticamente eliminou a questão de Deus do próprio horizonte. Ter a coragem de trazer a questão de Deus para este mundo; ter a coragem de dar novamente qualidade e motivos à fé de muitas das nossas Igrejas de antiga fundação, é esta a tarefa específica da nova evangelização. (86)
As novas metrópoles que estão a surgir e a crescer rapidamente, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento, são um grande desafio social e cultural e, seguramente, um terreno propício para a nova evangelização. (...) De um modo mais abrangente, todas as comunidades cristãs têm necessidade de uma nova evangelização, porque estão empenhadas no exercício de uma cura pastoral que parece cada vez mais difícil de gerir e que corre o risco de transformar-se numa atividade repetitiva, pouco capaz de comunicar as razões pelas quais nasceu. (89)
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É preciso conceber a evangelização como o processo, através do qual, a Igreja, animada pelo Espírito, anuncia e difunde o Evangelho em todo o mundo; animada pela caridade, permeia e transforma toda a ordem temporal, assumindo e renovando as culturas. Proclama explicitamente o Evangelho, chamando à conversão. (92)
Das respostas recebidas, é possível redigir (…) um elenco dos obstáculos que, vindos de fora da vida cristã, em particular na cultura, tornam a vida de fé, e a sua transmissão, precária e difícil: o consumismo e o hedonismo; o niilismo cultural; o fechamento à transcendência que elimina qualquer necessidade de salvação. (95)
É percetível que a transmissão da fé, não obstante os copiosos esforços, depara-se com vários obstáculos, sobretudo nas transformações céleres por parte da cultura, a qual se tornou mais agressiva em relação à fé cristã. (103)
O Sínodo interrogar-se-á sobre o modo de realizar uma catequese que seja integral, orgânica, que transmita fielmente o núcleo da fé e, ao mesmo tempo, saiba falar aos homens de hoje, nas suas culturas, escutando as suas questões, animando a sua procura da verdade, do bem e da beleza. (104)
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Aos fiéis leigos toca, em particular, testemunhar o modo como a fé cristã constitui uma resposta aos problemas existenciais que a vida coloca em cada tempo e em cada cultura e que, por isso, interessa a todo o ser humano, mesmo agnóstico ou não crente. Isto será possível se se superar o fosso entre o Evangelho e a vida, reconstruindo na quotidiana atividade da família, do trabalho e da sociedade a unidade de uma vida que encontra no Evangelho a inspiração e a força para realizar-se em plenitude. (118)
Constata-se que diversos setores da cultura atual manifestam uma espécie de intolerância no confronto de tudo aquilo que é apresentado como verdade, em contraposição ao conceito moderno de liberdade entendido como autonomia absoluta, que encontra no relativismo a única forma de pensamento adequada à convivência entre as diversidades culturais e religiosas. (126)
O mandamento de fazer discípulos em todos os povos e de os batizar deu origem, em diferentes épocas da história da Igreja, a práticas pastorais ditadas pela vontade de transmitir a fé e pela necessidade de anunciar o Evangelho com a linguagem dos homens, enraizadas nas suas culturas e no meio deles. (129)
O texto dos Lineamenta afirmava que o futuro rosto do cristianismo no mundo, sobretudo no Ocidente, dependerá do modo como a Igreja souber gerir a revisão em ato das suas práticas batismais e da capacidade da fé cristã de falar às culturas hodiernas. As respostas recebidas revelam uma Igreja muito comprometida com este exame, que alcançou algumas certezas, mas que, sobre muitas questões, demonstra ainda sinais de um trabalho inacabado, de um itinerário não bem projetado até ao fim. (131)
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É (...) motivo de preocupação: constatar que não é fácil entrar na praça pública da investigação e do desenvolvimento do conhecimento das diferentes culturas. Na verdade, tem-se a impressão que a razão cristã tem dificuldades em encontrar interlocutores nesses ambientes que, nos nossos dias, detêm as energias e o poder no mundo da investigação, sobretudo no campo tecnológico e económico. Esta situação é, por isso, lida como um desafio para a Igreja e, portanto, um campo de particular atenção para a nova evangelização. (155)
Nova evangelização não significa um “novo Evangelho”, porque “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos” (Heb 13, 8). Nova evangelização significa dar resposta adequada aos sinais dos tempos, às necessidades dos homens e dos povos de hoje, aos novos cenários que mostram a cultura por meio da qual exprimimos a nossa identidade e procuramos o sentido da nossa existência. Nova evangelização significa, por isso, promoção de uma cultura mais profundamente radicada no Evangelho. (164)
Olhemos para a nova evangelização com entusiasmo. Aprendamos a doce e confortante alegria de evangelizar, mesmo quando parece que o anúncio é uma semente nas lágrimas (cf. Sl 126, 6). Ao mundo que procura respostas às grandes questões sobre o sentido da vida e da verdade, que lhe seja possível viver com renovada surpresa a alegria de encontrar testemunhas do Evangelho que, com a simplicidade e a credibilidade da sua vida, sabem mostrar o poder transfigurador da fé cristã. (169)
Rui Jorge Martins
Fotos: Missa em que foi aberto o Sínodo dos Bispos
© SNPC |
08.10.12